Meu Bem, Meu Mal

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É isso, quando Caetano chegasse, Chico pediria ele em namoro. Chico estava feliz, um pouco ansioso, mas feliz. O que poderia dar errado?

Porém, já tinha passado muito tempo e Caetano estava demorando. Sentada, Bethânia observava Chico andar de um lado para o outro no aeroporto.

"Não acha que tá demorando?" - Chico se virou para ela, que já não aguentava ver a inquietação dele.

"O voo só deve ter atrasado, Chico, acontece..." - Bethânia bocejou, Chico tinha passado bem cedo em sua casa para ter certeza que não perderiam a chegada de Caetano. - "Por que não senta e relaxa?"

Não menos ansioso, Chico faz o que ela disse, sentando na cadeira ao lado de Bethânia.

"Você tem certeza?"

Bethânia suspirou.

"Tá bem. Eu vou perguntar pra alguém sobre o voo dele." - Ela se levanta.

Quando volta depois de alguns minutos, Chico vê no rosto de Bethânia que não pareciam ser boas notícias.

"O que foi?"

"O voo chegou uma hora atrás."

"Como assim?" - Chico perguntou, confuso.

"Barraram Caetano no desembarque."

*

Caetano não acreditava que isso estava acontecendo de novo. Só podia ser outro de seus pesadelos. Ele tinha sido barrado no aeroporto por três militares à paisana, disseram que era só um interrogatório, mas também tinham dito isso da última vez. E agora ele estava sentado no banco de trás do carro deles, sem a mínima ideia de para onde estava sendo levado.

Caetano olhou pela janela do carro. Havia muitos cartazes ufanistas e de apoio à ditadura espalhados pela cidade. Adesivos como "Brasil: ame-o ou deixe-o" e até "Brasil: ame-o ou morra". Era indiscutível que a ditadura contava com algum apoio popular, caso contrário não teria durado dois meses. Doeu muito ver aquilo. Uma coisa era pensar que aquilo tudo era uma arbitrariedade de um maluco que estava no poder. Outra coisa era ver que tinha quem os apoiasse. Aquelas pessoas concordavam com o que tinham feito com ele? Ou apenas tinham medo do que lhes podia acontecer também?

Foi estranho. Caetano estava em casa de novo, mas não se sentia em casa.

O interrogatório durou algumas horas. Na maior parte do tempo ameaçavam Caetano. Inacreditavelmente, queriam que ele compôs-se uma música para o dia da bandeira. Caetano tentou argumentar que ficaria apenas duas semanas, torcendo para que aquilo fosse suficiente, porque jamais faria uma música para eles. Jamais. Muito menos depois do que tinham feito com ele. Mas é claro que Caetano não podia dizer assim.

*

"Eu não acredito que isso tá acontecendo de novo!" - Chico disse desesperado, quando chegaram na casa de Bethânia.

"A gente tem que ficar calmo, Chico. Provavelmente deve ser só um interrogatório." - Bethânia tocou o ombro dele, sabia que eles se desesperarem agora não ajudaria Caetano em nada.

"Como eu posso ficar calmo se levaram Caetano de novo, Bethânia?" - Chico segurou a cabeça nas mãos, estava quase em lágrimas, murmurando repetidamente para si mesmo "De novo, não! De novo, não!".

"Chico, olha pra mim!" - Bethânia segurou o rosto dele, tentando acalma-lo.

"Se algo acontecer..."

"Não vai acontecer nada! A gente tem que ficar calmo. Eu tenho certeza que daqui a pouco Caetano vai estar aqui."

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