28. Anabel

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Não. Não. Não!

Isto não pode estar acontecendo comigo!

Sentada sobre a tampa da privada, na empresa, encaro o teste de farmácia que comprei no caminho para cá.

Os dois tracinhos indicam que estou grávida.

Dois malditos tracinhos.

Eu poderia me tranquilizar, pensando na possibilidade de estar errado, mas os outros três testes sobre a pia, que fiz durante todo o dia, não me deixam pensar dessa forma. Um deles indica que estou de quatro semanas.

Um mês atrás eu tomei a injeção, e o recomendado é esperar alguns dias para descartar a camisinha, o que não aconteceu! Marcus e eu transamos duas vezes desprotegidos, antes do remédio fazer seu efeito.

Apóio minha cabeça nas mãos, chorando baixinho para não correr o risco de ser ouvida por alguém. Ontem falamos sobre filhos, ele disse que não quer outro.

Como eu pude ser tão estúpida de me esquecer?

Marcus também deveria ter se prevenido no devido tempo, mas quando estamos juntos... é tão bom, que detalhes como esse – que não só agora entendo serem importantíssimos – passam despercebidos.

Levanto-me, juntando todos os testes e enrolando em um pedaço de papel higiênico, antes de colocar na bolsa.
Olho-me no espelho e vejo minha maquiagem toda borrada pela terceira vez hoje, então faço um retoque rápido e saio do banheiro, caminhando em direção ao elevador, já que estava no décimo andar.

Assim que chego em minha mesa, desabo na cadeira e apóio os braços na madeira clara, sem a menor ideia do que fazer. Contar para Marcus está fora de cogitação, no momento, ele não pode saber. Não agora.

Além disso, o ideal é fazer um exame de sangue ou uma ultrassonografia, apesar de quatro testes terem dado positivo, não são confiáveis.
Ou talvez eu só quisesse alimentar minha esperança daquilo ser apenas um pesadelo.

Não que ter mais um filho seja ruim, não mesmo, mas já sou mãe solteira e não é nada fácil. Como vou cuidar de mais uma criança sozinha?

Estou com tanto medo.

— Ana!

Assustada, olho para frente, vendo meu chefe. Meu amante. O pai do meu bebê.

— Desculpe, está aí há muito tempo? – Franzo o cenho, incapaz de disfarçar a indisposição.

— Chamei duas vezes. – Se aproxima. — O que aconteceu com você? Parece cabisbaixa hoje.

Tenho que segurar muito para não me debulhar em lágrimas na sua frente, sentindo a preocupação em sua voz. Seria maravilhoso se fossemos um casal, e que eu não precisasse ter medo do que vai ser de mim.

— Acho que estou ficando doente, mas não é nada sério. – Forço um sorriso.

— Eu levo você para casa hoje, não quero que dirija assim, está desatenta, pode ser perigoso. Amanhã meu motorista se encarrega de buscá-la logo cedo, pode ser?

Meu emocional, que já está abalado, fica ainda pior com esta demonstração de cuidado. Porém, quando souber o que está acontecendo, tudo vai ser diferente, ele vai me odiar, ainda mais depois do que conversamos ontem.

— Está bem, obrigada – respondo, vendo-o me dar as costas e voltar para seu escritório.

Pego meu celular, ao lado do notebook, e mando uma mensagem para Elena. Ela é a única que pode me ajudar, confio em minha amiga de olhos fechados.

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