30. Marcus

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Enquanto via Anabel me dar as costas para ir embora, pensava no quanto fomos descuidados todo esse tempo. É claro que eu não a culparia, se só caiu na minha teia de prazer.

Porra, grávida!

Nem conseguia pensar no quanto a informação me afetou de forma negativa. Até ontem, eu não precisava me preocupar com nada e ninguém além da minha empresa. Se disser que Anabel não me mudou, estaria mentindo descaradamente. Ela me deixava louco.

Mas um filho é muito para mim.

Desnorteado, pego meu paletó e as chaves do meu carro, saindo do meu escritório. Evito olhar para a mesa dela, entrando no elevador para descer até o estacionamento. Precisava de um tempo com a cabeça vazia.

Saco meu celular do bolso, digitando o número da última pessoa que me imaginei pedindo ajuda.

— Ora, ora... Marcus LeBlanc ligando para mim? – A voz feminina zomba.

— Preciso conversar, me encontre no bar onde costumávamos ir.

×××

Na minha terceira dose de uísque, mantenho a cabeça apoiada sobre uma das mãos, como um derrotado. Como estou acostumado a beber, não sinto diferença alguma com a quantidade de álcool que ingeri.

Uma mulher de cabelos castanhos se senta ao meu lado, erguendo o dedo para o barman. Ouço-a pedindo uma cerveja, então faço careta e viro minha quarta dose.

— Não consigo imaginar um único motivo que esteja fazendo você sofrer – diz, sem me olhar.

— Não estou sofrendo – minto.

Então, ela me olha, com os olhos azuis brilhando contra a luz amarela do bar. Seus lábios pintados de vermelho se apertam um no outro, como se me repreendesse mentalmente.

— Esqueceu que somos irmãos? – Ergue uma sobrancelha. — Conheço você melhor que ninguém, Marcus.

Suspiro, um pouco mais derrotado. O barman traz sua cerveja, e eu peço mais uísque para mim. Faz muito tempo desde a última vez que desejei encher a cara e ficar bêbado.

— Vai me contar o que aconteceu para te deixar assim, tão cabisbaixo?

Faço uma pausa dramática, olhando para o outro lado, girando o copo sobre o balcão, coçando a cabeça, tudo para enrolar um pouco mais, como um garoto de treze anos, e não um homem de trinta e quatro.

— Tem uma mulher – começo, rodeando a verdade bombástica.

Melissa, que antes não parecia tão convicta de que eu diria algo realmente importante, vira o corpo na minha direção, com o cenho franzido.

— Que mulher?

— O nome dela é Anabel, trabalha para mim, como minha secretária.

De boca aberta, minha irmã faz um som exagerado com a boca, como se tivesse acabado de descobrir a cura para o câncer. Eu, apenas parto para a próxima dose.

— Ela é casada? – Sussurra, com uma expressão engraçada.

Balanço a cabeça, soltando um riso nasal.

— É viúva, mãe de dois filhos. Uma ótima mulher. – Finjo não notar o vacilo em minha voz quando digo filhos.

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