O tempo estava passando rápido, já fazia mais de uma semana que Chico estava em Londres. Havia um parque não tão longe do hotel. Caetano se sentou na grama mesmo, fazia um cafuné em Chico, deitado com a cabeça apoiada seu colo.
"Isso é bom." - Chico disse, quase fechando os olhos, mas não por sono.
"O quê? O cafuné ou estar aqui?" - Caetano sorriu.
"Os dois."
"Tô tão feliz desde que você veio." - Caetano se inclinou para deixar um beijo nos cabelos de Chico. - "Sabe... estar aqui com você é completamente diferente."
"Talvez a gente devesse ficar aqui, pra sempre." - Chico finalmente teve coragem para dizer o que já pensava a muito tempo. - "Sem mais mentiras, sem medo..."
"Eh, talvez fosse melhor assim..." - Caetano continuou passando os dedos pelo cabelo de Chico, não pensou que ele estivesse mesmo falando sério. - "Mas nós dois sabemos que nunca conseguiríamos fazer isso."
"Por quê?" - Chico franziu a testa.
"Ah, cê sabe... porque nosso lugar é lá."
Caetano pensava que, apesar de tudo, eles estavam ligados aquele lugar, ao Brasil, quase como se fizesse parte de quem eles eram. Além do mais, havia sua carreira, não era um mero capricho seu, Caetano amava o que fazia. Amava cantar, amava estar no palco, ele precisava disso para viver. Assim como precisava de Chico do seu lado. Porém, eram duas paixões que aquele regime parecia tentar a todo custo afastar dele.
Chico levantou, se sentando com um olhar pensativo.
"O que foi?" - Caetano perguntou.
"Eu não concordo. Por que eu ia querer estar em um lugar onde nós não podemos ficar juntos?" - Chico olhou para ele. - "A gente praticamente foi expulso de lá, Caetano. E você ainda quer voltar?"
"Mas, Chico, a nossa vida toda tá no Brasil, todo mundo que a gente conhece..."
"Não, eu simplesmente não entendo você, Caetano. Nós podíamos ficar aqui, podíamos ter outra vida, completamente diferente, em paz, onde ninguém nós conhecesse. Mas você simplesmente não quer!" - Chico olhou perplexo.
"Eu não acredito que você considera isso uma possibilidade." - Caetano balançou a cabeça, não acreditava no que estava ouvindo. - "E o que nós faríamos? Continuaríamos só compondo aqui ou teríamos um emprego que odiaríamos em um lugar que não tem nada a ver com a gente?! É o que você queria, não é, Chico? Começar do zero, voltar ao anonimato e ter uma vida normal. Ou acha que não percebo como você se sente à vontade aqui onde ninguém faz ideia de quem você é?"
Caetano compreendia muito bem o pensamento de Chico. Não é ele não gostasse de cantar e compor, mas sempre achou a fama um preço lastimável.
"Não, não é o que eu queria!" - Os olhos de Chico começaram a ficar úmidos. Foi triste ver que Caetano não concordava com ele. - "Mas, por você, eu poderia me adaptar.
"Bem, me desculpa se não é isso que eu quero." - Caetano se sentiu mau por dizer aquilo. Quase egoísta, mas seus sentimentos também importavam, e ele não podia imaginar sua vida em Londres para sempre. Mesmo esses poucos meses tinham sido um desafio.
Com a fala de Caetano, o silêncio pairou entre eles. Chico se levantou de repente.
"Chico..." - Caetano também se levantou, na tentativa de toca-lo.
"Não, Caetano, isso tem a ver com você! Eu abriria mão de tudo pra ficar do seu lado." - Chico olhou para ele com raiva, tinha enxugado as lágrimas que começaram a se formar em seus olhos antes. - "Mas você, apesar de tudo, prefere sua fama! Prefere seu nome nos jornais, os seus shows..."
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Amor mais que discreto
Fiksi Penggemar"Mas pode dispensar a fantasia O sonho em branco e preto Amor mais que discreto Que é já uma alegria" Caetano conhece Chico no Festival de MPB de 1967, logo essa amizade se desenvolve em algo mais. Entretanto, que futuro poderia ter o relacionamento...