12 - Punta Arenas

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Punta Arenas, 09 de janeiro de 2011, 9h30 (37 horas antes)

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Punta Arenas, 09 de janeiro de 2011, 9h30 (37 horas antes)...

... Chegamos à capital e centro urbano da região de Magallanes, Punta Arenas, numa manhã de domingo. A temperatura, segundo me informaram, era de nove graus Celsius. Todavia, eu sentia um frio insuportável, apesar do sol forte. Sentia também que o meu calvário estava apenas começando. Intrigado com aquele frio miserável, fui logo socorrido por um colega de viagem: Jairo.

— Basílio, é por causa do vento forte. A sensação térmica deve estar beirando a zero grau.

Jairo e a mulher, Clara, haviam feito o mesmo itinerário que nós e acabamos por estabelecer laços de amizade.

Ventava muito. Segundo Jairo, rajadas de vento desciam pelas montanhas e vales estreitos da região, formando aquelas ventanias, que se estendiam do estreito de Magalhães até o oceano Pacífico. Jairo era professor de Geografia, daí o fato de dominar com facilidade as características geográficas locais.

Regina, então, comentou sobre a Patagônia e as maravilhas do parque nacional Torres del Paine, que, segundo ela, ficava a "apenas" 360 km de Punta Arenas.

— Um tiro de espingarda! — declarara eu, ironicamente.

Mal sabia o que me esperava. Teria ido ao parque de bom grado, se soubesse que meu destino final seria a ilha Rei George, na Antártida. Enquanto caminhávamos, as mulheres à frente, comentei:

— Providencial essa nossa aproximação, Jairo. Nossas esposas estão se dando muito bem e serão excelentes companheiras nas compras por aqui. Detesto compras. Eu não seria uma boa companhia, se estivesse sozinho com ela.

— Poucos homens gostam de compras, não é? Eu também sou um deles. A menos que as compras se deem em uma boa livraria. Aí sou capaz de ficar horas e horas.

Seguimos para o hotel. Não via a hora de chegar a um bom quarto com lareira e me aquecer o mais rápido possível. Minha abstinência alcoólica teria que ser interrompida por aqueles dias, apesar da proibição de meu cardiologista. Teria que me servir de um bom conhaque, senão não iria aguentar.

Realizado o check-in, antes de subirmos para os quartos, resolvemos tomar um café no piano-bar. Olhando as opções disponíveis, observei que havia um delicioso café, servido com conhaque e preparado com mel, chantilly e folhas de hortelã. Não resisti e pedi um. Meus companheiros, no entanto, solicitaram chocolate cremoso. Levantei-me e fui até um dos barmen, suspendendo a ordem de minha esposa de servir o café sem conhaque, pedindo a ele que colocasse o conhaque diretamente no café, para que Regina não percebesse. Mas ele não me entendeu, por uma simples questão linguística e dei-me mal. Quando chegou a bandeja, o café veio numa bonita taça, o mel ao fundo, as folhas de hortelã e o chantilly por cima e um pequeno copo com o conhaque, à parte.

— Basílio, que é isso aí?

— Acho que é conhaque. Mas eu disse pra não trazer.

— Pensa que me engana, né? Você foi pedir para o garçom botar o conhaque direto no café. Ele que não entendeu. Não sou boba, não!

— Regina, está um frio disgramado, já vim nesse fim de mundo...

— Podemos negociar...

Percebi logo o que ela tencionava. Ela deu um sorrisinho irônico:

— Torres del Paine pelo teu conhaque!

Regina e suas barganhas. Pela viagem a Punta Arenas, a permuta fora bem melhor:

— Sério? Torres del Paine valeria uma garrafa inteira, não?

Todos riram, inclusive eu, mas exigi ao menos mais uma rodada. Com conhaque!

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Punta Arenas realmente era muito bonita, considerada por muitos a cidade mais austral do planeta, palco de grandes fatos históricos. Do hotel, podia avistá-la da janela. Casas e prédios muito bem conservados, alguns muito antigos, do início do século XX. Fundada em 1848, havia servido de prisão e guarnição militar até 1877.

Muitos palacetes, prédios de traços clássicos. Era uma bela paisagem, digna de um quadro. Ao fundo, o estreito de Magalhães, com suas águas azuis e, mais ao longe, terras que eu julgava serem as famosas Terras do Fogo, cuja grande riqueza era o petróleo.

Havia predominância de construções de dois pavimentos, a maioria em madeira. Em várias casas, cores contrastantes e vivas, como paredes na cor lilás e telhado na cor verde, ou, paredes na cor vermelha, com telhado preto.

— Olhe, Basílio. Nossa casa não ficaria bem assim, paredes cor-de-rosa e telhado azul?

Nem respondi. A despeito das cores, Punta Arenas se caracterizava ainda sobremaneira pelas ruas largas e limpas, jardins bem cuidados, povo muito educado e gentil. Vários monumentos em áreas públicas, denotando grande preocupação com a cultura e preservação da história local.

O lugar, de fato, era lindíssimo!

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Assassinato no Continente GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora