15. Anabel

63 7 0
                                    

Minha cabeça estava em outro lugar enquanto meus pais riam de algo que os gêmeos fizeram com a comida.
Talvez meu corpo não estivesse se contentado com o quase contato que tivemos com os músculos de Marcus.

Eu queria mais.

— Ana!

Olho rapidamente para minha mãe, Sofia, que está com uma sobrancelha arqueada para mim. Sorrio um pouco sem graça e bebo um grande gole de um vinho italiano que meu pai, Giuseppe, adora.

— Desculpe, eu estava pensando em coisas do trabalho – não minto tanto assim.

— Claro – duvida. — Queremos saber sobre a escola das crianças.

— Ah! – Me lembro, percebendo que estou perdendo tempo. — A escola, bem, eu pretendo fazer a matrícula ainda este mês. Na verdade, eu me perdi um pouco com tudo que aconteceu e... não pensei muito nisso. Não estou atrasando só minha vida. – Solto um riso, chateada.

— Não, querida, está tudo bem. As crianças vão completar cinco anos em dois meses, você não está atrasando ninguém.

Dou de ombros, olhando para os dois que agora parecem curiosos. Pisco para eles e volto a encarar minha mãe.

— Preciso falar com a babá sobre isso, e com vocês também. – Me ajeito na cadeira, prestes a expor meus pensamentos de meses atrás. — Será que vocês poderiam me ajudar com eles? – Olho de relance para papai. — Posso levá-los pessoalmente e ir direto para a empresa, as aulas começam às oito e trinta da manhã e terminam três e trinta. Meu horário começa às nove, mas posso conversar com meu chefe para subi-lo, assim terei tempo. Porém, saio da empresa apenas dezoito horas, e não consigo fazer nada quanto a isso. Vou gastar um pouco mais com a mensalidade, e infelizmente terei que dispensar Frida. Eles poderiam ficar aqui?

Meus pais se olham por alguns segundos, aproveito para ver os gêmeos e sorrio ao vê-los aos cochichos e risinhos.

— Ana – meu pai quem chama, — você tem despesas e sabemos como é difícil, dispensar a babá é necessário. Nós vamos ajudá-la no que for preciso, vocês são nossa família.

— Ah, vocês são os melhores pais do mundo. – Sorrio para eles, agradecendo.

Porém, naquela noite fui dormir com uma pulga atrás da orelha, e enquanto dirigia para a empresa no dia seguinte, estava dispersa e pensativa.

Ao chegar na agência, faço tudo o que devo antes de passar um chá que me deixasse mais tranquila para completar meu dia. Sento-me à minha mesa e fico quase escondida pelo balcão acoplado a onde fico, para que as pessoas possam se apoiar e manter uma distância considerável do meu corpo.

Então, volto a pensar.

Meus filhos passavam o dia sem mim, mas estavam em casa, seguros. Estarão protegidos em uma escola, mas são ambientes completamente distintos. Muitas pessoas e muito barulho, talvez...

— Hoje é você quem parece preocupada.

Acabo derrubando um pouco de chá na minha blusa com o susto, mas nada que não possa ser resolvido. Olho para cima e suspiro profundamente com a visão do paraíso bem à minha frente.

— Tem um pontinho de interrogação acima da sua cabeça. – Sorri, ficando ainda mais lindo.

Seus dentes não aparecem, como se não ficasse à vontade para exibi-los, ou simplesmente não conseguisse. Sempre um sorriso amarelo.

— Ah, não é nada, coisa de mãe. – Faço uma careta.

— Talvez eu possa ajudar. O que está se passando dentro dessa cabecinha?

Meu coração parece bater dez vezes mais forte com o carinho que exala de sua voz. É gostoso e me sinto querida.

— Não quero atrasá-lo com as minhas dúvidas, senhor. – Sorrio, tentando parecer melhor.

— Vai me atrasar se não colocar para fora o que está lhe incomodando, garanto que consigo ser bem incoveniente quando quero. – Deixa sua maleta sobre a bancada à frente do meu rosto.

Apóio uma das mãos no queixo e respiro fundo, me convencendo de que nada custa ter uma segunda opinião.

— Ontem minha mãe comentou sobre os estudos das crianças e fiquei um pouco preocupada. Tenho tempo para fazer as matrículas ainda este mês, mas estou incomodada com as possibilidades.

— Que são...? – Pergunta, atento ao que digo.

— Minha melhor opção é dispensar a babá e economizar, deixando os gêmeos com os meus pais até sair daqui, mas teríamos que fazer um acordo sobre meus horários na empresa. O problema é que estou me sentindo péssima por fazer meus pais mudarem suas rotinas tão drasticamente, tenho muitos medos e, talvez seja besteira, mas estou insegura.

O casamento abusivo que tive me fez buscar independência, odeio precisar de outras pessoas, mesmo que sejam próximos. Não gosto da sensação de estar incomodando. Talvez seja um defeito, mas é como sou.

Fico envergonhada quando noto seus olhos tão intensos sobre mim, bebo um pouco mais de chá e limpo a garganta, deixando a xícara sobre a mesa.

— Não é besteira, sei que mães se preocupam com seus filhos. Você tem uma segunda opção? – Indaga.

Aceno devagar.

— Continuar com a babá e encarregá-la da tarefa. Porém, seria muito complicado, pois Frida não dirige e o colégio não é tão perto do prédio onde moro. Eles teriam que ir para casa de metrô e não sei se me sinto bem quanto a isso. E, como se não bastasse, não posso ter tantos gastos assim.

— Dispensar os serviços da babá será inevitável. Assim que eles forem liberados, meu motorista estará esperando para trazê-los até aqui, podem ficar no térreo com as outras crianças. – Dá de ombros, tornando tudo tão simples.

De repente, estou ainda mais caída por ele. Sinto que estou em território proibido, meu chefe cuida mais dos meus filhos e eu do que Thomas jamais foi capaz de cuidar. Mas ele não parece perceber, como se fosse somente um favor, então engulo minhas expectativas e balanço a cabeça.

— Não quero ser ainda mais abusada, Sr. LeBlanc, acho que já esgotei minha cota por toda a vida. – Me refiro a transarmos. — Não quero que pense que me aproveito da sua generosidade por sermos... amantes. – A palavra parece muito mais suja e pesada quando digo, e ele percebe.

Um riso curto e baixo faz coisas absurdas com a minha intimidade, mas disfarço bem.

— Posso garantir que qualquer pessoa não concorda com você, não costumo ser gentil e muito menos generoso, então não se acanhe.

Fico paralisada, entendendo que ele não diz apenas sobre o dia-a-dia. Meu rosto deve estar vermelho, porque o sinto ferver. Ele não é gentil mesmo quando está dentro de mim.

Caramba!

— Você tem certeza? – Pergunto, vergonhosamente rouca e excitada.

— Claro, eu nunca erro nas minhas escolhas.

Meu estômago revira com o seu olhar, mordo o lábio e forço um sorriso grato, e não o totalmente amolecido de tesão que quero dar.

— Então aceito, Marcus. Obrigada, de verdade. Fico te devendo uma.

Ele alcança minha mão e beija os nós dos meus dedos, sorrindo de forma simples.

— Vamos ficar quites quando for à consulta com a doutora Rebecca Crawford. Lhe enviei o endereço por email, imagino que não tenha visto.

— Sim, me desculpe, vou ligar para ela agora mesmo. – Sorrio.

— Ótimo, não vejo a hora. – Olha meus seios pouco expostos pelo decote e pega sua maleta, se virando para ir. — Tenha um bom dia, senhorita Masucci.

— O senhor também, Sr. LeBlanc.

Ele pisca para mim e se fecha em sua sala, me deixando necessitada e feliz do lado de fora.

LIBERTE-MEOnde histórias criam vida. Descubra agora