Ayla Jones
O ano era 2028. E eu estava com um vestido sujo, uma alpargatas mais suja ainda. Com o cabelo solto. Correndo desesperada para o mais longe possível. Estava com medo de ser encontrada pelo meu passado e ao mesmo tempo com medo de ser pega pela chuva.
Eu não sabia o que estava acontecendo direito. Aproveitei o pânico da chuva para conseguir fugir. Não deu tempo de pegar nada. Apenas correr. Eu já estava correndo a algum tempo, só não sabia o quando. Às vezes eu olhava pra trás na esperança de ter corrido tanto ao ponto de não reconhecer mais nada. Mas sempre que olhava reconhecia a passagem atrás de mim. Parece que nunca era longe o bastante. O poderia correr para o resto da minha vida e mesmo assim não era o bastante. Essa era a sensação que eu tinha.As nuvens se formavam. Tão densas que pareciam uma enorme cortina se formando em cima de mim. A cada minuto piorava mais. O céu ficava mais cinza. E o meu medo só aumentava . O que eu sabia da chuva? De verdade, eu não sabia quase nada. Escutei por alto que já tinha matado 35 pessoas no mundo todo. E que essa chuva só tinha começado a algumas horas em alguns países. Nem todos lugares tinham recebido essa chuva. Ninguém sabia ao certo como era essa chuva, quanto tempo duraria e quais os estragos temporários e ao longo prazo que ela faria. A única coisa que a gente sabia era que tinha que se esconder. E só sair quando a chuva acabar, se ela acabar.
Eu estava tão desesperada e presa nos meus pensamentos que nem percebi o quão feio o céu já estava. Escuto um trovão e me assusto. Juntando a velocidade, desespero e o medo do Raio. Porque eu não sei vocês leitores, mas eu morro de medo de raio, me julguem se quiser. Quando eu percebi eu estava no chão, devo ter tropeçado no vento, senti uma pressão na testa e algo quente. Quando passei a mão na cabeça só via sangue. Eu estava um pouco tonta. Tentei me sentar e olhar em volta. Foi quando eu percebi bem escondido um Bunker. É óbvio que teria alguém lá. Seria muito azar bater na porta de um Bunker vazio no meio do apocalipse.
Me levantei com dificuldade e fui até a porta do Bunker. Comecei a bater na porta e gritar como uma desesperada.- Por favor... Me deixe entrar... Eu estou sozinha.. desarmada ... Por favor.... estou ferida...
Escuto outro trovão e entro em pânico. Começo a gritar mais rápido, a bater com mais força. Meu desespero só vai aumentando. E ninguém me escuta. Ninguém abre a porta não é possível que eu estava batendo na porta do único Bunker vazio. Sinto um cheiro forte no ar. Não era cheiro de chuva ou de terra molhada como era comum na chuva. Mas um cheiro que queimava o nariz e ardia os olhos. Percebo as primeiras gotas caírem. E nesse momento eu entendi porque o nome de chuva ácida e o pânico das pessoas. Sinto uma gota cair no meu ombro e junto com ela minha pele queimar. Acho que pude escutar o barulho da pele queimando. A dor era insuportável e a gota era bem pequena, mas o estrago era grande, uma grande queimadura se formou no meu ombro. Ajoelho na frente do Bunker, ninguém iria abrir e eu morreria ali na frente da porta. Sinto mais uma gota mas nessa vez cai no meu braço. Dou outro grito de dor. E então o milagre acontece. A porta do Bunker abre e uma mulher fala nas sombras. Não consigo ver quem é ou se ela está sozinha.
- Vem... Entra logo. Vai morrer aí fora. – Ela estende a mão.
Não penso duas vezes, estendo a mão pra ela. A mulher segura e me puxa com força pra dentro. Eu caio nas escadas e a porta se fecha atrás de mim. Fico sentada com os olhos fechados, encolhida, morrendo de dor. Escuto uma movimentação mas não consigo abrir os olhos. Meu ombro queima, meu braço queima, meu olho arde, não estava fácil de respirar e minha cabeça estava doendo muito. Não tinha nem forças para ficar com os olhos abertos ou manter a consciência. Era um pouco de tudo, dor, fome, falta de ar e cansaço pela correria. Quando percebo desmaio sentada na escada mesmo com muito medo de morrer lá dentro.
(...)
Acordo algum tempo depois, deitada em uma cama. Não muito confortável. Mas ela bem melhor que a minha. Minhas roupas foram trocadas, eu estava com uma calça de malha preta, uma blusa branca de alça e curativos no ombro, cabeça e braço. Alguém tinha me dado banho. Quando me dou conta de tudo e lembro da porta do Bunker abrindo desperto em um susto e sento na cama de uma vez. Fico tonta e tento me apoiar em algo. Minha visão fica um pouco embasada. Mas escuto uma criança, uma menina na verdade correr e falar.
- Mamãe a moça acordou.
Consigo abrir os olhos direito. Olho o espaço, estou no Bunker. Tudo era um pouco escuro, vazio e frio. Muito frio. Tento sair da cama. Coloco o pé no chão gelado. Levanto e sinto uma mão segurar meu braço. Olho para a pessoa. Era uma mulher. Com um sorriso simpático. Ela me ajudou a voltar para a cama.
- Melhor não se levantar. A batida na cabeça foi forte. Melhor ficar deitada por um tempo. – ela sorri e me faz deitar e me arrumar na camam. Coloca um cobertor em cima de mim.
- Você que me ajudou a entrar ? – pergunto, ela sorri
- Sim. Agora descansa. Está segura aqui. – quando ela termina de falar escuto uma arma engatilhar. Levanto de uma vez só e procuro a pessoa.
Era um homem com cara de psicopata vou maluco, eu estava na dúvida. Ele me olhava sério e com raiva. Apontava a arma pra mim. Com uma mão segurava a arma e com a outra um copo de bebida. Parecia ser bebida alcoólica. Falo sem querer.
- Quem deu a arma para um bêbado ? – Falo um pouco irritada e assustada – Abaixa essa arma. Está maluco?
- O bêbado aqui é dono da porra do Bunker e ele não te quer aqui dentro. – ele fala apontando a arma pra mim e da um gole.
- Não seja por isso. Eu vou embora. – Levanto um pouco tonta e ele continua me acompanhando com a arma apontando pra mim.
- Não precisa disso. Dylan abaixa a arma por favor. – A moça simpática fala com a mão estendida para o babaca bêbado. – Alex vem aqui por favor.
Surge um homem com uma criança. Provavelmente a mesma que escutei falar antes. A criança de assusta ao ver a arma. O homem também é vai em direção ao babaca. Ele aponta para a menina e o babaca vê que a garota se assustou.
- Dylan, relaxa por favor. Ela não está armada e não tem como ela sair agora. – O homem fala tentando negociar.
- Ela não vai ficar. Não tem espaço nem comida pra ela aqui. E não vou colocar vocês em risco com uma estranha. – o babaca fala de novo.
- Quem disse que eu quero ficar Senhor babaca? – Falo e vou em direção a porta.
- Você falou o que ? – Ele fala sem acreditar e com um sorriso de deboche no rosto e vira o copo de uma vez. Coloca o copo sobre a mesa.
- Quando fica bêbado fica surdo também ? Ainda bem que é um babaca com Bunker, desse jeito não iria sobreviver lá fora. – Falo e vou subindo as escadas.
- Eu espero que você seja imune a chuva ácida porque o babaca do Bunker não vai te deixar ficar. – ele fala abrindo a porta, olha para o meu ombro e meu braço – É... Pelo jeito você não é imune. Que pena. – Ele gesticula com a arma pra eu sair.
Escuto a chuva forte. A porta abre e sinto o cheiro outra vez. Meu olhos ardem e o dele também. Dou um passo pra trás chegando perto dele. Ele encosta a arma nas minhas costas.
- Saí agora. – Ele fala com raiva.
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Os olhos de Ayla
ActionA terra estava passando por grandes mudanças, e não eram boas. Uma chuva ácida estava chegando e todos precisavam se proteger. O clima de pânico estava ativo na terra e as pessoas tinham medo de sair de casa, mas ao mesmo tempo tinham medo de ficar...