25 - Primeiro Filme

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Após o jantar, nos reunimos na sala de vídeo

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Após o jantar, nos reunimos na sala de vídeo. Seguindo uma sugestão anterior de Inês, o almirante H. Nunes marcara uma sessão para as 20h30. Sendo assim, Inês separou dois filmes para assistirmos, retirados do acervo da estação. O primeiro filme, um documentário sobre a incrível história de Scott, terminou às 21h30. Alguns militares, que acompanharam a sessão, recolheram-se aos aposentos. Da turma de civis, o único a sair com eles, foi Ernani. Alegando cansaço, disse-nos boa noite e foi deitar-se.

Enquanto Inês preparava o segundo filme, Carlos comentou:

— Delegado, perdeu um grande passeio, hoje de tarde.

— Lamento, mas não estava a fim. Não gosto de passar frio.

— Uma oportunidade e tanto. Nunca mais terá outra!

— Não tem problema! Minha mãe sempre diz: "Mais vale um covarde vivo, do que um herói morto".

Em meio ao sorriso de Carlos, o almirante mostrou-se interessado sobre as andanças deles, principalmente ao ter sido informado que haviam estado na estação inglesa abandonada. Indagou:

— Falaram que vocês entraram na estação inglesa...

— Entramos sim, almirante — respondeu Ema.

O almirante estampou no rosto um ar de preocupação:

— Não falaram que não se deve entrar ali, pois pode desabar a qualquer hora?

Carlos reconheceu:

— Ernani falou. Realmente, a estação está nas últimas. Deviam então colocar algum aviso, uma tabuleta, pra ninguém entrar.

Inês perguntou, usando o advérbio para solicitar atenção, típico do povo mineiro:

Aqui, encontraram algo de estranho por lá? O Ernani estava bem apavorado, quando chegou. Falou de alguém espreitando vocês. E falou de um livro da Agatha Christie: "E no Final a Morte".

Tive a impressão de que Ema pretendeu falar algo, mas um olhar de Carlos a fez não prosseguir, dando-me também a impressão de que buscou desviar o foco:

— Nunca vi um sujeito tão impressionável. O lugar, de fato, é tenebroso. Mas, afora esse livro, nada de especial.

— E sobre alguém espreitando vocês? — insistiu Inês.

Ele minimizou a importância do fato:

— Bobagem! Foi o vento e a contração térmica no piso de tábuas, nada mais.

Carlos voltou-se para o almirante, aparentemente tentando desviar o assunto e cortar logo o interesse de Inês, cujo motivo do receio eu só viria a saber bem mais tarde:

— E aí, almirante, é mesmo a primeira vez que vem na estação?

— Claro que não! — revidou de bate-pronto.

O almirante não ficou nem um pouco à vontade com a repentina mudança de assunto. Aquela embaraçosa pergunta, de certa forma, já fora motivo de entrevero, mais cedo, no auditório. Seguiu, irado:

— Já estive aqui, sim! Bando de fuxiqueiros. Pensam que só porque tenho residência em Punta Arenas, que tenho de montar acampamento na EACF? Esse chambão desse Humberto não sabe o que fala. Sou responsável pela Comissão Interministerial de Recursos do Mar e lá existem inúmeras outras questões. Não é só a EACF que é ligada nessa secretaria. Ademais, delego poderes, temos pessoas altamente qualificadas na Marinha. Outra: as equipes de retaguarda e cientistas mudam todos os anos, como podem saber se vim ou não? Não dê ouvidos a futriqueiros.

O que tudo parecia indicar, no entanto, era que o almirante jamais se empenhara, com a devida convicção, à frente da secretaria dos Recursos do Mar. A existência de fuxiqueiros, portanto, poderia ser creditada a ele próprio, quem sabe?

Assassinato no Continente GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora