[8] Bendito o Fruto do Vosso Ventre

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Não foi difícil para Erina Thompson atravessar o canal que levava para a torre principal da Cidade-Mãe de Áhmon. Não tinha visto nenhum Wraith no caminho e ao chegar na margem, até sentiu seu braço um pouco melhor. Tudo aquilo era bem estranho. Em cinco dias desde que o avião tinha caído, sua perna foi perfurada, suas mãos estraçalhadas e seu braço quebrado... mesmo assim, sentia como se não tivesse acontecido nada no seu corpo. O que seria isso?

Erina se lembrava que, quando fora contaminada pela primeira vez com a Escuridão, Snape tinha entrado em uma câmara de tortura para gerar Philia. Será que a substância ainda estava no seu corpo e funcionando? Outra coisa que lhe deixava bastante intrigada era: quando seu pai Jacob lhe capturou, disse que Ninfadora Tonks estava presa e esperando um bebê. Mas como?! Nunca que uma gestação duraria malditos cinco dias, pensou consigo mesma. Sim, era impossível... a não ser que eles tenham dado um jeito de acelerar o processo. Erina sabia que, no meio da magia, era possível acelerar a gravidez em alguns meses sem que o bebê nasça prematuro... mas, isto só era mesmo viável no meio das Artes das Trevas.

Se Tonks realmente estava grávida, era obrigação de Erina tirá-la de lá o mais rápido que conseguisse, antes que fosse tarde demais.

Pegou um elevador quando chegou na margem e subiu por longos andares até estacionar em uma ponte. Não era o fim da torre — ela era ainda maior do que Erina pensava, com um formato muito parecido no que é visto nos templos budistas e xintoístas japoneses —, mas deveria ser uma das entradas. Os raios e trovões pareciam ter ficado mais violentos; começara a chover. Erina saiu do elevador e caminhou pela ponte destruída até a entrada: havia um enorme portão de metal e duas estátuas de guerreiros nas pontas. Ao notar nos cabos que conectavam a torre, um deles estava consumido pela Escuridão — o que ela tinha quebrado antes — e faltavam mais dois. Se conseguir encontrá-los, explodirá tudo e poderia salvar estas pessoas.

Erina, enquanto andava, escutou passos. Não tinha como se esconder em uma ponte aberta, e por isso, fora obrigada a usar o Cave Inimicum de novo. Só que o problema real dela naquele instante era apenas um: Ananias, a bruxa que não gostava de ser bruxa. Caminhando com um seguidor e carregando nas costas sua foice mágica, seu rosto estava coberto pelo capuz das vestes... Erina só viu mesmo foram seus cabelos pretos longos e espalhados. Já o seguidor era minúsculo, vestia as roupas do Organza-Cruz e sua voz parecia bem trêmula.

— Precisamos... de mais Philia...

— Estamos tentando, senhora, mas... alguém contaminou o cabo número 2 com a gosma... e os estoques que estavam vindo foram destruídos. Uma carga que levamos meses para sintetizar...

— Foi ela! A filha do mestre Ellis... a malditinha deve ter escapado dos Wraith... bruxa amaldiçoada... Deus tem que curar sua alma logo... temos que queimá-la.

— Acha que ela sobreviveu, senhora? Não querendo duvidar, mas aqueles seres... eu nunca os vi, mas só pelas descrições me dá certo arrepio...

— Já era para ela ter se transformado em um deles, mas é uma bruxa e consegue escapar de tudo.

— Eles são representantes de Satanás, senhora. Não é à toa que conseguem escapar de tudo...

— Não se esqueça: o Senhor é mais poderoso do que o Diabo e seus seguidores. É dito em Apocalipse que esta guerra já tem vencedor. No Final dos Tempos, quem reinará será o Senhor.

— Amém! — disseram os dois juntos.

Eu não acredito que eles ainda insistem nesse assunto... Erina estava indignada em ouvir tamanhas besteiras, e o pior: eles realmente queriam queimá-la, mas não vão conseguir. Ela sabia o feitiço de congelar chamas, e assim como Wendelin, A Esquisita... iria congelá-las e capaz até de se divertir com o fogo fazendo cócegas no seu corpo. Será que eles não aprenderam que, bruxos de verdade, nunca foram queimados na fogueira? Tudo que eles fizeram foi assassinar pessoas inocentes. Mas mesmo assim, ainda continuam a insistir e usar uma religião para justificar seu preconceito. Erina tinha que acabar logo com toda essa onda de intolerância, antes que inocentes acabassem morrendo.

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