3- O Chefe

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Acho que nunca na minha vida, eu demorei e tremi tanto para passar um batom. As meninas com quem eu divida o quarto, Bora, Yuna e Trisha, estavam me olhando como se quisessem me ajudar a encarar essa situação... Eu me olhava no espelho e não me reconhecia, meus olhos estavam marejados e viam uma versão de mim totalmente insegura e desesperada. O batom vermelho tremido em minha boca expressava meu medo, e quando menos espero alguém bate forte na porta.

- Se demorarem mais, o prejuízo aumenta! - uma voz desconhecida disse pelo outro lado da porta.
- Vai, vamos... Eu sei que é difícil agora no começo, mas eles ainda estão te dando "uma colher de chá" - Bora se levantou da pequena cama.
- Tenta relaxar, pelo visto hoje eles só vão colocar você pra falar com o chefe - Yuna foi até mim e tentou me acalmar.

Eu saí de frente do espelho e sai do quarto calada, os corredores daquele lugar eram aterrorizantes, eram paredes vermelhas, claramente, precisando de reforma. Eu e as meninas chegamos no salão principal, onde ficavam as mesas, o palco e o grande bar do lugar. O lugar tava começando a encher e eu fui atentamente olhando para cada lugar, até que alguém me puxa violentamente pelo ombro.

- Novata, o chefe chegou e quer conhecer você - era Steve, o segurança chefe. Minha barriga gelou na hora, e logo fui puxada para outro corredor, esse corredor me levou para uma porta mais afastada, logo conclui que lá era a sala do chefe.

Steve logo abriu a porta me colocando a força dentro daquela sala, não era uma sala grande, mas também não era um cubículo. Eu olhei para o chefe e o mesmo desligou o celular na hora, começando a me reparar.

- S/n, 18 anos, brasileira e com visto de estudante - Steve passou minha ficha.
- O celular? - o chefe perguntou, sua voz era grossa e seu cheiro era forte. Uma mistura de perfume importado com alguma outra coisa.
- Está com Dahye, é pra chamá-la? - Steve disse me colocando sentada na cadeira em frente a mesa do chefe.
- Por favor, vou conversar com nossa convidada especial, diga a ela pra bater na porta antes de entrar - ele disse me encarando, provavelmente ele conseguia sentir meu desespero e medo.
- Certo - Steve saiu da sala.
- S/n, eu consigo sentir seu medo e desespero daqui - eu disse! Ele me encarava cada vez mais fundo - Te garanto que não será agora que você precisará sentir medo, soube que é virgem... Me sinto sortudo e privilegiado - ele deu um sorriso e eu engoli a seco - Você sabe onde está, sabe o que precisa fazer e.. - eu interrompi.
- Eu não vou fazer nada - podia jurar que estava chorando, mas estava me controlando muito pra isso não acontecer.
- Não seja tão difícil, sabe que não terá escolha - ele levantou de sua mesa - sabe que se o problema for sua virgindade, isso logo não será um problema - ele sentou na mesa bem em frente a mim.

Eu permaneci calada, a vontade de chorar e gritar aumentavam cada vez mais dentro do meu peito. Eu com certeza queria morrer, não desejava aquela situação a ninguém! A única coisa que eu queria era estar, apenas, longe dali. Logo ouço batidas na porta.

- Cerimônias agora, Jay? - Dahye abriu a porta - poxa, pensei que já tínhamos passado dessa etapa.

Seu nome era Jay, ou pelo menos apelido, ele não era alto mas também não era baixinho, usava um corte com undercut, seus cabelos eram pretos, ele usava um piercing no nariz e tinha uma tatuagem no pescoço e algumas na mão.

- Eu quero o celular dela, agora! - ele parecia sem paciência, eu realmente não sabia se era por minha causa ou por causa da gerente.
- Sabe que não vai conseguir nada na base da arrogância, seu pai mesmo já deve ter te ensinado - Dahye provocava ele - melhore! - ela deixa o celular na mesa e senta na cadeira ao meu lado.
- Ligue para seus pais - ele deu meu celular - pense bem no que vai falar - ele tirou uma arma do terno que usava e ficou com ela em mãos.

Eu peguei o celular em desespero e logo disquei o número de minha mãe, decidi colocar no viva voz.

- Filha! Já estava começando a ficar preocupada, está tudo bem? Está na faculdade? Já comeu? - não estava bem, não estava na faculdade, não havia comido nada desde a hora em que cheguei.
- Oi mãe! - tentei ao máximo disfarçar minha voz embargada - estou bem, a faculdade é incrível e já comi.
- Que bom, meu amor - a voz da minha mãe me acalmava.
- Seguinte... - senti minha voz embargando novamente - eu não voltarei para o Brasil tão cedo e estarei muito ocupada com a faculdade, não terei tempo para ligar para vocês, dê um beijo no papai e diga que eu estou morrendo de saudades de vocês - me despedir da minha mãe daquele jeito foi totalmente doloroso.
- Filha, você é nosso orgulho, tudo vai dar certo - eu não aguentei quando ela disse aquilo.
- Mãe, eu preciso desligar, eu amo você e o papai - segurei ao máximo o choro e sem que eu pudesse ouvir o "tchau" da minha mãe, Jay desligou.

Naquele momento eu não aguentei, e desabei em lágrimas. Eu estava sentada em uma cadeira, chorando desesperadamente e pedindo para que fosse só um pesadelo.

- Pare de chorar, garota! Desde que chegou aqui você só sabe chorar, não aguento mais ouvir você - Dahye disse e na mesma hora eu levantei minha cabeça.
- Ela é minha mãe, problema é seu se você não tem uma pessoa que se importe com você - eu olhei nos olhos dela e ela logo esboçou raiva.
- Está achando mesmo que pode falar comigo assim e sair ilesa? Vou te mostrar quem é que manda - Dahye levantou a mão para me dar um tapa, e foi aí que o tempo passou devagar pra mim. Jay segurou na mesma hora a mão dela... - O QUE ACHA QUE ESTÁ FAZENDO?
- Te impondo um limite - Jay segurou mais forte ainda a mão de Dahye - olha só pra você, querendo bater em uma das meninas e na minha frente, o que deu em você?

Dahye naquele momento desceu sua mão e saiu da sala atordoada, eu estava em choque e olhei diretamente para Jay.

- Achou mesmo que eu ia deixar você levar um tapa? Ainda mais da Dahye? - ele disse sorrindo, como se fosse algo engraçado - ela é só uma gerentezinha, que acha que pode mandar aqui. - eu parei de olhá-lo e comecei a secar meu rosto quando ele estendeu seu braço me oferecendo um papel - é, acho que eu preciso resolver umas questões com você antes de começar a trabalhar - eu peguei o papel e olhei com medo pra ele.
- Por favor, me deixe ir embora, eu não conto nada a ninguém e continuo a viver minha vida longe daqui - eu implorei.
- Infelizmente, não dá! Olha, aqui te deu um pouco de medo, ainda mais por você ser tão nova - eu não estava entendendo onde ele queria chegar - vou levá-la pra minha casa, quero conversar direito com você e sem interrupções.

Eu me assustei! Eu não sabia o que ia acontecer, eu não podia confiar em mais ninguém...

Ligações PerigosasOnde histórias criam vida. Descubra agora