Capítulo 8

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A tarde chegou e com ela, as explicações do Professor sobre o assalto do dia seguinte. Eu apenas ouvi a parte de que todas as sextas apartir dali iam ser para nós assaltar-mos lojas de conveniência.

Na minha cabeça, eu apenas conseguia pensar no que a Leonor me tinha dito. Em literalmente tudo o que ela me tinha dito. Desde o facto de eu ser a "filhinha de ouro" do meu pai, daí eles terem de me dar mais atenção, até ao Berlim e na mentira que eu tinha contado. Sim, porque eu definitivamente não gosto do António. Ele é como um irmão para mim. E é gay.

Sabem quando vocês param e olham para um ponto específico enquanto pensam na vossa existência? Foi exatamente isso que eu fiz. Só que, por coincidência ou não, o ponto que o meu cérebro escolheu para pensar foi o cabelo do António.

- Terra chama Sofia? - perguntou a Leonor.

- Sim, hum... podem continuar. - disse eu, voltando para a realidade.

Claro que eu não voltei a prestar atenção ao Professor, mas o António notou que eu tinha estado a olhar para ele então começou a fazer-me caretas, fazendo-me rir.

Quando o Professor acabou de falar, o Berlim subiu para o andar dos quartos.

- Eu estou a sentir-me muito rebelde. - disse a Sara.

- Eu também, tipo aquelas personagens bem bad girls das séries. - disse a Catarina.

- Imaginem só como é que nós vamos ficar com os macacões vermelhos! - disse o António, sorrindo.

- NÓS VAMOS FICAR LINDOS MEU DEUS! - disse eu, sorrindo também.

- Imaginem o Berlim a proteger a Sofia e vice versa! OPA EU SHIPPO TANTO. - disse a Catarina. Eu ainda não tinha contado a ninguém, a coragem era pouca.

Ficamos a conversar, jantamos e fomos até aos quartos. Só que, como eu sou o azar em pessoa, quando ia a subir as escadas meti o pé mal e teria caído para trás, se ele não me tivesse agarrado na cintura.

- Estás bem? - perguntou o Berlim.

- Sim... obrigada - disse eu continuando a subir as escadas.

- Sofia eu preciso de falar contigo. - disse o António assim que cheguei ao fim das escadas.

Eu olhei para o Berlim e percebi que ele já estava a olhar para mim, mas o António literalmente puxou-me para o meu quarto. Por algum motivo, eu apenas consegui parar de fazer contacto visual com o Berlim quando o António fechou a porta.

- Senta-te. Eu tenho algo para te contar. - disse o António. O meu coração disparou. Pelo tom serio em que o António falava, eu tinha medo de que o Berlim lhe tivesse feito algo.

- O que se passa?

Ele tirou algo do bolso e entregou-me na mão.

- Eu ia fazer-te a surpresa, mas isto tudo aconteceu...

Eram 5 bilhetes para um festival, onde iriam vários cantores: o Shawn Mendes, a Camila Cabello, a Ariana Grande... e as Little Mix.

- Oh meu Deus. - disse eu. A única coisa que consegui fazer foi meter as mãos na cara e começar a chorar.

- Eu preferi dar-te a ti... provavelmente não vamos conseguir ir... mas ficas com a intenção.

Depois daquilo eu queria desaparecer. Eu era fã das Little Mix desde os meus 12 anos. O António abraçou-me.

- Eu prometo que quando sairmos disto, tu vais a um concerto só delas com o bilhete VIP. - disse ele.

- Eu já te disse que te adoro? - disse eu, a tentar engolir o choro.

- Eu sei que tu me adoras, não precisas de dizer.

Eu acalmei-me um pouco e ele sentou-se ao meu lado.

- Também há algo que precisas de saber. - disse eu.

- É algo mau?

Eu contei-lhe tudo. Achei o momento certo e também tinha de o preparar para o que pudesse acontecer... e foi exatamente isso que também lhe expliquei.

- Desde que ele não te faça mal está tudo bem. - disse o António, abraçando-me.

Ficamos um pouco abraçados, até que a porta do quarto de abriu. Era impressionante como ninguém naquela casa batia à porta.

- Tens de ir para o teu quarto. - disse o Berlim.

O António fez-me sinal para que eu escondesse os bilhetes. Meti-os de baixo na almofada enquanto o Berlim esperava que ele saisse. Olhei para um ponto fixo do quarto à espera de que a porta se fechasse, o que não aconteceu.

Quando me dei conta o Berlim estava próximo a mim.

- Tu estives-te a chorar. - reparou ele. - Está tudo bem?

- Está... - disse eu.

- De certeza?

- Sim.

- Ninguém chora porque tudo "está bem".

- O amor faz-te chorar por tudo. - disse eu, arrependendo-me no mesmo instante. Eu estava a falar do meu amor pelas Little Mix e isso ele não sabia.

- Porque é que eu acho que o teu choro tem haver com a falta desse amor e não a presença dele?

- Como é que sabes?

- Porque eu sei como é.

Ele estava a falar de mim. Mais uma vez que fiz alguém sofrer.

- Está tudo bem, não precisas de te preocupar. - insisti eu mais uma vez.

Depois dele ter ido embora eu só soube chorar. Chorei a noite toda. Apenas a culpar-me a mim mesma. Se eu não existisse todos à minha volta estariam melhor. Desde o Finn até ao Berlim. Absolutamente todos.

Mas quando eu ia a pegar no sono, ouvi alguém bater à porta. À minha e à de todos.

O amanhã tinha chegado. Era o dia do assalto.

The ComebackOnde histórias criam vida. Descubra agora