Agosto de 1969
Caetano se viu naquela cela escura de novo. De repente, alguém entra. Caetano não conseguiu olhar para pessoa direito, antes de ter seu rosto tapado e ser guiado para fora. Como num passe de mágica ele estava em outra sala. Caetano ouviu passos, quando olhou na direção do som, viu dois militares trazendo outro homem de rosto tapado.
Guiaram ele para uma cadeira na frente de Caetano. Por que não conseguia distinguir o rosto de nenhum deles? Tudo parecia um borrão.
Até que destamparam o rosto do homem na sua frente, e ele pôde ver claramente.
Era Chico.
Então Caetano acordou.
Ele respirava pesado, seu coração mais acelerado do que nunca. Caetano olha em volta, assustado e suando frio, percebe que estava na sala de casa. Seu coração batia tão rápido que doía. Ele se sentou, tentando se acalmar e respirar. Era só mais um pesadelo.
"Droga..." - Caetano suspira, segurando a cabeça nas mãos.
Quando pensou que as coisas começariam a melhorar, aqueles pesadelos voltam para atormenta-lo. Talvez Dedé tivesse razão quando disse que ele estava deprimido por causa do exílio. Claro, ele tinha sido expulso de seu próprio país, sem o menor motivo, sem saber se um dia poderia voltar. Sentia falta do Brasil, da família e dos amigos. Para não falar de uma pessoa em especial. Sua vida toda estava naquele país que não tinha sido nada gentil com ele.
Ele se sentou direito no sofá da sala, deixando de lado o livro que lia antes de pegar no sono. Dedé tinha saído com Sandra, e Gil estava no estúdio, finalizando seu último disco. Caetano podia ter saído com um deles, pelo menos para se distrair de tudo o que estava acontecendo em sua vida ultimamente, mas ele achou que não seria uma boa companhia para ninguém no momento.
A verdade é que só conseguia pensar em Chico, todas aquelas lembranças que tinha dele se repetiam de novo e de novo em sua mente. Aquele primeiro beijo na praia. A noite que tiveram juntos. E então o resto era história. Uma história que não tinha tido um final feliz.
Caetano pensou no quanto tinha reprimido aqueles sentimentos, porque ele sabia que os dois nunca poderiam ser mais do que um caso. Mas todas as vezes que Chico veio até ele, todo o carinho em seus olhos, lhe dando esperanças que ficaria do seu lado para sempre.
Caetano se viu completamente dele, e tinha tanta expectativa que fosse recíproco. Porém o tempo mostrou que ele estava errado. Chico não confiou nele. Chico partiu, e o que se seguiram depois foram os piores dias da sua vida. A vaia no Festival Internacional da Canção, a prisão, o exílio em Londres, e em nenhum momento Chico esteve lá para ele. Tudo que lhe prometeu...
Caetano sabia que deveria sentir raiva, mas ele não conseguia, e não queria, não depois de todos os momentos que tiveram juntos. Ele ainda amava e desejava Chico como antes. Tudo que podia sentir por Chico era saudade. Saudade dos seus beijos, do seu abraço, do azul de seus olhos.
Chico não teve culpa, ele não sabia o que aconteceria. A culpa era de Caetano por acreditar em uma chance. Por acreditar que ele e Chico poderia funcionar, que mesmo com tudo contra eles, um dia as coisas melhorariam.
Uma risada quase amarga escapa dos lábios de Caetano.
Ele era muito jovem naquela época, muito ingênuo. Não podia imaginar tudo o que aconteceria.
*
Chico parou em frente a casa que, pelo endereço que Nara tinha lhe passado, era para ser a que Caetano e Gil estavam morando. Chico olhou nervoso para o papel com a caligrafia de Nara e então para a casa de novo, conferindo o endereço. Só podia ser ali, mas Chico estava tão tenso que hesitou em bater.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor mais que discreto
Fiksi Penggemar"Mas pode dispensar a fantasia O sonho em branco e preto Amor mais que discreto Que é já uma alegria" Caetano conhece Chico no Festival de MPB de 1967, logo essa amizade se desenvolve em algo mais. Entretanto, que futuro poderia ter o relacionamento...