13. Anabel

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Com um chá quente em mãos, fico relembrando alguns momentos da noite passada, onde tive o melhor sexo da minha vida.

Marcus e eu nos enrolamos muitas vezes mais naquela cama, e eu não conseguia tirar aquilo da cabeça.

— O que é isso?

Olho para o lado, vendo Elena com os olhos espremidos, desconfiada.

— O quê? – Pergunto em um murmuro.

— Este sorriso idiota. – Bate na própria boca, olhando para a minha.

Dou de ombros e bebo um pouco do meu chá, me sentindo maravilhosamente bem.

— Sinto que sou uma nova pessoa, Elle. Eu... acho que estou me libertando, entende?

Ela se aproxima, me olhando com os olhos azuis arregalados. Seu sorriso cresce e sei que está orgulhosa por me ouvir dizer tal coisa.

— Fico muito feliz de testemunhar isto, Ana, mas... tome muito cuidado, está bem?

— Claro, eu vou tomar, não se preocupe. – Sorrio para confortá-la. — Eu quero viver a minha vida como nunca, preciso disso. – Mordo o lábio, tendo uma ideia um pouco radical.

— Eu conheço esta cara. – Faz careta.

Dou risada, me levantando do sofá para atender ao chamado de Alicia. Minha amiga corre atrás de mim, toda curiosa.

— Ana, o que você está pensando?

— Sabe de uma coisa? – Sorrio mais, fazendo suspense. — Acho que está na hora de eu ter uma tatuagem, e sinto que alguém conhece um ótimo tatuador.

Olho para o desenho na mão de Elena, deixando a indireta no ar. Enquanto entro no quarto de Noah, ouço seu grito animado.

— O que foi, meu amor? – Aproximo-me dos meus filhos, que estão brincando no chão.

— Olha o meu desenho, mamãe.

Pego o papel rabiscado de sua mão, vendo nós três e uma estrela em cima de nossas cabeças. Respiro fundo, forçando um sorriso para ela.

— Ficou lindo, Lili, você é uma artista.

Ela sorri, parecendo contente com o meu elogio. Me abaixo para beijar sua testa e devolvo o desenho, dando um beijinho em Noah também antes de sair do quarto.

Meus filhos nunca ficaram confusos quanto ao pai, eu fiz de tudo para amenizar a falta dele e deixar claro do lugar para onde ele foi, apesar de saber que o céu não era moradia para pessoas ruins como Thomas.
Noah e Alicia têm apenas cinco anos, quase, não fazem ideia do quanto foram desprezados e amam a figura que tiveram, não vou partir o coração deles, nem quando forem adultos.

Saio do devaneio com o sorrisão da minha amiga.

— Digamos que o meu tatuador faz tudo que eu quero, e... temos horário marcado hoje. – Mostra o celular.

Reviro os olhos, mas sorrio e dou um abraço nela.

— Você é uma safada, mas obrigada.

×××


La libertà, quer dizer liberdade em italiano. A pele sensível do meu pescoço está avermelhada, com pequenas letras delicadas rabiscadas na horizontal, abaixo da minha orelha.

Minha autoestima está nas alturas.

— Agora quer me contar o que aconteceu para esta alegria toda? – Elena insiste, comendo minhas balas de goma que encontrou no armário da cozinha.

Não escondo nada dos meus melhores amigos, sempre fomos muito transparentes uns com os outros.

— Jantei com o meu chefe ontem, foi relaxante... – aperto meus lábios, — transamos logo depois.

Ela arregala os olhos, cobrindo a boca com as mãos para abafar o grito histérico. Sorrio com sua reação, me sentindo idiota por algum motivo.

— Não acredito que você conseguiu! – Me abraça apertado.

Aceno devagar, feliz por ter reconhecimento pelo meu esforço de não ter uma crise de pânico quando Marcus me tocou.

Agora parece simples, mas depois que Thomas morreu, eu mal pude sair de casa sem sentir medo. Só conseguia sair do quarto todos os dias para cuidar dos meus filhos, que não têm culpa de nada. Apenas meus amigos sabiam do que havia acontecido, de fato, e meus pais achavam que eu estava daquela forma por perder o marido, mas era trauma pelos abusos.

Foi uma luta reconhecer que eu estava definhando aos poucos, e que o homem que fazia da minha vida um inferno, estava morto. Desde então consegui um emprego, e passei a ser uma pessoa com sinais de uma vida terrível, mas era apenas aquilo, sinais. Cicatrizes.

Agora, com os beijos e a transa que Marcus e eu tivemos, consigo perceber que não estou em nenhum tipo de bloqueio mental ou físico. Foi bom. Foi natural. Eu não tive espaço para pensar em Thomas e todas as agressões.

— É, eu consegui. – Acaricio suas costas.

— O que eu disse a você meses atrás? – Segura meus ombros. — Você é uma mulher forte, mesmo quando ficou exausta de tudo, não desistiu.

— Graças aos gêmeos, Elle, graças a eles. Eu não gosto nem de pensar no que teria sido de mim sem meus filhos, eles foram a minha luz no fim do túnel.

Ela sorri e acaricia meu rosto, emocionada.

— Nada é por acaso, eles vieram na hora certa.

Aceno, pensando neles com amor e carinho. Aqueles pequeninos são tudo na minha vida, e sou a mulher mais grata do mundo por tê-los como família.















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Capítulo curtinho e cheio de amor dessas duas! Até quinta, pessoal!
:)

LIBERTE-MEOnde histórias criam vida. Descubra agora