Capítulo 18

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Ayla Jones

Acordo tento um pesadelo e olho para o lado, Dylan não estava la. Vejo a hora e está tarde. Perdi a hora. Levanto vou até meu quarto, pego a primeira alpargatas que vejo, coloco nos pés e vejo que não combina em nada. Mas não me importo. Estou cansada por causa do pesadelo e da correria. Me sinto angustiada por ter matado o cara, tive que enfiar uma faca nele. Não é a primeira vez que eu mato alguém, é a segunda. Mas dá primeira vez foi um tiro, pra falar a verdade eu fechei os olhos, o primeiro tiro foi no braço e o segundo na barriga. Tinha muito sangue. Mas eu estava longe, não tinha sangue em mim. E sei lá. Foi diferente, eu fiquei muito assustada, mas não como dessa vez. Dar uma facada no peito em alguém é a pior coisa que eu poderia ter feito, me sinto muito mal.

Coloco o capuz na cabeça e vou andando para horta, tenho que passar pela cozinha primeiro. Espero que não tenha ninguém lá. Ainda não quero ter que encarta ninguém. Tenho medo dos julgamentos. No meu pesadelo eu estava o homem falar " Assassina". Estava com tanto medo deles que acabei me tornando uma. Vou andando bem lentamente para ninguém me ouvir. Passo pela cozinha e eles estão conversando. Vou andando direto pra horta e não falo com ninguém. Escuto Dylan falar quando eu saio da cozinha.

-Não sei o que fazer - Ele fala angustiado - Quero ajudar a Ayla, mas ela tem uma barreira invisível, não sei até aonde posso ir.

Sim preciso assumir que tenho uma barreira. Desde nova tive que aprender a me proteger sozinha. Ninguém me criou. Minha mãe morreu quando eu era nova. E meu pai alcoólatra. Ele esperava o que de mim? Uma princesa carinhosa ? Não fui criada com isso. E depois disso tudo ainda morei com o Calvin, a pior parte da minha vida. O momento que acabou com tudo. Depois disso fiz minhas armas. Aumentei minhas defesas. E me tornei a versão mais forte de mim. Eu precisava e ainda preciso me defender.

Quando ele me conheceu eu estava desesperada. Morrendo de medo de Calvin me achar e com medo de chuva e pra piorar tudo ele foi muito babaca comigo. Estou errada ? Tenho certeza que não. E Dylan não é fácil. Me tira do sério. Mas ele gosta disso. Sinto que ele quer que eu exploda da raiva.

Fico mexendo nas plantas, fazendo a manutenção diária. Queria estar organizando a horta com Grace. Mas ainda não estou bem. Ainda posso ver o sangue nas minhas mãos. O homem morto ao meu lado. E senti a faca entrando no peito dele. Essas cenas nunca vão sair da minha mente. Pensando nisso tudo sinto meu coração acelerar, me dá falta de ar e resolvo ir para a cozinha tentar me distrair. Arrumo tudo, limpo e lavo aos mãos. Vou andando para a cozinha. E começo a escutar a conversa outra vez. Dylan não para de falar e está irritado.

-É o meu Bunker Amber - Dylan fala irritado e da um soco na mesa - Só entra aqui quem eu quiser.

Eu entro na cozinha e fico na porta me olhando de braços cruzados olhando para todos. Amber está seria, mas é nítido que está implicando com Dylan e ele está caindo direitinho na brincadeira. Alex está tentando segurar o riso.

-Teremos visita Rei do Bunker? Quem vai entrar? - Pergunto tentando entender o que realmente está acontecendo.

-Eu disse que estou torcendo que na próxima viagem você encontre um cara bem legal, gostoso, maravilhoso e que você pode trazer pra cá pra ficar com você. - Amber fala e pisca pra mim, Dylan fica me olhando e esperando uma resposta.

-Não vou mais sair... Nunca mais. - Falo e respiro. Estou com medo de sair. Tenho que admitir.

-Pode achar um homem legal lá fora. - Amber continua tentando me convencer, mas meu medo de ter que matar outra pessoa e maior.

-Não nada pra mim la fora. Tudo o que eu preciso está aqui dentro - Dylan deixa escapar um sorriso e eu continuo - Temos comida, nossa plantação, remédios .. - O sorriso dele se fecha.

-Amor? Carinho? Afeto? - Amber fica falando e todos me olhando esperando uma resposta. Fico sem graça - Sexo??? - Sem querer eu olho para Dylan e ele me olha também. Sinto meu rosto queimar de vergonha. Só quero sair da cozinha.

-Vou deitar um pouco. A horta já está vista por hoje. - Falo e saio andando rápido. Iria responder o que?

-Sério Amber? Que porra que você estava fazendo? - Antes de sair escuro Dylan falar muito irritado.

Vou para o meu quarto. Deito na cama e sinto cheiro de Dylan no casaco dele. Tenho que assumir que sinto algo. Mas tenho medo. Não sei o que Dylan sente e ele é tão babaca, tão homem das cavernas e machista. Tenho medo de tentar algo. Mas preciso assumir que quando entrei no carro e olhei pelo retrovisor e vi o desespero dele eu fiquei feliz por saber que ele sente alguma coisa. E triste porque não saberia se iria voltar.

Estamos nessa a um ano. E não vou mentir que amei o episódio do banheiro. O beijo dele. O jeito que me pegou. Meu corpo ferve só de lembrar. Mas depois ele ficou estranho. Parecendo um garoto de colegial que perdeu a virgindade. E depois disso aconteceu tanto coisa e tão rápido.

Estamos no fim do mundo, não é hora de começar relacionamentos, famílias. É a hora do fim. A qualquer momento podemos não acordar mais. Esse pode ser o nosso último dia na terra. A natureza está sempre controle e por culpa nossa. Nós, humanos, fizemos isso. Avisos foram feitos aos montes mas ignoramos todos. E agora o fim está chegando. Os cientistas não sabem o que fazer, não temos solução. E acho que eles não perderam as esperanças e não estão tentando mais. Não recebemos mais transmissão de rádio, nenhum tipo de informação. O mundo se calou. As vezes eu penso que só existe nos cinco no mundo todo.

Fico na cama deitada pensando e acabo caindo no sono.

Estou sentada no carro e olho para o lado. O homem está sangrando ao meu lado. Tinha muito sangue no homem, no carro e em mim. A faca estava enfiada no peito dele ainda. Ele estava imóvel. Só a cabeça que mexia. Os olhos estavam pretos. Ele estava branco e um pouco roxo. O homem olhava pra mim e fala " Assassina,". Começava falando baixo e ia aumentando o tom de voz. Eu estava em pânico, com falta de ar mas não conseguia me mexer. Quando eu conseguia abrir a porta o outro homem aparecia na porta e me impedia de sair. Ele tinha um furo de bala no olho que atravessava a cabeça e era igual só outro homem, cheio de sangue também. Os dois gritavam alto e eu me encolhia no banco com a mão na cabeça e começava a chorar desesperada.

-PARA POR FAVOR EU NÃO SOU ASSASINA - grito e saio correndo desesperada sem olhar pra aonde eu corria, sinto uma mão gelada me segurar com força e dou um soco.

Os olhos de AylaOnde histórias criam vida. Descubra agora