Capítulo 45

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Imediatamente desviei o olhar e comecei a beber a água que restava mais rápido, mas isso fez com que eu me engasgasse e começasse a tossir, o que ainda chamou mais a atenção dele.

- Estás bem? - perguntou ele.

Fiz que sim com a cabeça e pousei o copo. Só comigo é que este tipo de coisas acontecia. Assim que consegui voltar ao "normal' percebi que ele estava a olhar para mim. Ou melhor, para os meus olhos. Devia ter lavado a cara.

- Estiveste a chorar? - perguntou.

- Eu? Porque é que haveria de estar a chorar?

Que ótima maneira de mentir. Burra do caralho.

- Bom... Os teus olhos estão vermelhos... E a tua cara está um pouco molhada... A menos que tenhas andado a cheirar alguma coisa, não sei como é que podes explicar isso.

- E porque é que de repente te apeteceu vir aqui olhar para a minha cara? Devias continuar ali a ler. - respondi um pouco agressivamente e sem pensar.

- Desculpa estar preocupado. - disse ele.

Suspirei e saí da cozinha. A vontade de chorar tinha voltado e não o ia fazer ali.

- Vais ficar aí em cima sozinha a noite toda? - perguntou ele.

- Não vejo nada de interessante para fazer aqui em baixo. - respondi depois de me controlar para não chorar. Ele apanhava-me sempre quando eu menos queria. Eu já estava a meio das escadas, custava muito deixar-me subir?

- Então deixa-me mostrar-te algo. - disse ele começando também a subir as escadas.

Só podiam estar a brincar comigo.

- Berlim... - comecei.

- É algo bom. Prometo. - disse ele dando-me a mão e puxando-me para o quarto dele.

Algo bom que ele me quer mostrar no quarto dele? Mas.... Eu nem sequer vou comentar o quão errado isso soa....

Eu fiquei a porta, apenas por precaução, e ele veio até mim com uns papéis na mão. Para quem não me falava ele está com muito fogo no cu.

Ele entregou-me os papéis para a mão e eu fiquei muito confusa.

- O que é isto? - perguntei.

- Isto são as informações que conseguimos encontrar até agora sobre as vossas mães.

Olhei para os papéis, depois para ele e de volta para os papéis. Havia lá números de telefone e de telemóvel, fotos e até possíveis locais de trabalho.

- Isso devia ser só uma surpresa... Para quando encontrássemos tudo mesmo. Mas acho que não vale apena fazer-te esperar mais. Só faltam as moradas.

Desta vez eu não consegui controlar-me e comecei a chorar, ali em frente a ele mesmo. Por me lembrar nas poucas memórias que tenho com a minha mãe, por me lembrar do que o meu pai me disse sobre usá-la.... E pelo Berlim. Como é que eu pude inventar uma desculpa tão estúpida para negar o que sentia por ele? Ele já fez tanto por mim, e não há uma única coisa que eu tenha feito por ele sem ser dar trabalho.

- Ei... Então? - perguntou ele tirando o cabelo que insistia em vir para a minha cara.

Tentei limpar algumas lágrimas mas não dava. Eu tinha a necessidade de deitar tudo cá para fora e foi isso que eu fiz.

- Berlim... - sussurrei bastante baixo.

E não foi preciso muito mais. Logo após isso senti um abraço do Berlim, ao qual eu respondi logo.

- Podes chorar... Está tudo bem. - sussurrou ele, apertando-me mais contra si.

Nem com a Catarina me senti tão a vontade para chorar. Senti vontade de ficar ali para sempre, apenas abraçada a ele. Fechei os olhos e apertei-o com mais força. Ficámos bastante tempo assim, sem trocar uma única palavra. O único barulho que se ouvia era o meu choro, que foi ficando mais fraco quando ele começou a passar as mãos nas minhas costas e cabeça para me tentar acalmar.

- Desculpa-me... - sussurrei quando tive minimamente forças para falar.

- Acalma-te primeiro e depois falamos melhor sim? Demora o tempo que precisares, não te preocupes. - disse ele.

Ficámos mais um pouco abraçados até eu realmente me acalmar e tomar a iniciativa de nos separar.

- Já está mais do que na hora de conversarmos. - disse eu. 

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