22. Anabel

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Um pouco chateada, dirijo até o colégio em que os gêmeos irão estudar. Mais uma semana se passou, desde que Marcus me castigou em sua sala, por conta das minhas fotos na revista dos Schulman. Já faz um mês desde que fotografei, inclusive, e daqui poucos dias será o lançamento da coleção. Ganhei um bom dinheiro e estou feliz por fazer algo diferente para mim mesma.

Porém, estou me sentindo culpada, talvez eu esteja fazendo demais, e esquecendo que meus filhos também têm uma vida e que dependem de mim, por enquanto. As aulas começaram no mês de agosto, e como fiz as matrículas apenas no fim do mês, eles se atrasaram um pouco. Faz algumas semanas que minha rotina é ir para a empresa, almoçar em casa, trazê-los até a escola e voltar para a agência. No fim da tarde, eles chegam no prédio e ficam brincando com outras crianças, filhos de funcionários, como eu. Estamos nos acostumando, aos poucos.

- Chegamos! - Digo, tirando os dois de suas adaptações no banco traseiro.

- Hoje vamos brincar de pintar, mamãe! - Alicia se alegra, contagiando o irmão.

- É mesmo? - Sorrio, pegando em suas mãozinhas para levá-los até o portão.

- Sim! A cor mais bonita é a azul, parece o céu - diz, não me surpreendendo.

Sua cor favorita é azul, desde pequena gostou, e foi sua primeira palavrinha, apontando para uma piscina na casa de um dos amigos ruins de seu falecido pai.

- Eu gosto de laranja, - comenta, Noah, balançando sua lancheira pequena, - é a cor do cabelo da Aninha e da Lili.

Abro um sorriso, sentindo um calorzinho no peito. Ele admira tanto a irmãzinha, o que me enche de orgulho.

- E minha cor 'tá' bem nos olhos dela. - A menina pula, tentando se exibir para o gêmeo.

Ele dá de ombros, então chegamos no portão e me abaixo para me despedir. Na primeira vez que fiz isto, foi como se eu estivesse deixando meu coração para trás.

- Prometem que vão se comportar?

- Clalo, mamãe. Eu fico de olho nele - diz, Alicia, estreitando os olhinhos.

Solto um riso, beijando as bochechas de cada um demoradamente.

- Eu amo vocês, certo? Se forem bonzinhos com todos a semana inteira, faço uma surpresa bem legal para os dois.

- O quê? - Noah se agita.

- É surpresa, vão precisar de um bom comportamento para descobrirem.

Um funcionário se aproxima, sorrindo para nós. O cumprimento e entrego meus filhos a ele, que os carrega para dentro com uma conversa bem animada. Sorrio, sentindo-me como da primeira vez, como se meu coração ficasse ali.

×××

Já na empresa, fico entretida em dezenas de pastas espalhadas por minha mesa. Cada uma tem tantos papéis, que fico desnorteada apenas ao olhar de longe. Em dias como este, que faço muitas leituras, chego em casa com uma dor de cabeça insuportável. Preciso separar tudo por ordem alfabética, em nome das marcas, e não dos proprietários.

- Muito ocupada?

Olho para cima, vendo meu chefe com um dos braços apoiado na bancada, de frente para o meu rosto. Sorrio e balanço a cabeça, reparando que ele está com sua maleta.

- Vou precisar fazer uma viagem de emergência, remarque tudo para a semana que vem.

- Claro - respondo, sem saber muito o que dizer.

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