Sentado na cama sem camisa, Chico recostou contra a cabeceira, apenas aproveitando o cigarro que tinha acabado de acender. Ele observou Caetano caminhar pelo quarto, vestindo apenas cueca e uma camisa desabotoada de Chico, a qual tinha ficado um pouco grande para ele. Caetano foi em direção a mesa, pegando a garrafa de vinho e despejando o resto em sua taça.
"Eu não perguntei, você veio sozinho?" - Caetano se sentou na cadeira, saboreando o vinho que tinham pedido mais cedo.
"Bem, sozinho não, Toquinho veio comigo."
"Vocês tem algum show aqui?"
"Não..." - Chico riu, dando mais uma tragada no cigarro. - "Eu só queria te ver mesmo."
"E como você conseguiu convencer ele a vir com você?" - Caetano sorriu, curioso.
"Então... Vamos dizer que eu não fui completamente sincero."
Caetano riu, sabia como Chico tinha mania de inventar histórias.
"Ele deve querer te matar"
"Não, na verdade ele não achou de tudo ruim."
Um pensamento passou pela mente de Caetano.
"Não me diga que ele pegou o quarto do lado."
"Sim..." - Chico franziu a testa, estranhando a pergunta. - "Por que?"
"Bem, vamos torcer pra que ele não tenha ouvido a gente mais cedo."
Caetano riu enquanto Chico corava horrivelmente, mas mesmo assim ele gostou de ouvir a risada dele. Tinha sentido saudade de tudo sobre Caetano.
Caetano deixou a taça na mesa e se dirigiu até Chico com um sorriso no rosto. Caetano subiu na cama e sentou no colo de Chico, as pernas de cada lado de seu corpo, olhando para ele. Caetano pegou o cigarro dos lábios de Chico e deu uma tragada antes de apagá-lo no cinzeiro da cômoda ao lado, quase inteiro ainda.
"Caetano não..." - Mas era tarde demais e Caetano olhava para ele com um sorriso. - "O que eu faço com você, hein?"
Caetano riu, seu sorriso começava a ficar leve por efeito do vinho, e se inclinou para deixar um beijo nos lábios de Chico.
"Isso paga?"
"Se me der outro, fica tudo certo." - Chico sorriu, antes que Caetano estivesse beijando ele de novo.
Mas então Caetano se afastou, sua feição um pouco menos alegre do que antes.
"Tava precisando tanto de você." - Caetano passou os braços em torno do pescoço de Chico. - "Você vai ficar quanto tempo?"
"Eu ainda não sei, Caê. Não posso ficar muito tempo."
Caetano já esperava por aquilo, mas não conseguiu esconder o olhar triste.
"Ei, não vamos pensar nisso agora." - Chico acariciou a perna de Caetano. - "Sabe que, por mim, eu ficaria aqui com você pra sempre."
Caetano sorriu, mas desviou o olhar, meio pensativo.
"Aquilo que você disse antes..." - Caetano voltou a olhar nos olhos de Chico. - "Você quis mesmo dizer?"
Chico sabia exatamente do que Caetano estava falando, talvez por um medo bobo, tinha levado tanto tempo para admitir que o amava.
"Claro que sim. Eu só me arrependo de não ter dito antes, talvez tudo tivesse sido diferente." - Chico estendeu a mão para acariciar o rosto de Caetano. - "Eu nunca deixei de te amar. Eu achei que fosse enlouquecer quando soube o que tinha acontecido."
"E por que demorou tanto pra dizer isso?" - Os olhos de Caetano começavam a ficar úmidos, não conseguindo esconder sua emoção.
"Acho que eu tava com medo. Medo dos meus sentimentos por você. Medo que você não sentisse o mesmo." - Chico suspirou. - "Eu queria que não precisasse ter acontecido isso tudo, pra perceber que o que eu mais tenho medo de verdade é de perder você, Caê."
Caetano não conseguiu impedir que seus olhos úmidos transbordassem. Tudo que tinha acontecido nos últimos meses, e agora Chico estava ali lhe dizendo todas aquelas palavras amáveis e olhando para ele com tanta ternura. Todas as lágrimas reprimidas naqueles dias tomaram conta de Caetano de uma só vez.
"Ah, Chico..." - As lágrimas escorriam pelo rosto de Caetano, ele não conseguia mais contê-las.
"Ei, não chora. Sabe que eu não aguento ver você assim, eu sinto vontade de chorar também." - Chico segurou o rosto de Caetano, enxugando suas lágrimas com os polegares. Ele o beijou ternamente, saboreando a doce salmoura nas bochechas e lábios molhados de Caetano. - "Eu não ia suportar pensar que eu te fiz sofrer de novo."
"Eu não tô sofrendo, Chico. Eu tô feliz, de um jeito que eu não tava há muito tempo." - Caetano enxugou o restante de suas lágrimas e sorriu, o rosto ainda vermelho por causa do choro. - "Idiota... Medo que eu não sentisse o mesmo? Não era óbvio? Acho que eu te amei desde a primeira vez que eu te vi naquele festival! Todo mundo deve ter percebido isso antes de você!"
"Desculpa." - Chico sorriu e puxou Caetano para um beijo.
Caetano empurrou ele para deitar na cama.
"Mas eu te amo, mesmo você sendo tão lerdo." - Em cima dele, Caetano se inclinou para um ataque de beijos no rosto, pescoço, peito, braços, Chico quase todo.
"Diz isso de novo." - Chico só podia gargalhar, já que Caetano segurava ele no lugar, não que ele fosse querer sair dali tão cedo.
"Eu te amo!" - Caetano diz entre beijos. - "Eu te amo pra caralho, Chico Buarque!"
Chico sorria feito bobo, enquanto Caetano beijava seu rosto. Quantas noites tinha sonhado em ouvir ele dizer aquilo. Quando Caetano parou, já sem fôlego, eles olharam um para o outro, tinham sorrisos enormes nos rostos.
"Eu também te amo. Te amo muito, meu amor."
Chico derrubou Caetano na cama. Eles rolaram, se abraçaram, se beijaram. Quase como numa tentativa de reaver o tempo separados. Naquele momento, eles tiveram certeza que estariam eternamente apaixonados um pelo outro, mesmo que ainda houvesse tanto entre eles.
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Capítulo curtinho, só um complemento do último mesmo.
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Amor mais que discreto
Fanfic"Mas pode dispensar a fantasia O sonho em branco e preto Amor mais que discreto Que é já uma alegria" Caetano conhece Chico no Festival de MPB de 1967, logo essa amizade se desenvolve em algo mais. Entretanto, que futuro poderia ter o relacionamento...