Você Não Me Ensinou A Te Esquecer

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Julho de 1969

Era quase duas da manhã, Chico estava deitado, mas não conseguia dormir, apesar de exausto. Ele se senta na cama, cansado de esperar por um sono que nunca vinha.

Chico olha para o lado, Marieta ainda dormia tranquilamente. Então ele se levanta e vai até a sala, procurando um maço de cigarros. Ao encontrar, se joga no sofá, com um suspiro. Chico acende um cigarro e simplesmente deixa-se perder em pensamentos.

Não tinha um só dia em que não pensasse em Caetano, e o fato de não ter tido mais notícias dele depois daquela carta tornou tudo pior. Caetano ainda estava no Brasil? Ele estava bem? Aquelas perguntas torturam Chico todos os dias e faziam crescer a preocupação dentro dele.

Agora já fazia quase um ano desde que tinha visto Caetano pela última vez. A dor em seus olhos. As últimas palavras que tinha lhe dito.

Se ele pudesse voltar atrás seria tudo diferente. Se soubesse tudo o que aconteceria, ele nunca teria deixado Caetano.

Não é que Chico não amasse Marieta, mas Caetano... Era Caetano. Era como se fosse uma parte dele. Sua vida não tinha muito sentido sem ele.

O que poderia fazer se ainda o amava?

Se lembrou da primeira vez que viu Caetano. Chico estava tão nervoso de ter que subir no palco de novo. Qualquer um riria dele, diria que era bobagem, mas Caetano não. Caetano o compreendeu, o consolou, mesmo que aquilo tudo fosse tão diferente para ele. Caetano sempre amou estar no palco. E Chico amava ver como ele gostava. Assisti-lo de canto, apenas para ver a felicidade em seu rosto. Diferente de Chico, o palco definitivamente era o lugar de Caetano.

Mas eles sempre foram tão diferentes no jeito de ser. Praticamente opostos. Caetano barulho, Chico silêncio. Caetano falava, Chico escutava. Caetano ousado, gênio forte, sempre buscando motivos para discutir. Chico tímido, retraído, calmo. Paradoxalmente, ninguém o entendia como Caetano. Às vezes parecia que os dois existiam apenas para completar o outro.

Sentia-se tão perdido sem Caetano. Se lembrou de todas as vezes em que se sentiu preocupado com algum show ou uma música censurada. Então ele dormiria sentindo o toque suave de Caetano em seus cabelos. E às vezes, se estivesse de bom humor, ele cantaria para Chico. Felicidade seria pouco para descrever o que sentia naqueles dias.

De repente, seus olhos encheram de lágrimas. Sentia tanta falta de Caetano, mas duvidava que ele fosse querer vê-lo depois de tudo o que tinha acontecido entre eles. Chico enxugou o rosto rapidamente com as costas das mãos.

Ele nunca se acostumaria. Sem o toque de Caetano para lhe acalmar. Sem o olhar dele para lhe entender. Sem o carinho dos braços dele. Sem o amor dele. Sem Caetano.

                                           *

Certa noite, Chico conversava com Vinicius e Nara, que estava morando em Paris, mas tinha passado para uma visita. A maior parte da conserva Chico esteve com a mente longe. Ultimamente tinha sido tão difícil focar em qualquer coisa, sua preocupação com Caetano ocupava seus pensamentos a maior parte do tempo. Até Nara dizer algo que captou a atenção de Chico imediatamente.

"...Gil e Caetano agora também. Desse jeito, daqui a pouco tudo enquanto é cantor brasileiro vai estar exilado."

"O que você disse?" - Chico perguntou rapidamente. - "Caetano foi exilado?"

"Eu pensei que você soubesse. Vocês pareciam tão próximos antes."

"Não... Houve um mal entendido, e a gente perdeu um pouco o contato desde então." - O tom de melancolia na voz de Chico era bem evidente, ele limpou a garganta antes de continuar. - "Mas você sabe onde ele está?"

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