Cotidiano

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Chico acordou, sentou na cama e olhou para Caetano dormindo tranquilo ao seu lado, achou melhor não acorda-lo. Apenas fez um cafuné nele e deixou um beijo em seus cabelos. O que fez Caetano balbuciar algo que Chico não compreendeu.

"Bom dia pra você também, meu bem." - Chico disse antes de se levantar.

Chico mal teve tempo de vestir algo quando ouviu a campainha. Ele terminou de se vestir rápido e foi atender. Era Zuzu Angel, uma velha amiga, ela constantemente aparecia para conversar, principalmente sobre seu filho desaparecido pela ditadura. Sempre trazia algum presente para Silvinha. Era difícil ver o sofrimento daquela mulher, sempre em busca de justiça em um regime como aquele.

Chico a convidou para entrar e eles ficaram conversando na sala por um bom tempo. Isso era mais comum quando era casado com Marieta, e as conversas fluíam melhor com ela. Mas a essa altura não era mais uma novidade para ninguém que ele e Marieta estavam separados.

"Chico, amor..." - Uma voz sonolenta interrompeu eles. Caetano entra na sala, esfregava os olhos. - "Onde voc-"

Caetano paralisa ao ver que não estavam sozinhos. Os dois coraram um pouco. Caetano morrendo de vergonha por estar apenas com um short curto branco.

"Hmm... eu não sabia que você estava com visita." - Caetano disse constrangido e muito desconfortável com a situação.

"Tudo bem, Caê. Zuzu é uma amiga." - Chico não sabia para onde olhar, meio envergonhado também. - "Zuzu, esse é..."

"Eu sei... Caetano." - Ela olhava surpresa para os dois, mas divertida com a situação, riu um pouquinho. - "Eu tenho que admitir, tô um pouco surpresa! Não imaginava que você e Caetano Veloso tinham um..."

"Namorado." - Chico completou instantaneamente. Caetano nunca foi apenas um caso. - "Ele é meu namorado."

Era a primeira vez que dizia isso assim para alguém. Foi uma sensação estranha, mas boa ao mesmo tempo.

"É um prazer te conhecer." - Caetano estendeu a mão para cumprimentá-la, ainda estava muito tímido. - "Se vocês me dão licença..."

Caetano sorriu e voltou para o quarto, em busca de algo mais apresentável para vestir.

"Eh..." - Chico não sabia bem o que dizer.

"Não precisa ficar sem jeito, Chico. Eu só tô surpresa que é Caetano." - A mulher sorriu, era mais velha, mas isso não diminuía sua beleza. Era um sorriso cansado, mas ainda assim generoso. - "Na verdade, faz um pouco de sentido."

"Como assim?"

"As músicas, seu posicionamento político... tudo. Imagino como deve ter sido difícil pra você quando prenderam Caetano. E mesmo agora, viver esse amor, dado as circunstâncias..."

"É... eu nunca pensei assim."

"Mas parece que Caetano te faz bem. Dá pra ver no seu rosto."

"Ele faz..." - Chico sorriu. - "Muito bem."

"Eu não vou te incomodar mais." - Ela se levantou. - "Vou deixar vocês às sós."

"Você não incomoda. Fique mais."

"Não, obrigado, Chico. Eu tenho mesmo que ir." - Ela deu um beijo rápido no rosto de Chico e pegou sua bolsa. - "Até mais."

"Até..." - Chico se despediu e correu para abrir a porta para ela.

Quando ela foi embora, Chico voltou para o sofá se sentou e suspirou. Ainda estava um pouco com sono. Queria voltar a dormir, mas Caetano voltou à sala. Vestia uma camisa azul clara de Chico, com o mesmo short de antes. As mangas sobravam um pouco, porque a camisa era grande para ele. Chico sorriu ao ver ele.

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