9. Anabel

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Segunda-feira começou agitada, meu amigo Joe passou o fim de semana no meu apartamento – já que faria uma viagem longa de férias – e me convenceu a usar um dos vestidos novos para trabalhar. Escolhi um verde-escuro, quase preto, com recortes no decote e reto até os joelhos. Nos pés, optei por saltos altíssimos de tom nude, apagados na minha pele.

No espelho do elevador, antes de chegar ao meu andar, pude ver o quanto consigo ficar bonita de novo, como antes do casamento.
Meus cabelos estão soltos e caem ondulados até abaixo da cintura, o que é estranho, porque há tempos não conseguia sair dos coques costumeiros.

— Bom dia, Ana.

Olho para cima, vendo meu chefe acompanhado de três homens super sérios.

— Bom dia, senhor LeBlanc. – Sorrio com educação.

Seus olhos estão intensos sobre mim, me analisando o quanto pode, já que estou sentada atrás de um balcão com metros e metros de largura.

— Vou ficar um pouco ocupado, não permita a entrada de ninguém, ninguém, tudo bem?

— Claro.

— Nos traga chá e café. – Ajeita a gravata e me dá as costas, indo para sua sala.

Engulo a seco, envergonhada pela forma que meu corpo reage toda vez que nos encontramos, principalmente depois que ele revelou gostar muito mais de mim.

Levanto-me às pressas e caminho até a copa do nosso andar, preparando algumas xícaras e as duas jarras com as bebidas que meu chefe pediu. Equilibro tudo sobre uma bandeja espaçosa e, com cuidado, me direciono à sala que pretendo evitar o máximo possível.

— Com licença – digo após bater na porta e ter a entrada permitida.

Com a pele queimando, deixo tudo sobre a mesa de centro à frente do sofá grande e me coloco de pé, pronta para sair.

— Obrigado, Ana. Pode ir. – Pisca para mim.

Sem saber o que fazer, minhas pernas são automáticas ao me levarem para fora, onde me sento em minha cadeira e volto ao trabalho.

×××

Às onze em ponto, organizo minhas coisas para fazer minhas horas de almoço. A manhã foi tranquila, apenas atendi ligações e anotei recados, já que o senhor LeBlanc ficou com aqueles homens em sua sala o tempo todo.

Ouço vozes e sei que terminaram, o que me dá livre arbítrio para deixar a agência assim que quiser.

O telefone em minha mesa toca, cortando meu planos assim que vejo as portas do elevador se fecharem e os homens irem embora.

— Sim, senhor?

Venha até a minha sala.

Fecho os olhos, colocando o aparelho de volta no lugar. Respiro fundo duas vezes antes de me levantar, caminhando até a porta escura e grande. Bato de leve, ouvindo sua voz do outro lado.

— Pois não? – Olho para ele, que está de pé encostado em sua mesa, segurando um copo de uísque. A gravata preta está aberta, ainda envolvendo seu pescoço, assim como os primeiros botões da camisa branca. O blazer está pendurado na poltrona atrás dele.

— Almoce comigo.

— E-eu sinto muito, mas...

— Sou o seu chefe e quero que almoce aqui comigo, hoje – diz, tenso.

Engulo a seco, preocupada com a peça que meu corpo pode pregar em mim a qualquer momento.

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