Chico acordou na manhã seguinte, não tinha dormido quase nada por causa do que aconteceu na noite anterior. Ele se sentia péssimo por ter reagido daquele jeito e dito aquelas coisas para Caetano, mas aquele pânico estava além do controle dele.
Chico se sentou na cama e olhou para Caetano, que ainda dormia profundamente. Ficou feliz que, diferente dele, Caetano parecia estar dormindo muito bem. Chico deixou um beijo suave nos cabelos do namorado e levantou, foi para sacada e acendeu um cigarro.
Ele sabia que ficar fumando sem camisa na sacada da casa de Caetano, logo de manhãzinha, não era a coisa mais inteligente a se fazer, mas não ligou. O que aconteceu na noite anterior fez ele se sentir farto desse teatro. Lembrou dos olhos de Caetano quando gritou para ele ser mais discreto e do medo de perdê-lo depois disso. Tudo por coisas que nunca quis dizer, preconceitos que não eram seus. Talvez por medo? Pressão? Não importa o quanto fugisse disso, todo mundo é um pouco filho de sua época.
Chico suspirou, deixou o resto do cigarro queimar no cinzeiro ao lado. Olhou para Caetano, ainda deitado, ele era tudo que importava para Chico.
*
"Acorda, meu bem..." - Chico distribuiu beijos pelas costas e ombro de Caetano para que ele despertasse. Um sorriso se formou no rosto de Caetano, ainda sonolento.
"Hmm... é bom acordar assim." - Caetano finalmente levantou, sentando na cama e se espreguiçando. Então percebeu a bandeja com um generoso café da manhã na cama. - "Eu poderia me acostumar com você aqui todos os dias."
"Gostou?" - Chico inclinou e deu um selinho nele.
"Eu adorei!" - Caetano sorriu. - "Obrigado, amor."
"Dormiu bem?"
"Ótimo." - Caetano pegou a bandeja e começou a desfrutar de seu café da manhã.
"Fico feliz que você não tenha mais aqueles pesadelos." - Chico deu um sorriso pequeno.
"Mas e você?" - Caetano estendeu a mão para brincar com os cachos de Chico. - "Dormiu bem?"
Chico desviou o olhar e Caetano já sabia a resposta.
"Eu não dormi direito. Fiquei muito mal com o que aconteceu ontem."
"Chico... Eu já não disse pra esquecer isso?"
"Não queria ter te magoado daquela forma."
"Não foi culpa sua, Chico. Eu sei que você entrou em pânico porque se preocupa. Provavelmente eu teria feito o mesmo."
"Mas você não fez. Você sempre consegue lidar com essas coisas melhor do que eu."
"Nem sempre." - Caetano corrigiu e deixou a bandeja de lado. - "Vem cá!"
Caetano puxou Chico para um abraço.
"Desculpa por ontem." - Chico escondeu o rosto na curva do pescoço dele, sentia o perfume de Caetano.
"Não quero mais falar disso!" - Caetano empurra Chico na cama e sobe nele.
Chico riu, olhando para o rosto de Caetano.
"E você quer falar sobre o quê?" - Chico acaricia a coxa de Caetano.
"É sério..." - Caetano sorriu largo, afastando a mão boba de Chico. - "Eu não vou poder voltar pro Rio com você."
O sorriso no rosto de Chico foi rapidamente substituído por um misto de tristeza e preocupação.
"O quê? Por que não?" - Chico se sentou, deixando Caetano ainda em cima dele.
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Amor mais que discreto
أدب الهواة"Mas pode dispensar a fantasia O sonho em branco e preto Amor mais que discreto Que é já uma alegria" Caetano conhece Chico no Festival de MPB de 1967, logo essa amizade se desenvolve em algo mais. Entretanto, que futuro poderia ter o relacionamento...