Fica

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Se passaram dois dias, eles não tiveram mais conversas sérias como aquelas sobre voltar. Pelo menos não até aquele dia. Caetano saiu do banho, de roupão, ele terminava de enxugar os cabelos com a toalha que Chico tinha pegado para ele mais cedo.

Chico estava sentado na cama, encostado contra a cabeceira, apenas de calção. Caetano percebeu que ele olhava contra a luz um rolo de negativos, com um cigarro entre os dedos como sempre.

"O que tem aí?" - Caetano se aproximou, sentando ao lado dele.

"Nossas fotos."

Caetano pegou da mão dele, fazendo o mesmo para enxergar um pouco das fotos contra a luz.

"Gostei dessa! Fiquei lindo nela!"

"E muito modesto como sempre." - Chico riu.

"Modesto não é uma palavra que combina comigo, querido." - Caetano sorriu, devolvendo os negativos para Chico. - "Não esquece que eu quero uma cópia."

Caetano aproximou, roçou os lábios contra o lóbulo da orelha de Chico.

"Quando eu conseguir revelar as fotos, eu te mando."

Caetano se afastou, seu sorriso diminuiu lentamente. Só tinha prestado atenção no que estava subentendido naquela frase.

"Manda?" - Sua expressão era um pouco triste agora. - "Você já tá pensando em voltar?"

"Caê, eu já tô há muito tempo aqui." - A voz de Chico não soou menos triste que a de Caetano. - "Em algum momento eu tenho que ir embora."

"Eu sei... eu só pensei que você pudesse ficar um pouco mais." - Caetano tentava digerir a ideia de que Londres voltaria a ser um lugar solitário sem Chico ao seu lado. - "Bom, pelo menos Roma não é tão longe daqui. Você pode voltar algum dia, ou eu posso ir pra Itália..."

Caetano parou, não gostou do olhar melancólico de Chico quando segurou sua mão.

"Eu tô pensando em voltar pro Brasil depois."

"Não, Chico, isso não!" - Havia algo perto de pânico nos olhos de Caetano. - "Ainda é cedo demais pra isso."

"Eu preciso... eu tenho alguns trabalhos por lá e talvez..."

"Ah, Chico, não me diga que é isso..." - Caetano se levantou de uma só vez.

Chico fez o mesmo e segurou o braço de Caetano para que ele olhasse em seu rosto.

"Não! Não é! Escuta, se eu for antes, quem sabe um dia, dependendo de como as coisas estiverem por lá, você não possa voltar também?"- Chico olhou sério para ele, na tentativa de convencê-lo. - "Vamos, Caê, eu sei que você não tá feliz aqui."

"Não." - Caetano balançou a cabeça. - "Eu quero voltar, mas não assim! Não colocando você em risco!"

"Não vai acontecer nada. Eles não me exilaram realmente, fui eu que escolhi não voltar. E Vinicius disse que se eu voltasse fazendo barulho eles não teriam coragem de nada. Confia em mim. Vai dar tudo certo."

"Você sabe que eu confio." - Os olhos de Caetano começaram a ficar marejados agora. - "Eu só não quero que aconteça algo com você!"

"Não vai acontecer nada. Eu prometo." - Chico segurou o rosto de Caetano, fazendo os olhos úmidos dele encontrarem os seus.

"Você sabe que não pode prometer isso, Chico!"

O silêncio pairou entre eles, Chico sabia que Caetano tinha razão, eles não podiam ter certeza do que aconteceria. O único jeito de saber é se ele fosse para o Brasil.

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