Amor mais que discreto

Sobre Todas As Coisas

Caetano e Gil tinham passado a manhã inteira no estúdio, trabalhando nos discos deles. Mas em dado momento, quando Caetano gravava uma das músicas, Gil percebeu seu olhar fugir para algo atrás dele e seu rosto se iluminar de repente. Gil olhou para trás e viu simplesmente Chico entrando pela porta.

Gil olha para Caetano com as sobrancelhas levantadas, mas sua confusão aumenta quando não vê nenhuma surpresa no rosto dele.

"Espera..." - Gil franziu a testa, olhando entre os dois como alguém que tinha perdido um capítulo da história. - "Vocês estão... Desde quando? Como?"

Caetano apenas riu da confusão do amigo, cruzando o espaço entre eles para abraçar Chico.

"Eu sabia que essa sua alegria toda tinha nome e sobrenome." - Gil disse, vendo Caetano deixar um beijo no rosto de Chico. Pelo visto, eles tinham se reconciliado muito bem.

Chico, meio desconfortável, olhou para Gil.

"Olha, Gil, eu queria me desculpar por ter pensado aquelas..."

"Esquece, tá tudo bem, Chico." - Gil fez um gesto no ar com a mão, que dizia algo como 'deixa pra lá'. - "Águas passadas, né."

Caetano sorriu e puxou Chico pela mão.

"Vem, eu quero te mostrar algumas músicas que já estão prontas."

Gil riu de como o amigo parecia animado.

                                         *

Gil tinha saído para buscar um café e eles estavam sozinhos no estúdio agora, sentados um do lado do outro.

"Então... O que achou?" - Caetano perguntou, orgulhoso de como o disco estava ficando.

"Eu adorei, de verdade!" - Chico sorriu. - "Como qualquer coisa que você canta."

"Hmm..." - Caetano levantou, serrando os olhos e se inclinando para Chico. - "Você é suspeitíssimo pra falar."

"Talvez..." - Chico riu. - "Mas eu não ia mentir pra você."

"Sabe o que eu tava pensando..." - Caetano aproximou para passar os dedos pelos cabelos de Chico. - "Quando voltássemos, a gente podia fazer um show juntos. Sabe, pra acabar com toda essa suposta rivalidade boba de tropicalismo e tal... O que acha?"

Chico deu um sorriso meio triste. Caetano tinha falado muito sobre voltar. Isso podia demorar muito, e tinha medo que ele se decepcionasse. Talvez o Brasil que Caetano sentia falta não fosse o mesmo agora, muita coisa havia mudado desde do AI-5.

"Chico... Ouviu o que eu disse?" - Caetano riu, vendo que tinha tirado ele de seus pensamentos. - "Tá com a cabeça onde?"

"Claro que ouvi." - Chico sorriu, tentando ignorar todos aqueles pensamentos ruins. - "Só tava pensando no quanto eu tô feliz de estar aqui com você."

Chico puxou ele para seu colo e Caetano riu, se sentando de lado para olhá-lo.

"E sobre o show juntos, eu acho que vai ser a primeira vez que vou me sentir confortável em um palco." - Chico completou.

"Que exagero." - Caetano sorriu, tocando o rosto dele e puxando para um selinho. - "Você diz isso, mas sempre é perfeito."

"Então, o problema é que você também é muito suspeito pra falar." - Chico disse, repetindo a fala de antes de Caetano, o que fez os dois rirem.

"Mas por falar em palco... Eu soube que você só faltou botar aquele teatro abaixo no último festival." - Chico sorriu, acariciando a coxa de Caetano.

"Ah sim, foi uma vaia de dar inveja. Você tinha que estar lá pra ver." - Caetano riu, mas meio sem graça. Tinham falado muito sobre seu discurso no festival, mas não deixava de ser um momento ruim para ele.