Assassinato

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Música tema desta obra: Prelúdio op. 23, n. 5, Sergei Rachmaninoff (escute no link acima).

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Estação Antártica Comandante Ferraz, 10 de janeiro de 2011, 23h00...

... Nevava intensamente! Alojados dentro da estação antártica, a sensação era de tranquilidade, mas ao mesmo tempo de apreensão — ao menos de minha parte, que sob tensão sempre imaginava o pior. E se o sistema de calefação pifasse? E se houvesse falhas no sistema de comunicação? E se a janela do meu quarto quebrasse e eu acordasse em meio à neve?

Preocupado, antes de me recolher verifiquei uma porta que dava para o lado externo, no final do corredor dos alojamentos. O vento batia forte contra ela, provocando-me arrepios. Havia um ferrolho que não estava passado, estando a porta fechada apenas com o giro da maçaneta. Por garantia, passei a tranca, zerando assim qualquer possibilidade daquele corredor inadvertidamente ser invadido pela neve.

O quarto era pequeno, pouco aconchegante. Duas camas de solteiro, dois armários de aço com duas divisões e uma mesa retangular. Deitado na cama, não conseguia dormir. Olhei o relógio. Eram 23h25. Levantei-me e abri a cortina da pequena janela quadrada, que mais parecia uma escotilha. Ela era relativamente alta, portanto só conseguia ver o céu nublado e a neve que caía. Estava escurecendo, o sol se pondo, embora no verão antártico nunca haja noite propriamente dita: assim que o sol se põe, ele já nasce.

Fechei a cortina e voltei a deitar. Seria uma noite — noite?, interminável aquela. E como a nevasca se intensificava, estaríamos presos naquele lugar e muito provavelmente não conseguiríamos ir embora no dia seguinte, como planejado. Será que a neve chegaria a cobrir a estação, como fora aventado pelo meteorologista?

Foi então que um grito ecoou tétrico no silêncio da noite, fazendo coro aos uivos provocados pelo vento, ao passar veloz por algum vão no lado externo da estação. Levantei-me abruptamente e abri a porta. A luz do corredor estava acesa. Vi, do meu lado direito, a uns três metros da minha porta, minha vizinha de quarto. Estava parada defronte ao seu próprio dormitório, estática, imóvel.

Corri em sua direção e objetivando olhar para dentro do aposento, afastei-a ligeiramente. Assustei-me ao ver um oficial da Marinha caído no chão, de bruços, com algo espetado nas costas, na altura do coração.

Quando me dei conta, já se encontravam no apertado corredor, acotovelando-se junto a mim, os ocupantes dos alojamentos daquela área. Eu postara-me na entrada do quarto, impedindo a entrada dos demais, numa atitude instintiva de policial que contém a multidão.

Procurando enfrentar a situação com objetividade e agilidade, entrei no dormitório e agachei, para averiguar os sinais vitais da vítima. O objeto em suas costas, pela primeira impressão, parecia ser um osso. Mais tarde viria a saber: tratava-se de um osso de baleia!

Voltando-me para as pessoas que se aglomeravam na porta, declarei:

— Este homem está morto!

Instintivamente levantei-me e pela força do hábito da profissão, haja vista ter sido delegado por quase toda a vida, barrei novamente a passagem da porta, proferindo de forma solene:

— Ninguém toque em nada e nem entre neste quarto!

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Quem morreu e por quê? Bora deixar um voto e comentário e seguir na leitura, para descobrir? Obrigado.


Assassinato no Continente GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora