Capítulo 43

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Eu não aguentava. Eu tinha de contar á Catarina o que o meu pai me tinha dito. "Ele usou-te para o que queria e abandonou-te. Tal como eu fiz com a tua mãe". Guardar aquilo para mim não me estava a fazer bem. Nada daquilo me estava a fazer bem.

- Filho da puta... - disse a Catarina. Foi tudo o que saiu da boca dela.

- Ele tem razão. - disse eu limpando as minhas lágrimas.

- Não não tem. Tu e o Berlim não tiveram nada. E ele gosta de ti. Realmente. - disse a Catarina.

- Não, não gosta Catarina. Ele provavelmente odeia-me.

A Catarina respirou fundo e puxou-me para nós sentarmos as duas na cama.

- Quem é que pediu ao Professor para que o teu quarto ficasse mais perto do dele para que se algo acontecesse ele estivesse por perto?

- Estás a falar do quarto da Reh agora?

- No início.

- O Berlim.... - sussurrei sem olhar para ela.

- Quem é que se preocupou por tu estares a chorar depois de falares com o António?  Quem é que te ajudou a sair da loja quando todos fugimos? E ainda te deixou deitar em cima dele para te desinfetarem a ferida da facada? Quem é que subiu as escadas contigo ao colo por não conseguires andar? Quem é que aceitou mentir ao Professor quando nós roubamos a garrafa de vinho... Porque tu pediste para ele mentir?

- Catarina....

- Todo o festival, ele ter a necessidade de te ir buscar o mais rápido possível....

- Isso foi tudo antes... antes de ele me ouvir dizer aquelas coisas horríveis sobre ele.

- Por isso é que tens de falar com ele.

- Eu não vou falar com ele. É que nem penses.

- Tudo bem. Fica com essa dúvida eterna se ele te odeia ou não... - disse ela levantando-se. - Bom... Vou tomar banho.

A Catarina baixou-se, dando-me um beijo no topo da cabeça e saindo do quarto.

Eu suspirei fundo e criei coragem para me vestir. Não fazia sentido. Eu... Eu estava realmente a gostar dele. E já nem o conseguia esconder, nem a mim própria.

Passou-se meia hora e nenhum sinal da Catarina. Decidi sair do quarto para apanhar um pouco de ar, estava farta de estar ali dentro.

Abri a porta e dei de caras com o Berlim. Isto só podia ser um pesadelo. Nem sequer dava para eu fingir que não o vi. Ele estava literalmente á minha frente, provavelmente ia abrir a porta.

- A Catarina está contigo? - perguntou.

- Ela saiu a uma meia hora daqui. - respondi sem olhar para ele.

- Demasiado estranho... - sussurou ele.

Não entendi o porquê dele dizer aquilo, mas também não ia ficar ali para saber. Saí do quarto, desci as escadas e saí de casa, sentindo o vento a bater na minha cara.

Há já algum tempo que não parava um pouco. Ficava sozinha de tudo e de todos e organizava as minhas ideias. E sinceramente já tinha saudades. Encostei-me a uma das paredes exteriores da casa e cruzei os braços, apenas apreciando a vista que não era a mais bonita, mas era confortável.

Mas sabem aquele sentimento de que algo estava ali antes, mas vocês não sabem o que era de tanto que se acostumaram a vê-lo? Eu senti isso e esforcei-me ao máximo para entender o que é que faltava naquela paisagem.

- Filhos da puta. - disse o Berlim, aparecendo ao meu lado e assuntando-me um pouco. Ele estava com uma taça de vinho na mão direita e um papel na mão esquerda.

Não respondi nem comentei. Não queria falar. Não agora, não com ele.

Mas ele estendeu-me a mão com o papel, como que se me estivesse a pedir para ler. Agarrei no papel e li tudo o que tinha escrito. Não podia concordar mais com o comentário dele.

"Queridos Berlim e Sofia;

Como vocês sabem nós temos várias missões para fazer, para que todos fiquem a salvo e bem quando tudo isto acabar.

Desta vez, tivemos de ir todos em missão.... Menos vocês como já devem ter notado. A polícia já vos conhece tão bem... Não daria para disfarçar.

Não avisamos nenhum dos dois porque de certeza que um iria querer vir e ia estragar a nossa missão :( prometemos que para a próxima vos trazemos aos dois.... Se se portarem bem.

Apesar de nós termos algo para fazer, vocês não podem ficar no tédio. Podem, por exemplo, falar um com o outro.

Boa missão para vocês também <3

Professor, Leonor, Catarina, Reh, Sara, Finn, António e Miguel "

- Aposto que sei de quem foi esta ideia... - disse eu.

- Eu também sei. - disse ele.

The ComebackOnde histórias criam vida. Descubra agora