11. Anabel

65 8 1
                                    

Dias depois, e as coisas pareciam ainda incertas. No dia seguinte ao acordo entre meu chefe e eu, cheguei à empresa e vi apenas as pastas, que esqueci na sala de reuniões, sobre minha mesa. Sorri por imaginar que ele as deixou ali, mas minha felicidade durou pouco, porque não o vi o dia todo. A agenda estava lotada.

Porém, a semana seguiu e acabamos nos encontrando algumas vezes em sua sala. Não passamos do limite na agência, ficamos apenas nos beijos e carícias despretensiosas, mas eu sentia todo o desejo dele acumulado em uma ereção.

LeBlanc é, acima de tudo, respeitoso e educado, me trata como se eu fosse de cristal.

Inclusive, estou agora mesmo me arrumando para sair com ele.

Aproveitei o máximo do dia com meus filhos, já que é sábado e não trabalho. Fizemos bolo, brincamos na piscina do térreo, assistimos desenhos animados, comemos sorvete e pipoca, fizemos guerra de travesseiros e cantamos todas as músicas infantis que os gêmeos amam. No fim, ficamos exaustos e fomos para o banho.

Já é noite, oito, para ser exata, e Marcus deve estar chegando para me buscar. As crianças pegaram no sono cedo, e como gastaram toda a energia do dia, vão dormir a noite inteira. Frida vai ficar aqui até eu voltar, permiti que trouxesse o namorado, sei que ela é ajuizada e muito responsável.

Recebo uma mensagem no celular quando estou colocando os brincos, então pego minha bolsa e caminho até a sala, vendo o casal jovem abraçado no sofá.

— Estou indo, você já sabe que pode me ligar por qualquer coisa, certo?

— Claro, pode ir tranquila. – Sorri.

— Obrigada, Frida. – Sorrio, nervosa. — Deixei um dinheiro na mesa, vocês podem pedir alguma comida para não ficarem entediados. Se ficarem com sono, o quarto de hóspedes é todo de vocês, não me importo de passarem a noite aqui.

— Tudo bem, Ana, obrigada. Tyler e eu vamos ficar bem.

— Certo. – Respiro fundo, percebendo que estou adiando o momento de me encontrar com o meu chefe. — Até mais.

— Divirta-se – diz, Tyler.

Aceno e saio do apartamento, caminhando apressada até o elevador. Aperto o botão e espero, retornando a mensagem que recebi.

20h12 – Estou no elevador,
só um minuto.


Me olho no espelho do cubículo que está me deixando ainda mais afobada, tentando encontrar algo de errado na minha roupa ou maquiagem que fiz seguindo dicas no youtube.
Escolhi um vestido branco, de gola alta, mangas longas e curto. Os sapatos, são os velhos saltos nudes.

O elevador para e as portas se abrem, então caminho pela recepção enquanto meu coração martela no peito e as palmas das mãos suam frio.

Assim que desço os degraus do prédio, consigo ver Marcus do outro lado da rua, encostado em um carro preto, grande e bonito como ele.

Passo pelo portão e chamo sua atenção quando fecho, fazendo barulho. Ele está lindo, com os cabelos penteados para trás e as laterais raspadas, provavelmente recém-cortadas, já que ontem estavam maiores. Sua camisa azul-escuro o deixa charmoso, com uma parte da frente enfiada no jeans preto.

— Boa noite, Ana. Você está linda. – Me olha de cima a baixo, me arrepiando.

— Oi, Marcus – digo seu primeiro nome, como combinamos que seria fora da agência. — Obrigada.

Ele pega minha mão, levando-a até os lábios para beijar e cheirar minha pele, nos nós dos meus dedos.

— Vamos, não podemos nos atrasar. – Abre a porta do carro para mim.

Sorrio em agradecimento e me acomodo no banco do passageiro, colocando o cinto de segurança enquanto ele dá a volta. Respiro fundo pela milésima vez, secando as mãos no vestido.

Talvez eu esteja assim porque sei que vamos além de onde já fomos nos cinco dias que passaram, digo, se ele quiser algo mais comigo, não vou recuar. Me preparei psicologicamente para fazer sexo sem surtar, ou pensar no que acontecia quando eu ia para a cama com Thomas. Muitas das vezes, nem fui por vontade própria.

— Você está nervosa.

— É a primeira vez que saio com um homem depois que... você sabe. – Limpo a garganta.

Ele não diz nada, apenas dirige para o restaurante onde fez as reservas.

Quando chegamos, desci do carro antes que ele se incomodasse em me ajudar. O manobrista pegou a chave e nos desejou uma boa noite.

— É muito bonito – digo, olhando a fachada sofisticada.

— Ainda não viu por dentro.

Mordo o lábio, sentindo meu rosto esquentar.

— Vem muito aqui? – Pergunto, não controlando a curiosidade e a língua.

— Sempre que posso.

Tento deixar o incômodo de lado, mas minha mente não para de criar imagens de Marcus com outras mulheres jantando aqui, onde estou sendo trazida.

Somos bem recebidos e nos sentamos à uma mesa no canto, do lado esquerdo, onde há uma enorme vidraça que dá uma visão linda do lado de fora. Há um gramado, vários bancos de madeira e um chafariz iluminado. Muito romântico.

— Gostou?

Olho para ele, vendo-o com os olhos fixos no meu rosto. Sua expressão é séria, mas relaxada o suficiente para me deixar a vontade.

— Sim, é diferente dos restaurantes que já fui. – Sorrio, um pouco sem graça de admitir que só fui há um restaurante em toda minha vida, quando era adolescente.

— No carro, você disse que sou o primeiro homem com quem você sai depois do ocorrido com seu ex marido. E antes dele, como era sua vida amorosa?

Pego o tablet sobre a mesa e passo o dedo indicador para cima, procurando por algum prato que conheço.

— Thomas foi meu primeiro namorado, antes dele eu só ficava com alguns garotos, mas não passava de abraços e beijos. – Fico envergonhada.

Quando levanto o olhar, Marcus está com um sorriso sutil no canto dos lábios, quase imperceptível.

— Você é tímida, gosto disso em você.

Dou de ombros, me sentindo uma boba por ficar tão feliz por ele dizer que gosta do meu jeito. Na verdade, nunca tive oportunidades de ser diferente, não preciso dizer o motivo. Fui, praticamente, reeducada depois que me casei.

— Acho que não quero saber sobre a sua vida amorosa, consigo imaginar – comento.

Lembro-me do que aconteceu com aquela loira em seu escritório, sentindo meu estômago revirar e  minhas pernas se apertarem uma na outra.

— Vamos esquecer este detalhe e focar no que estamos fazendo agora. – Pega minha mão, acariciando minha pele. — O que acha de passarmos na minha casa depois do jantar?

Engulo a seco, vendo sua mão com o dobro do tamanho da minha. Quando crio coragem de encarar seus olhos, vejo uma promessa e o mais puro fogo brilhar em suas pupilas, então ofego e aceno rapidamente, incapaz de falar algo suficiente para aquela intensidade.

LIBERTE-MEOnde histórias criam vida. Descubra agora