29. Anabel

54 9 4
                                    

No dia seguinte, me levantei com a disposição abaixo de zero. Batidas na porta me obrigaram colocar o corpo para fora do apartamento. Era o porteiro, segurando minhas flores que já estavam murchas e com as bordas ressecadas pelo tempo.

Se pareciam bem comigo.

Eu não queria trabalhar, não queria olhar para Marcus e ficar pensando em tudo que vem acontecendo. Porém, o motorista já estava me esperando, não quis fazê-lo perder seu tempo, então tomei café com as crianças e esperei por Frida para poder ir.

Durante o percurso, admirei a cidade tranquilamente, aproveitando que não estou na direção. Mantive o controle para não acariciar a barriga, pois sentia que estava sendo observada de minuto em minuto. Sei que homens como LeBlanc possuem muita fidelidade, assim como traições, é claro. Mas o motorista que está me levando, com toda certeza é um dos fiéis, e contaria qualquer coisa que achasse estranho em mim.

— Senhorita, chegamos.

— Ah! – Pego minha bolsa, forçando um sorriso de agradecimento. — Obrigada.

Não obtenho resposta, mas nem espero por isso. Passo pelo meu carro no estacionamento e sigo o caminho até o elevador, me encostando na lateral metálica depois de apertar meu andar.

Será que Marcus já chegou?

Constato que não quando o elevador se abre e saio. A porta do escritório está fechada, como sempre, mas eu simplesmente sei que ele ainda não veio.

Aproveito para passar um chá, acomodar-me em minha cadeira e relaxar o máximo que a situação permite. A bebida quente me deixa zen, como se nada pudesse me abalar.
Abro meu notebook e decido fazer algo que vá me ajudar futuramente: enviar currículos.

Seleciono várias empresas e comércios menores, não posso escolher muito, já que estou grávida e tenho dois filhos. Recebo um dinheiro mensalmente do antigo trabalho de Thomas, mas não é suficiente para manter três pessoas. Quatro, agora.

Sou muito educada com a minha alimentação, principalmente durante uma gravidez. Quero comer bem, coisas saudáveis e mais leves, caminhar de manhã para tomar sol e ficar nutrida. O pensamento me faz sorrir, estou planejando coisas com o bebê, e agora não consigo mais imaginar um futuro que ele não esteja presente.

Apesar dos pesares, é a melhor sensação do mundo.

— Bom dia, Anabel!

Pulo de susto, fechando o notebook de uma vez para olhar o homem delicioso em minha frente, sorrindo maliciosamente. Seria difícil vê-lo assim, vestido tão formalmente... com terno, colete e gravata, sem querer pular em seu pescoço.

— Sr. LeBlanc, quer me matar?

Ele faz uma careta, ajeitando o nó da gravata antes de apoiar os braços na bancada.

— Não de susto, Srta. Masucci. O que estava fazendo aí, huh? – Olha para minhas mãos, que estão sobre o notebook.

Hã... nada! – Forço um sorriso, torcendo para convecê-lo. — Apenas coisas do trabalho, já que meu chefe é muito exigente.

— Exigente, é? – Ergue uma sobrancelha, aceitando bem a provocação.

Suspiro, aliviada por ele não insistir.

— O que acha de jantarmos hoje? – Sugere.

Fico surpresa, engolindo minha saliva com dificuldade. Fingir aqui na empresa, onde eu não teria que ficar olhando para ele o tempo todo, tudo bem, mas um jantar?

— Sinto muito, Marcus, eu não posso. Os gêmeos estão contando comigo para um programinha, sabe... crianças. – Solto um riso, forçando novamente.

LIBERTE-MEOnde histórias criam vida. Descubra agora