Capítulo 40

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Ayla Jones

As semanas foram passando e Malu estava se adaptando ao mundo novo. Ela não chorava muito, para a nossa sorte era bem calma. Alex e Dylan perderam os pais novos demais. E Amber tinha perdido os pais a alguns anos. E a minha família vocês já sabem. Então Malu iria crescer sem nenhuma referência de Avô ou Avó, o que seria péssimo. Mas teria os melhores tios do mundo e a melhor prima do mundo. E isso bastava.

A três anos atrás eu estava correndo na floresta, fugindo, morrendo de medo. E tendo a certeza de que morreria em breve. Graças a Deus eu achei esse Bunker. Tive a sorte de Amber e Alex me deixarem ficar. E depois de todo o caos, no fim do mundo eu consegui uma família. Se eu era a mulher mais feliz do mundo? É obvio que sim.

Colho o ultimo fruto da nossa horta e me levanto. Lavo as minhas mãos e os frutos. Coloco tudo na geladeira e vou andando até o quarto. Fico parada na porta admirando a cena. Dylan deitado na cama com Malu ao lado dele. Os dois dormindo de barriga para cima quase na mesma posição. Grace estava sentada no chão do quarto desenhando os dois.

Ela decidiu a alguns dias a desenhar retratos de Malu para ela ter lembranças quando crescer. Ela me mostra o desenho e eu faço um sinal de positivo. Ela sorri e volta a desenhar. Eu saio do quarto e vou andando em direção a garagem. Abro a porta e fico olhando o céu. Estava escuro e provavelmente a próxima chuva chegaria em breve. E dessa vez seria acida. As duas últimas não foram e com isso conseguimos coletar água.

Amber se aproxima com uma caneca de chá e me entrega. Nos sentamos no chão da garagem e ficamos olhando a paisagem. Tudo estava morto e seco. O solo não tinha vida, não existiam bichos na floresta, insetos no chão nem mesmo pássaros no céu.

-Malu vai fazer dois meses daqui a pouco. Passa muito rápido. - Amber fala nostálgica.

-Nem me fale. Daqui a pouco ela vai estar correndo pelo Bunker. - Falo rindo.

-Que saudade dessa época da Grace. - Amber fala rindo.

A chuva começa a cair, a água não tocaria na nossa pele, estávamos protegidas pelo telhado da garagem e os casacos de moletom, então eu fico parada exatamente aonde eu estava. A chuva começa como sempre com um cheiro de terra molhada, um cheiro que na verdade só existe na nossa memória, e alguns segundos depois vem o cheiro de ácido que faz arder o nariz e os olhos. Mas dessa vez ele não vem, seria a terceira chuva normal seguida. Eu me levanto ainda sem acreditar e vou andando em direção a chuva.

-Ayla volta. Esta maluca? - Amber se levanta assustada e tenta segurar a minha mão.

-É chuva normal. - Falo sorrindo.

Deixo a água molhar o meu corpo por mais alguns minutos e dessa vez não sinto dor ou ardência. A água não tinha o gosto da água do Bunker, mas de verdade eu nem lembrava mais o gosto. Amber corre para dentro do Bunker. Eu tiro meu casaco e jogo dentro da garagem. Sinto a roupa ficar ensopada no meu corpo. E que saudade dessa sensação.

Alex aparece assustado na porta da garagem. Fica me observando por minutos até que se aproxima um pouco mais. Estende o braço e mesmo com medo deixa a água cair sobre a pele. Fica analisando a sensação por alguns minutos e me olha sorrindo. Ele vem correndo em minha direção e beija a chuva molhar o corpo. Começa a dançar como um louco e logo depois Grace vem correndo na nossa direção. Ficamos dançando nos três na chuva e dessa vez sem medo. Amber acaba se rendendo e vem andando em nossa direção.

-Os coletores. - Alex grita e corre para dentro do Bunker.

Depois de alguns minutos ele volta junto com Dylan e volta correndo para dançar na chuva. Dylan fica nos olhando sem entender nada, mas logo vem correndo. Depois de três anos com medo, tivemos nossos minutos de paz. Dylan me beija com vontade e me pega no colo. Dançamos na chuva por longos minutos e entramos em casa. Trocamos de roupa para evitar o resfriado e passamos a noite escutando a chuva cair.

...

No dia seguinte acordei com Malu chorando de fome. Coloquei ela no peito e me levantei, passei pela sala e chegando na cozinha escutei o barulho do rádio, vou andando até a dispensa e escuto os homens falando. Todos estavam sentados em volta do rádio ouvindo atentamente.

-Isso mesmo. Essa foi a terceira chuva normal. Acho que dessa vez os cientistas conseguiram. - O primeiro homem fala animado.

-Agora temos esperanças. Ficamos sabendo que eles mantiveram uma espécie de zoológico para proteger os animais e evitar a extinção. - O segundo homem fala.

-Exatamente. Precisamos deles para ajudar a natureza. E sobre o solo parece que eles estão estudando como vamos resolver esse problema. - O primeiro homem fala comemorando.

-Parece que chegamos ao fim do fim do mundo. - O segundo homem fala aliviado. - Mas ainda não é hora para abandonar o bunker. Pedimos a todos os sobreviventes que esperem um pouco mais. Só por... precaução.

Desligamos o rádio e nos sentimos mais tranquilos. Foram três chuvas normais. As vezes a gente tinha uma chuva normal e três acidas. Então isso já era um começo. Nosso reservatório de água estava cheio, mas a nossa comida estava acabando. Essa melhora estava vindo em boa hora.

Passamos o resto do dia jogando em dupla. Meninas contra meninos. Na esperança de passa o dia mais rápido. Dylan estava comendo quase nada porque deixava a comida pra mim. Minha produção de leite não estava tão grande, mas eu conseguia alimentar Malu. Passamos o dia tentando pensar positivo.

...

Quatro dias depois da terceira chuva normal, os homens do rádio pediram que todos os sobreviventes se apresentassem em um determinado endereço. Passamos dois dias pensando o que deveríamos fazer. Primeiro que a gente não sabia quem eram esses homens. Segundo que poderíamos encontrar outras pessoas no caminho, o que seria arriscado. E terceiro que a gente teria que deixar a nossa casa na esperança de conseguir algo.

Os homens no rápido passaram um ponto de encontro para cada cidade. Algumas cidades não tinham que era o caso da nossa. Então teríamos que ir para a cidade vizinha. E isso daria quatro horas de viagem. Eles informaram que essa era uma ação do governo junto com empresas privadas. E eu nem sabia que isso ainda existia.

Dylan pegou o mata e começou a traçar a rota. Olhou nosso estoque de armas e comidas. Pensamos e analisamos bem a situação e no final decidimos ir. Colocamos tudo em mochilas. Tiramos o resto da gasolina do carro de Dylan e colocamos no carro de Alex. Pegamos mais alguns galões de gasolina e colocamos na mala do carro.

-Deveríamos ir no meu carro. - Dylan resmunga.

-Dylan. Já discutimos isso. Não tem necessidade de queimar mais gasolina para usar dois carros. E o meu carro é maior. - Alex fala casado do assunto.

-Dylan. Vamos deixar tudo fechado. Qualquer coisa vamos voltar pra cá. E se tudo der certo, depois de algum tempo vamos voltar. - Falo e Dylan aceita.

Os olhos de AylaOnde histórias criam vida. Descubra agora