Dylan Collins
O diretor terminou de nos contar a história e nos encaminhou para outra pessoa. Uma mulher que iria identificar para qual setor de trabalho nos mandaria de acordo com a necessidade do centro. Amber ficaria na parte médica, isso não era surpresa para ninguém. Eu, Alex, Fred e David, o irmão de Fred, ficamos no setor das plantações. Ayla, Lívia e Miriam, esposa de David, foram mandadas para a cozinha.
Saímos do setor com os papéis com mapas e horários do nosso trabalho e escola, recreação e berçário das crianças. Nos foi entregue também a localização da nossa ilha. Saímos do prédio principal, pegamos os carros e nos direcionamos para o prédio das Ilhas. Na entrada tinha uma placa sinalizando as ilhas e seus números. O da minha família era o 22, da família de Alex era o 21, da família de Fred era o 23 e o da família de David era o 24. Paramos o carro na entrada da nossa ilha e ficamos observando.
Era parecido com um Bunker, só que em cima da terra. A estrutura era de ferro, oval, tinha uma porta de entrada. Eu abri a porta e nos entramos. Tinha uma sala simples. Mas com móveis, um corredor que tinha um banheiro, do outro lado uma cozinha, um quarto para o casal e um para Malu. Era perfeita dentro da realidade atual.
-Está perfeito. - Ayla fala sorrindo.
-Essa é a nossa casa. - Falo e beijo Ayla.
Nos saímos da casa e encontramos Amber e Alex descarregando o carro. Separamos as nossas coisas e começamos a guardar as coisas dentro das casas. Depois de três anos morando juntos era estranho ter que se separar. Mesmo sendo vizinhos.
Recebemos no meio dos papéis o cronograma das rotinas e explicando os setores. As plantações eram divididas em plantar, colher e separar. Eu fiquei com a parte de separar junto com Alex e Fred e David na colheita. Essa comida era mandada para a cozinha, que na verdade parecia ser um mercado. Depois de separar o que estava bom para o consumo e o que não estava, dentro do mercado era separados para as famílias. E essa era a função das meninas. Depois tinha o serviço de entrega que ficava na saída da cozinha, as pessoas ia entregando os alimentos para as famílias que levavam para casa.
As crianças tinham aulas com professores que sobreviveram, aprendiam sobre como cuidar do novo mundo. E as matérias tradicionais que já existiam antes de caos. As crianças tinham recreação, momentos para brincadeiras e contar histórias.
Durante a noite existiam confraternizações para unir o povo. E os feriados ainda existiam e eram comemorados. Como natal, páscoa, ano novo. Mas tudo adaptado para a nossa realidade.
No nosso primeiro dia em Saratov decidimos não sair de casa. Ficamos trancados e Ayla não conseguiu dormir a noite. Recebemos duas refeições durante o dia. E no dia seguinte o nosso nome já estava na lista tanto dos trabalhos quanto das comidas. Eu me despedi de Ayla de manhã e ela ficou com receio de deixar Malu na Creche, mas acabou deixados. Nossos trabalhos tinham a duração de seis horas. A gente chegava no setor as nove horas da manhã, meio dia todo mundo ia para casa, voltava uma hora para trabalhar e saia as três.
Na parte da tarde era reservada para ficar com os filhos e participar de oficinas. Eu estava tentando confiar neles. Era um sistema novo, um mundo novo e uma vida nova. As pessoas não eram ruins. Mas a gente tinha medo, nada poderia ser tão perfeito assim, não depois de tanto sofrimento.
...
Com duas semanas Grace já estava mais que adaptada, já tinha feito novas amigas e as vezes ficava brincando com elas até tarde. A família de Fred e Lívia já estavam se sentindo em casa e estavam começando as oficinas. Alex e Amber estava tentando se abrir para Saratov. Mas eu e Ayla ainda estávamos desconfiados.
Ela deixava Malu na creche e passava o tempo inteiro preocupada. Depois que acaba nosso período de trabalho a gente voltava para a ilha e se trancava. Alex e Amber vinha nos visitar. Mas no geral a gente ficava trancado dentro de casa.
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Depois de um mês vivendo em Saratov tivemos a certeza de que a chuva acida não voltaria mais. O clima estava começando a voltar ao normal. Não chovia o tempo todo e a colheita estava começando a melhorar. Eu fui transferido para a fazendo e tenho que assumir que gostei mais. Grace amava os animais e com isso eu sempre recebia a visita dela e no futuro receberia de Malu.
Ayla estava começando a confiar nas pessoas e nossa vida de casado estava começando. Ela estava pensando em tentar uma vaga no berçário, mas ainda estava indecisa. Amber estava fazendo cursos para cuidar especificamente de mulheres gravidas. E Alex estava feliz na fazenda. A família de Fred estava se sentindo em casa, eles se adaptavam muito fácil as coisas. E isso era ótimo para eles.
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Malu já estava quase completando quatro meses. Ayla já estava mais alegre. A gente tinha comida sempre e não era necessário ficar economizando. A gente já estava dormindo sem medo. E cada um já estava mais que adaptado a rotina de trabalho. Ayla estava treinando para conseguir a vaga no berçário, então todo dia era uma novidade.
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Percebemos que mesmo depois de todo o caos, de todo o medo que o fim do mundo nos proporcionou, ainda assim poderíamos ser felizes. Somos sobreviventes. E agora podemos parar de sobreviver e apenas viver.
Conhecemos pessoas incríveis, toda sexta feira nos reunimos. As crianças ficam brincando e comendo e os adultos compartilham as suas histórias. Conhecemos pessoas que perderam tudo, que viveram se abrigando em mercados e casas abandonas porque não tinham um bunker. Conhecemos suas cicatrizes, marcas que vão ficar para sempre e contar a nossa história. Aprendemos a confiar e trabalhar em equipe para a sobrevivência da raça humana.
Não vou dizer que Saratov é perfeita, ela não é. Tivemos que expulsar algumas pessoas que queriam ter mais que outras. Mas no geral é perfeito. Sobrevivemos ao fim do mundo e ainda não acreditamos. Como os cientistas resolveram os problemas? Ainda não foi revelado. Vivemos com o medo de ter uma nova chuva ácida, não vou mentir. Mas estamos vivendo um dia de cada vez.
Sento-me na cadeira em frente a minha casa. Vejo Ayla brincando com Malu e Grace. Malu iria completar seis meses. Estava esperta e cada dia mais ruiva. Grace estava animada porque depois de três anos poderia comemorar seu aniversário e teria vários amigos dessa vez. Sinto aquele cheiro familiar, terra molhada. E depois de alguns segundos a chuva vem. Todos correndo assustados para se abrigar.
Ayla me olha do outro lado da rua enquanto ela se abriga na varanda de um vizinho. Estica a mão para deixar que os primeiros pingos de chuva toquem a sua pele para ela ter certeza de que a chuva não era ácida. Ela confirma com um sorriso, segura Malu mais perto do corpo e corre para a chuva, ela começa a dançar sorrindo junto com Grace. As pessoas começam a se aproximar aos poucos. Alguém liga um som alto com uma música instrumental antiga. Eu me levanto sorrindo e me aproximo delas. Amber e Alex começam a dançar ao meu lado. Abraço Ayla e a beijo com vontade. Ela me olha sorrindo e se aproxima do meu ouvido.
-Parabéns papai. Um novo bebê está a caminho. - Ela sorri, me pede segredo e eu a beijo.
Estamos vivendo na Saratov 183. Esse é o nosso lar agora. Estamos recomeçando a nova vida. Dessa vez tento mais consciência dos nossos atos, dessa vez cuidando da terra. Aprendendo a dividir e construindo a nova sociedade, o futuro da raça humana. Um migre nos salvou e sem dúvidas vamos dar valor. E hoje podemos dizer sem medo, sim, Sobrevivemos ao fim do mundo.
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Os olhos de Ayla
ActionA terra estava passando por grandes mudanças, e não eram boas. Uma chuva ácida estava chegando e todos precisavam se proteger. O clima de pânico estava ativo na terra e as pessoas tinham medo de sair de casa, mas ao mesmo tempo tinham medo de ficar...