Capítulo 64

49 4 7
                                    

Enquanto nos afastavamos pude perceber a tensão que estava no ar. Quase como se a ansiedade que sentíamos tomasse conta daquele sítio. Eu odiava esse sentimento.

Eu e a Reh paramos perto de uma árvore e ficamos alguns momentos em silêncio, a tentar de alguma forma, arranjar palavras para começar aquela conversa, que provavelmente seria bastante séria, pesada e que teria de ser feita com bastante calma. Até ela suspirar.

- Fui eu que convenci o Berlim a beijar-me. - admitiu ela.

- Tu o quê? - perguntei incrédula.

Ela não podia estar a falar assério. Mas estava. E bastante.

- Deixa-me explicar-te primeiro ok?

- Como é que tu te queres explicar?

- Lembraste hoje depois do Berlim escolher os nossos vestidos? Eu fui a primeira a arranjar-me....
"
Saí do quarto e fui até á sala, onde estavam todos os rapazes, menos o Berlim. Depois de perguntar ao Professor onde é que ele estava, fui até á cozinha onde o encontrei a beber um copo de água.

- Preciso de falar contigo.

- Fala. - disse ele pousando o copo.

- Eu.... Preciso da tua ajuda.

- Essa é nova....

- Sem ironias por favor.

Ele revirou os olhos, então eu continuei.

- Eu preciso que me ajudes a fazer ciúmes ao Pedro.

Ele começou a rir-se e negou com a cabeça, enquanto eu mantive a minha expressão séria.

- Não.

- Berlim por favor. - implorei, juntado as mãos como se estivesse a rezar.

- Porque é que lhe queres fazer ciúmes de qualquer das formas?

- Porque eu já estou farta que ele haja como se o que sentimos um pelo outro não é igual.

- Eu não vou fazer isso. Não agora que as coisas entre mim e a Sofia estão finalmente a tomar um rumo. E além disso, há outras formas de resolveres essa situação, como sei lá.... Por exemplo.... Falares com ele?

- Eu depois falo com a Sofia. Ela vai entender.

- E se ela não entender? É muito a arriscar....

- Berlim, por favor.
"

- Tu obrigaste-o mesmo a fazer isso? - perguntei.

- Deixa-me acabar a história.

"
- Tu sabes que ela já não gosta muito de nós os dois juntos depois de tudo o que aconteceu.... E porque é que me estás a pedir isso a mim de qualquer das formas?

Eu cruzei os braços e encarei-o.

- Por causa.... - comecei.

- Oh, sim, daquela vez... Hum hum.

- Então temos um acordo? - perguntei.

- Infelizmente. - suspirou.
"

- "Daquela vez"? - perguntei.

- Lembraste... Depois de te tirarmos da prisão? Quando eu e o Miguel fomos apresentados e depois tu não querias dormir no quarto do Berlim então nós fomos fazer uma reunião no quarto e tu acabaste por dizer que o Berlim não era o que procuravas porque ele violava e raptava mulheres e ele ouviu e vocês ficaram chateados?

Eu dei um sorriso falso.

- Oh sim... Muito obrigada por reviveres essa memória... - disse eu ironicamente.

- Então, depois disso eu e o Berlim ficamos mais próximos "do nada" certo? Então... Não foi do nada. Foi um plano para te fazer ciúmes. Para provar que ele realmente era o que procuravas. E deu certo.

- ISSO TAMBÉM FOI UM PLANO?

- Foi. Desculpa.

Ficamos mais algum tempo em silêncio, enquanto eu tentava assimilar toda a informação.

- Estás bem? - perguntou a Reh.

- Estou desapontada.... Mas não estou surpresa.

- E isto foi mais uma prova que tu realmente gostas dele.

- Sim eu.... Tenho estado a aceitar isso...

- Mas desculpa mais uma vez. Eu não devia ter feito isto sem pensar em ti...

- Está tudo bem. Tecnicamente este tempo todo eu estive a dizer que não gostava dele.

Ela abriu os braços e nós as duas abraçamo-nos.

- Então... Acho que agora deverias falar com outra pessoa. - sugeriu a Reh.

Olhei para quem estava na mesa, mais especificamente para ele e percebi que o Berlim estava a olhar para nós. A Reh fez-lhe sinal e ele começou a andar até nós.

- Boa sorte. - disse a Reh, começando a ir embora.

Ele finalmente chegou perto de mim e aquele momento de silêncio que eu tinha tido com a Reh voltou a acontecer, mas não por muito tempo.

- Não te fica bem. - comentou o Berlim, metendo as mãos nos bolsos.

- O quê?

- O casaco.

Sorri e balancei a cabeça em negação. Não havia maneira dele mudar. Eu não iria querer que ele mudasse. 

- Então o que é que me fica bem?

Ele olhou-me de cima a baixo e deu-me um dos seus sorrisos maliciosos.

- Ok não respondas.

Ele aproximou-se de mim, fazendo-nos ficar a alguns centímetros de distância. Desviei o meu olhar para a mesa, onde todos conversavam sem nem sequer olharem para nós, mas não por muito tempo, já que o Berlim meteu a mão na minha bochecha e moveu a minha cabeça para o meu olhar voltar para ele.

- Eu estou aqui. - disse ele.

- Já alguém mencionou o quão ciumento tu és?

- Não. Até agora.

Suspirei fundo. Apesar de eu estar a gostar de todas estas provocações, isto não podia continuar assim.

- Berlim.... Nós os dois... Nós precisamos de conversar...

- Eu sei. Ultimamente não me parece que tenhamos tido muito tempo para isso.

- Exatamente e...

- Mas antes disso... Lembras-te quando o António me fez a consequência de beijar alguém e eu beijei a Reh?

- Sim.... Isso aconteceu á uma hora atrás...

- Pois é. Então...

Antes que eu tivesse tempo de fazer qualquer comentário sobre o facto dele me estar sempre a interromper, ele puxou-me para um beijo. Um beijo pela primeira vez sério, com direito aos meus braços á volta do pescoço dele e as mãos dele na minha cintura. Só acabamos o beijo quando sentimos que precisávamos de ar.

- Podemos falar depois sim? - perguntou ele, puxando-me para um abraço. Fechei os olhos e apreciei aquele momento. Um momento de calma.

A calma antes da tempestade. 

The ComebackOnde histórias criam vida. Descubra agora