Capítulo 46

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Sentamo-nos os dois na cama dele, ambos a tentar encontrar as palavras certas para começar a tal conversa.

- Bom... Eu não... Te quis fazer chorar com isto. Apenas quis ser eu o primeiro a dar a notícia. - disse o Berlim.

- Não foi isso que me fez chorar... E não te preocupes está tudo bem. - disse eu.

- Não. Não está. Eu sei que não está.

Eu fiquei em silêncio. Como é que eu lhe ia explicar tudo o que aconteceu? Nem sequer conseguia não ter vontade de chorar e se tocasse no assunto ia voltar ao mesmo estado em que tinha ficado.

- Não quero discutir contigo. Apenas quero que me digas o que se passa. - disse ele confortando-me.

- É uma longa história...

- Pelos vistos temos a noite toda.

- Berlim....

- Pronto. Tudo bem. Se não quiseres não contes. Não te quero obrigar a nada.

Olhei para ele depois disso. Não havia nenhuma ironia naquela frase, nenhuma expressão "engraçada".... Ele estava a ser sincero. E sabia que eu sabia, porque estava a olhar para mim também, até se levantar e ir até a porta do quarto.

- Onde vais? - perguntei.

- Buscar algo. Não saias daí.

Ele saiu do quarto e desceu as escadas. Fiquei ali sentada a processar tudo. Ou pelo menos a tentar. Fechei os olhos e respirei fundo. Enquanto tinha os olhos fechados e apenas via escuro, pude sentir coisas estranhas. Comecei a sentir frio. Muito frio. Como se a roupa que eu estava a usar não fosse suficiente. E ao mesmo tempo, ouvia vozes. Vozes que me pareciam familiares, mas que estavam demasiado longe para serem ouvidas.

- Sofia?

Abri os olhos. Era o Berlim que me tinha chamado. A sensação de frio e as vozes tinham parado. Olhei á minha volta, situando-me onde estava.

- Está tudo bem? - perguntou mais uma vez.

- Sim. - respondi, vendo o que ele tinha na mão.

O Berlim veio sentar-se outra vez ao meu lado com uma garrafa de vinho já aberta e dois copos.

- Da última vez não podias beber. - disse ele enchendo um dos copos e entregando-mo.

- Obrigada. - agradeci, sorrindo.

Demos alguns goles em silêncio, até que eu senti a necessidade de falar. Não sei se foi um efeito rápido do álcool ou apenas eu a fazer o que sentia que era certo. Mas falei.

- Berlim... Eu quero pedir-te desculpa por ter dito tudo aquilo sobre ti... E por só te dar trabalho.

- Está tudo bem.... E... Se eu não te tivesse raptado... Não me terias dado trabalho. Desculpa-me por isso.

- Tu só seguiste ordens.

- Não quero que penses que sou só assim.

- Assim como?

- Alguém que só segue ordens.

- Então como é que queres que pense que és?

- Não quero que penses. Quero que saibas.

- Eu também quero que saibas quem eu sou... Mas primeiro preciso de resolver várias coisas. E a maioria delas comigo mesma.

- Eu sei. Mas eu estou disposto a esperar. Se tu quiseres que seja eu a esperar.

Eu sorri e aproximei-me dele, pousando a minha cabeça no seu ombro.

- Eu quero que sejas tu.

Ele beijou o topo da minha cabeça e ficamos assim algum tempo.

- Completamos a nossa missão. - sussurrou.

Eu sorri mais uma vez e olhei para ele. Nunca estive tão confortável estando tão perto de alguém. Infelizmente não tivemos o tempo que ambos queriamos, porque a porta de casa abriu. E não de forma silenciosa.

Ouvíamos uma discussão, que parecia envolver todos.

- Merda. - sussurrei.

- Pelos vistos não temos a noite toda. - disse ele levantando-se e indo até a janela. - São mesmo eles.

- Vamos ter de ir ver o que se passa.

Saímos do quarto e descemos. Realmente havia bastante barulho.

Todos discutiam uns com os outros sobre assuntos diferentes e aleatórios. Havia gritos, havia choro, havia nomes e ofenças... Apenas não havia entendimento. Até o Professor e a Leonor estavam metidos nisto.

O Berlim tentou gritar para os chamar á atenção, mas não resultou, era apenas mais uma voz num monte delas. A minha cabeça não ia aguentar muito mais tempo, então fui até a cozinha, agarrei uma colher de pau e a tampa de um tacho qualquer e comecei a bater aquilo. Graças a Deus todos se calaram.

- O que é que se passa? - perguntei.

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