10. Anabel

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O resto do dia foi estranho, eu havia beijado meu chefe e descoberto um pouco sobre sua vida, assim como ele agora sabe que meu casamento foi uma merda.

Nós dois não paramos para conversar mais, só concluímos a rotina á risca, da forma que deveria ter permanecido o tempo inteiro.

Já passava das quatro horas da tarde quando entramos na sala de reuniões, eu participaria para auxiliar o senhor LeBlanc em tudo, desde uma simples distribuição de planilhas até apresentações de slides ou algo do tipo.

William Salvatore está presente, ele é um homem bonito, de estatura média, cabelos escuros como os olhos e pele parda. Não que eu reparasse muito nas pessoas, mas ele era charmoso.

Depois de andar de um lado a outro fazendo meu trabalho, me pego observando meu chefe. Ele está olhando um ponto fixo, com a expressão fria e os ossos do rosto tensos. Não procuro saber o que ele tanto mede, apenas aprecio a vista e sinto um incômodo no meio das pernas ao lembrar do beijo que demos. Algo dentro de mim me deixa orgulhosa.

Sinto que minha cabeça vai explodir quando sou pega no flagra o encarando, meu rosto deve estar vermelhinho, como Elena adora frisar sempre que tem oportunidade. Desvio o olhar para o chão depois de ver um sorriso presunçoso em seus lábios finos. Tento não olhá-lo mais nos minutos restantes da reunião decisiva entre os Salvatore e os LeBlanc, me limitando ao meu trabalho.

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Espero todos deixarem a sala de reuniões para organizar tudo e ir para casa, já que passam das seis da tarde.
Empilho algumas pastas com calma, suspirando profundamente de minuto em minuto, pensando no beijo poderoso que meu chefe tem.

Meu chefe.

Merda!

Era nisso que eu deveria focar, e não em seu beijo absurdamente gostoso e excitante. Acho que meus dedos já têm um trabalho árduo mais tarde.

Pulo de susto quando mãos grandes seguram meus quadris contra a mesa e uma parede se coloca atrás de mim. Minha respiração parece mais pesada quando sinto um perfume que já me é conhecido.

— Está muito distraída, senhorita Masucci.

Fecho os olhos por alguns segundos, quase gemendo por senti-lo tão perto.

— Que bom que acabamos por hoje, estou atrasada – digo, com a voz molenga de quem está amando o afago sobre a barriga.

— Me desculpe por agarrar você assim, mas não pude me conter. Você vai contestar se isso passar a ser comum entre nós?

Umedeço os lábios e respiro fundo, pensando no que isto significa. Talvez eu não devesse cobrar tanto e apenas deixar rolar, não é assim que as pessoas fazem hoje em dia?

— Não, mas não consigo imaginar um motivo para que queira isso. O que quer de mim? – Questiono, realmente curiosa.

Suas mãos me afastam apenas para me virar de frente para ele, que tem os olhos lindos vidrados em mim.

— Eu não sou um homem bom, Ana, acredite. Não sou romântico, nem carinhoso ou algo assim. Prefiro manter uma relação aberta, nada de sentimentos e nem cobranças, apenas sexo casual, nada mais. Você me daria isso?

Esta é a pergunta de um milhão.

Eu daria?

Minha vida toda foi um fracasso, a não ser pelos meus filhos. Eu fui de um homem só, aquele que me fez sofrer, que me espancou e abusou de mim de todas as formas. Talvez eu seja uma mulher forte por passar sete anos da minha vida com alguém que nunca quis o meu bem, e ainda assim ver amor nas pessoas. Fazem mais de seis meses que eu me livrei de um pesadelo, e agora o que menos quero é me envolver de corpo e alma com alguém de novo. Vou respirar sozinha, dar passeios, fazer viagens e conhecer pessoas novas, preciso disso.

Olho para o senhor LeBlanc que aguarda, não demonstrando pressa ou ansiedade. Ele é um homem bonito que me quer, eu seria uma tola se desperdiçasse a chance de me divertir.

— Talvez não seja uma má ideia, senhor LeBlanc. Acabei de sair de um casamento de cinco anos, não estou pronta para ter sentimentos ou cobrar alguém. Não quero que as coisas fiquem estranhas entre você e eu, independente de qualquer coisa, eu trabalho para você e preciso desse emprego. – Me atrevo a tocar seus ombros, descendo as mãos até seu peito definido.

Ele me puxa ainda mais para si, abraçando minha cintura.

— Começo a desconfiar que você seja perfeita, Anabel.

— Não... – sorrio, — estou longe disso. Mas agora, preciso mesmo ir, tenho dois filhos exigentes em casa.

Seus lábios buscam os meus com urgência, sugando-me como se eu fosse a última gota d'água da Terra. LeBlanc é intenso em tudo o que faz, o que me deixa temerosa quanto ao dia em que eu entregar meu corpo para ele.

— Quer que eu te deixe em casa? – Pergunta, parecendo intocável enquanto eu ofego como se tivesse corrido uma maratona.

— Estou de carro, mas obrigada. Até amanhã.

Escapo de seus braços e caminho até a saída, voltando-me para ele que já me olha como se fosse me engolir viva.

— Você é um homem bom, Marcus, eu vejo isso. – Sou sincera.

Ele não diz nada, então sorrio antes de lhe dar as costas e finalmente ir embora. Eu tenho um encontro marcado com duas crianças e preciso correr, amanhã será um novo dia e eu mal podia esperar para que chegasse logo.

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