5. Anabel

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Entretida com o filme que passava na televisão, aproveitava o momento sozinha enquanto meu marido não chegava do trabalho. Ele estava estranho ultimamente, e eu já não me sentia mais tão confortável ao seu lado, não depois de ter levado um empurrão forte que me deixou desequilibrada e estatelada no chão.

Engolindo a seco, me ajeito no sofá sorrateiramente, vendo dois corpos nus se perderem em um sexo contido na tela. Faziam dias que Thomas não me esperava atingir o orgasmo, então minha única opção era fazer sozinha.

Espalmei minha mão direita sobre minha pele umedecida e afundei dois dedos no meu ponto mais sensível, movendo-os em círculos. Acabei fechando os olhos e ficando perdida na sensação gostosa de tesão, me concentrando apenas nas reações do meu corpo.

Foi naquele momento que a porta se abriu em um rompante, e um Thomas irado veio em minha direção enquanto meu corpo paralisava de medo.

— Que porra é essa, Anabel?!

Não fui capaz de dizer nada, sendo puxada bruscamente pelo braço, onde senti uma dor aguda e irritante.

— O que pensa que está fazendo? – Pegou o controle da televisão, desligando-a e jogando o pequeno objeto longe.

— Thomas... – finalmente disse, com medo.

— Cala a porra da boca, caralho! – Gritou. — Você só goza quando eu deixar, mulher minha não fica se masturbando como uma vagabunda!

Foi a primeira vez que um homem levantou a mão para mim e me acertou no rosto com força, deixando um hematoma por dois dias. Foi o começo de todo o inferno, e o dia em que pensei que nunca mais teria coragem de me tocar.

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Senhorita Masucci?

Desperto de repente, sentindo meus dedos abraçarem uma xícara cheia de chá quente. Movo os olhos até a figura máscula e imponente diante de mim.

— Senhor LeBlanc, bom dia! – Forço meu melhor sorriso. — Me desculpe pela distração, eu estava longe. Precisa de algo?

Noto seus olhos seguirem o movimento que faço com a boca para sugar o líquido doce e saboroso, deixando a louça de lado rapidamente.

— Minha agenda, por favor. Falamos sobre ela, certo?

— Na verdade, são elas. – Solto um riso, sem graça. — A preta para compromissos de extrema importância, e a vermelha para as banalidades. Passeios familiares, coisas do tipo. Eu posso cuidar de tudo.

— Isto é ótimo, senhorita Masucci, mostra que é organizada. Eu gosto. – Me analisa, deixando-me envergonhada.

— Ana já está bom – digo em um suspiro.

— Muito bem, Ana, as agendas, então.

Meu apelido saiu forte e sedutor de sua boca, me deixando acalorada de imediato. É extremamente errado eu me sentir atraída pelo meu chefe, mas inevitável. Algo que eu vou manter em segredo, é claro, pois seria vergonhoso se alguém soubesse, sou apenas uma secretária feia e sem graça, não há nada de atrativo em mim, e mesmo que tivesse, meu lugar não é ao lado de um homem como ele.

Até mesmo pensar nisso é ridículo.

— Me acompanhe, por favor – ele pede.

Levanto-me rapidamente e pego as duas agendas a que me referi, o seguindo até sua sala com cheiro de café, que trouxe comigo da cafeteria que costumo passar.

— Obrigado pelo café. – Senta-se em sua poltrona.

Abro na primeira página, vendo algumas anotações já feitas desde ontem.
O senhor LeBlanc – tio –, também gostava que eu anunciasse seus compromissos do dia pessoalmente, já que alguns preferem emails com tudo organizado.

— O senhor tem uma reunião marcada em meia-hora com alguns espanhóis que desejam fechar contrato com a agência. Seu tio se reuniu com eles algumas semanas atrás, então só precisam fechar um acordo. – Umedeço os lábios, lendo e olhando nos olhos do homem atento. — Em seguida, um almoço importantíssimo com os Salvatore, imagino que tenha conhecimento do assunto.

— Claro, prossiga.

— Outra reunião no meio da tarde, às quinze horas, para tratar de detalhes das divulgações com a marca de Magnus Lehmann.
Às dezessete, uma designer de interiores de confiança virá até a agência para visitar sua sala, como me pediu ontem. – Respiro fundo, nervosa por ele ficar tão quieto enquanto falo sem parar.

— Perfeito, o dia será produtivo. Pode se retirar, Ana, obrigado.

— Disponha. Com licença. – Me viro nos saltos baixos, freando os passos ao chegar na porta. — Senhor LeBlanc, quase me esqueço. – Volto-me a ele com um sorriso sem graça.

— Pode falar. – Não me olha mais, encarando algo em seu celular.

— Natalia Collins ligou, se queixou de não ser atendida pelo número pessoal e me pediu para informa-lo sobre um jantar.

Ele franze o cenho, mas não se incomoda em demorar na resposta. Fico constrangida, me sentindo invasiva por me meter em seus assuntos pessoais. Tento varrer o pequeno incômodo no meu peito para debaixo do tapete.

— Tinha me esquecido – parece comentar para si mesmo, mas ouço, — Faça reservas em algum restaurante chique da região para oito da noite, só me avise depois.

— Claro, com licença – digo, quase sem voz.

Deixo sua sala e praticamente corro até minha mesa, me jogando em minha cadeira giratória. Encaro meu chá, já frio, engolindo o pequeno sentimento de inveja que me acomete por alguns segundos, apenas. Além de outra coisa estranha.
Fecho os olhos e me repreendo por ficar irritada com o tal jantar, mas pesquiso um restaurante à altura do casal e alcanço o telefone, discando o número disposto na internet, malditamente contrariada.

Restaurante Asiate, bom dia!

— Bom dia, gostaria de fazer duas reservas no nome de Marcus LeBlanc.

LIBERTE-MEOnde histórias criam vida. Descubra agora