Ayla Jones
Vejo o carro sair e meu coração aperta. Acho que era melhor quando eu não tinha sentimentos. Era mais fácil. Mas vai dar tudo certo, em 6 horas eles voltam. Agora era só esperar. Logo eu que nunca tive paciência. Eu devia ter sido forte, ter ido com eles. Eu nem sei o que fazer aqui. Sento no sofá e fico esperando? Durmo? Jogo? Eu definitivamente odeio esperar, isso não é pra mim.
Então vamos começar uma contagem regressiva. Só que de 6 horas. Espero que antes disso eu não surte e saia de casa atrás deles. E espero que eles não se atrasem.
Começo o dia arrumando o bunker, tudo, arrumando as roupas, louças e itens da despensa. Em seguida vou para a Horta, planto um pouco mais e cuido do que estava nascendo. Organizo todas as ferramentas da horta e olho o relógio.
-Faltam 3 horas ainda. Porque essa droga de tempo não passa? E não estou contando com os atrasos. - Falo pra mim mesma.
Vou para a cozinha e Amber e Grace estão jogando na mesa. É só mais um dia normal para elas. As duas sempre ficam no bunker, eu que ficava nas viagens, pra mim que está sendo ruim essa espera, mas para elas, está tudo tranquilo.
-Calma, vai passar rápido. - Amber fala sorrindo - Com o tempo você se acostuma.
-Não vou aguentar ficar aqui nessa espera na próxima vez. - Falo nervosa.
-É bom alguém que se importe e goste assim do Dylan. Ele precisa disso. Depois da Alice tudo foi tão difícil. - Amber fala pensativa.
-Quem foi Alice? - Falo curiosa
-Alice foi a esposa de Dylan. Minha melhor amiga, desde a infância. - Amber olha sorrindo e deixa cair uma lagrima. - Eu conheci Alex a muito tempo, com amigos em comum. Começamos a sair e depois a namorar. Dylan estava solteiro e Alex preocupado porque ele andava bebendo muito. Alice era minha melhor amiga, então decidi apresentar os dois. E foi amor a primeira vista, começaram a sair e Dylan por um tempo diminui as bebidas.
Ela sorri e faz um sinal para Grace ir para a sala. Nós sentamos e ela continuou.
-Eles foram morar juntos, Alice queria casar, mas Dylan falava que era bobeira. Então moraram juntos por dois anos. Eles eram felizes, mas Dylan não se segurou e voltou a beber, e então começaram a brigar por isso. Alice vivia chorando e dizendo que não sabia o que fazer. Mas que não queria se separar. Eu me arrependia todos os dias de ter apresentado os dois.
Ela suspira e as lagrimas começam a vir, eu seguro a mão dela. Amber Respira fundo e continua contando.
-Até que um dia Dylan saiu para beber como sempre e quando voltou a casa tinha sido invadida e mataram Alice, roubaram tudo. Ele chegou no dia seguinte de manhã com a polícia na casa dele, um vizinho escutou o tiro e chamou a polícia. De início ele era suspeito, mas depois viram que ele nunca machucaria Alice, o assassino nunca foi achado e não sabemos o que aconteceu nem porque aconteceu dessa forma.
Amber chora por alguns minutos. Levanta e lava o rosto, seca e senta outras vez tentando se segurar.
-A culpa que ele sentia foi tão grande que ele abandonou a casa. Comprou outra no meio da floresta. Antes disso ele foi morar com a gente por um tempo. Mas Alex voltou a beber e ele também, eu e Alex tivemos uma briga e ele me deu um tapa no rosto. Grace viu e bastou para ela entrar em pânico. Nunca brigamos, só dessa vez. Nesse dia Grace teve febre emocional. Dylan saiu da nossa casa no meio da noite e Alex nunca mais bebeu. Eles ficaram um tempo sem se falar. Dylan se sentiu culpado outra vez, então ele começou a gastar dinheiro com coisas idiotas, tipo esse Bunker - Ela ri - Foi o que pensamos na época. Mergulhou no trabalho como se não tivesse mais nada para fazer na vida.
Ela fica me contando tudo e eu penso a vida de merda que ele teve. Perdeu a esposa, abandonou tudo, ficou sem o irmão, morando isolado na floresta. Por isso que ele agiu daquela forma no início. Agora eu entendo. Eu era uma estranha invadindo o Bunker dele, o que iria garantir que eu não mataria o que restou da família dele? Agora eu entendo, ele não deixou de ser um babaca, mas agora eu entendo porque ele é um babaca.
Olho o relógio de novo, faltam duas horas. Preparo uma tapioca para comer e Grace aparece com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança.
-Também queria uma Tia Ayla. - Ela fala com uma voz fofa.
-Ok... Senta ai. - Falo rindo, ela sabe me enrolar.
Começamos a cantar e preparar tapiocas, Amber estava no quarto organizando as coisas dele e os brinquedos de Grace.
Terminei de preparar, começamos a comer. Eu olhava o relógio toda hora e me forçava a ouvir o mais longe possível, na esperança de escutar um carro. Mas não poderia ser qualquer carro, tinha que ser o deles.
Terminamos de comer, eu lavei tudo e arrumei. Então, eu, Grace e Amber começamos a jogar uno. É tedioso jogar com três pessoas e dentro de um Bunker, mas era o que tinha para a hora. Jogamos algumas partidas e as horas se arrastava. Eu estava começando a ficar mais ansiosa do que antes. Grace estava cansada de jogar e decidiu ficar na cama brincando com os bichinhos de pelúcia. Eu e Amber ficamos no chão da sala.
-Me conte a sua História Ayla, não sei muito de você - Amber me tira de mais pensamentos.
Começo a contar toda história da minha vida. Calvin ser dono de tudo e meu pai estar devendo aluguel para ele. Mas ela já sabia dessa parte. Conto da minha fuga e de como foi estar na floresta. Dos medos que eu sentia e de como era bom e assustador estar livre. E de como foi triste consegui essa liberdade no fim do mundo.
-Me conta a História de não poder ter filhos. - Ela fala e meus olhos se enchem de lágrimas.
Não fácil falar sobre isso. Muitas lembranças ruins vinham. Mas ela estava certa, eu estava la a muito tempo e ninguém sabia nada de mim. De incio eu tinha medo de contar e Dylan me expulsar do Bunker, mas acredito que ele não vai mais fazer isso. Então eu não precisava me prender mais, me esconder mais e nem colocar tantas defesas aqui com eles.
Os Collins era uma familia boa. Eles me acolheram, mereciam saber do meu passado. Mesmo que fosse muito triste e escuro.
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Os olhos de Ayla
ActionA terra estava passando por grandes mudanças, e não eram boas. Uma chuva ácida estava chegando e todos precisavam se proteger. O clima de pânico estava ativo na terra e as pessoas tinham medo de sair de casa, mas ao mesmo tempo tinham medo de ficar...