Capítulo 58

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Eu estava muito confusa, mas não tive tempo para pensar muito no que tinha acabado de acontecer, já que a Leonor me deu rapidamente um escuta para eu meter no ouvido e me guiou até ao carro. A Leonor e a Catarina iriam na carrinha, enquanto eu, a Reh e a Sara íamos no carro.

Entrei para os bancos de trás do carro e esperamos que a Leonor entrasse na carrinha, já que ela iria a frente e nos ia guiar até ao sítio da tal festa.

No início o caminho foi em total silêncio. Tinhamos os escutas desligados e estávamos as 3 nos nossos mundos, estando a Sara provavelmente mais atenta ao que se passava pelo facto de estar a conduzir.

Eu apenas pensava na conversa do Berlim. Como é que não havia tempo? Porque é que ele me voltou a beijar? O que é que era poderia ser tão importante e "frágil" ao ponto de o deixar nervoso? E porque é que ele me deu uma arma e uns papéis quaisquer? Tudo isto ficava na minha cabeça a dar voltas e a fazer-me estar mais nervosa ainda.

- Então... Ninguém vai falar? - perguntou a Sara, trazendo-me de volta a realidade.

- Estamos a pensar na vida. - disse a Reh. - Pelo menos, eu estava.

- Também estava. - disse eu.

- Desculpem estar a dizer isto mas... Não acham que é estranho tudo isto? - perguntou a Sara.

- O quê? - perguntou a Reh.

- Eles reclamarem connosco, forçarem-nos a fazer coisas, essas coisas darem errado e agora deixarem-nos ir para perto da polícia ainda por cima numa festa só porque "também não sabem o que estão a fazer".

Ela tinha um ponto. Era realmente estranho tudo isto, principalmente por tudo o que já tínhamos vivenciado com eles.

- É realmente estranho... - comentei.

Tudo o que a Sara apontou e o que o Berlim disse fez com que eu ficasse mil vezes mais nervosa. Algo mau estava para acontecer. Eu sabia. Eu sentia.

Demoramos bastante tempo e fomos por caminhos que nenhuma de nós conhecia. Enquanto fazíamos o plano, nem a Leonor, nem o Professor nem o Berlim mencionaram o sítio para onde iamos, então por momentos eu achei que talvez fosse algo longe e que isso era normal.

Mas não era. E não demorou muito para eu confirmar o que sentia. A Leonor parou a carrinha no meio do nada. Literalmente no meio do nada. Nós estavamos perto de uma praia, que eu reconhecia por ser a praia que eu frequentava em criança com a Catarina e o meu pai. Aquela praia estava mais longe da cidade do que a praia a que o Berlim me levou. Não estava lá mais ninguém, apenas nós. A única luz que ali estava era a luz do carro e a da carrinha e estava bastante frio.

- O que é que aconteceu? - perguntou a Reh.

A Sara parou o carro atrás da carrinha e a Leonor saiu da mesma com a Catarina.

- Venham. Precisamos de falar. - disse a Leonor.

Olhei para a Reh sem entender. Nem mesmo ela estava a entender. Nem a Sara. Nem a Catarina. Fomos todas apanhadas de surpresa. A Leonor abriu a parte de trás da carrinha e todas nós entramos.

- Como é que eu começo...

- Leonor, o que é que se passa? - perguntei.

- Nós... Não vamos a nenhuma festa.

Entreolhamo-nos todas bastante confusas.

- Como assim? - perguntou a Catarina.

- A verdade é que... Por esta hora a polícia já deve estar na casa. - disse a Leonor.

- Quem? - perguntou a Reh.

O meu coração nunca tinha batido tão rápido em toda a minha vida. Como? Quando? Porquê? O que é que aconteceu? Porquê a polícia?

- O Professor soube que aquela inspetora da polícia nos seguiu no dia da nossa discussão... E descobriu onde nós estávamos. Ela ameaçou-nos e nós tentamos negociar com ela... Mas não deu certo. Ela não aceitou nada e acabopor contar ao vosso pai. Eu e o Professor decidimos que seria melhor nós separarmo-nos assim, mas não vos queríamos deixar nervosos antes do tempo, então acabamos por inventar esta missão e todo o plano. - disse a Leonor.

- Então todos eles estão agora a ser presos? - perguntou a Reh.

- Sim.

- E o que é que nos vamos fazer? Vamos ficar aqui de braços cruzados? Nós não podemos fazer isso! - disse eu.

- O Professor tem um plano e ele sabe o que está a fazer. Vamos ter de ficar alguns dias numa casa aqui perto e depois vamos salva-los. - disse a Leonor.

- Nós? Salva-los? A eles? - perguntou a Sara.

- Exatamente. - disse a Leonor

- O Berlim sabia disto? - perguntei.

- Soube á umas horas atrás. - disse a Leonor.

Era por isso que ele estava nervoso. Foi por isso que parecia que ele se estava a despedir de mim como se aquela fosse a última vez que nós nos fossemos ver.

- E os outros? Talvez o Berlim e o Professor saibam o que estão a fazer, mas e o Pedro? - perguntou a Reh. - NÓS NÃO OS PODEMOS DEIXAR ALI SOZINHOS E INDEFESOS.

A Reh começou a chorar e eu abracei-a. Eu conhecia aquele sentimento. Estarmos assim preocupados com alguém, mas nada estar ao nosso alcance para realmente conseguir fazê-lo.

- Eles vão ficar bem Reh... - disse a Leonor tentando conforta-la.

O problema é que nem mesmo a Leonor soava confiante sobre aquilo que dizia. Ela parecia triste também. E querendo ou não, isso fazia-nos perder qualquer esperança que tivéssemos.

Acabamos com aquela conversa e fomos para a tal casa que a Leonor tinha mencionado. Era muito mais pequena que a anterior mas dava para o gasto. Deitei-me no sofá, onde ia dormir já que não havia camas suficientes para nós e pensei nele. Não que eu tivesse grandes motivos para me preocupar com a segurança dele, afinal ele ainda era o Berlim. Mas o facto dele não estar totalmente seguro. De eu não saber o que é que lhe podia acontecer.

Lembrei-me dos tais papéis que ele me tinha metido na mala e rapidamente a agarrei para ver o que eram.

"Espero que só estejas a ler isto depois de saberes o que se está a passar. Não quero que fiques preocupada porque sabes que eu estou bem e muito menos quero que aches que o que aconteceu entre nós foi só mais um dos 'planos' (de qualquer das formas vou preferir esperar falar sobre isto contigo pessoalmente). Não te metas em problemas até nos voltarmos a ver, porque eu sei que mesmo que agora sejas tu a salvar-me, nunca se sabe o que vai nessa cabeça.
Fica bem, Andrés"

Sinceramente eu não gostava esta espécie de esquema de Simão e Teresa que o Berlim fazia. Comunicar por cartas. Mas também não posso negar que ele é mais fofo quando é assim, porque parece que tudo fica mais leve.

Acabei por me perder nos meus pensamentos e sem querer adormeci, com os restantes papéis que não li no meu colo.

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