Por Ema Arantes.
Punta Arenas, 30 de dezembro de 2010, 10h30 (11 dias e 12 horas antes)...
... Após ter concluído a primeira etapa de sua viagem, num total de vinte e quatro dias e quatro horas, visando pesquisas e testes, o navio Professor W. Besnard aportou em Punta Arenas, a fim de reabastecer e preparar-se para a segunda parte de sua missão: fundear na enseada Martel, Antártida, defronte à Estação AntárticaComandante Ferraz, propriedade da Marinha do Brasil.
Do porto Muelle Mardones, vi o professor Besnard partir e sumir no horizonte, deixando-me para trás para merecidas férias. Seriam dez dias, cujo término iria coincidir com a chegada de Carlos Eduardo à cidade. A nossa programação, daí por diante, consistia em ir para a EACF, pegando carona num avião da FAB. Nossas pesquisas se dariam em terra firme, até o final do verão austral.
O comandante Ribeiro, tendo em vista que a reforma e os novos equipamentos haviam sido plenamente aprovados, também desembarcou em Punta Arenas, igualmente para um período de férias. Ele não era o capitão efetivo do Besnard, trabalhava mais em terra e tendo acompanhado as reformas, fora necessária a sua presença na embarcação, durante a viagem de testes. Doravante, porém, o capitão Jarbas reassumiria seu posto de comandante.
— A vejo novamente, doutora?
Observei-o pela primeira vez à paisana — e fora de suas funções militares, coisa que não fora possível antes, em face do caráter profissional da viagem. Disse-lhe:
— Ora, quem sabe, não? Pena que tu vai embarcar num cruzeiro justamente amanhã e bem na passagem de ano... E eu estarei sozinha nesse fim de mundo...
— Seu marido chega quando?
— Daqui a dez dias.
Ele afirmou, de forma jocosa:
— Reputo como muito incorreto deixar uma mulher tão linda, sozinha, em plena passagem de ano e em paragens tão distantes. O transatlântico vai ficar aqui perto, durante o Reveilon...
O comandante era um homem bonito e charmoso, o oposto de Carlos Eduardo: mais velho do que eu, inteligente e gentil. Se também fosse bom na cama, seria o homem perfeito. Mas talvez fosse melhor coibir o pensamento que ia se formando em minha mente:
— Não seria boa ideia...
Ribeiro perguntou, mais uma vez em tom jocoso:
— Não seria boa ideia... Deixar uma linda mulher só? Ou passarmos o Reveilon juntos, no transatlântico?
Ri. A companhia de Ribeiro tinha sido um alento naqueles dias, tendo em vista as agruras que vinha passando com Carlos. Respondi:
— As duas coisas!
Ele continuou:
— Ora, se concorda que não é uma boa ideia deixá-la só, não há como tu não embarcar naquele cruzeiro, há?
Gargalhei. Ribeiro era mesmo muito espirituoso, mas não quis alimentar esperanças:
— Boa tentativa! Mas melhor não... Eu quis dizer: nem uma coisa, nem outra.
— Uma pena!
Ele havia contado sobre seus planos para o período de férias e as loucuras que pretendia. Embarcar naquele cruzeiro, depois desembarcar na Antártida e acampar em algum lugar ermo no meio do nada, tendo apenas a companhia dos pinguins.
— É um sonho que tenho desde meus dezoito anos. Sempre fui fã de Amyr Klink. Adoro seus livros. Mas serão poucos dias. Depois pego carona de volta no Besnard.
— Sim, o navio estará na enseada Martel. Bem, é hora de nos despedirmos. Boa sorte... Obrigada pela companhia... Desculpe-me alguma coisa... Cuide-se, viu?
Trocamos mais algumas palavras e despedi-me de Ribeiro, beijando seu rosto. O resvalar de sua barba por fazer em minha pele quase me fez aceitar o convite para a passagem de ano. Vendo-o afastar-se, pensei que ele seria um bom partido. Novamente, refreei a ação de meus hormônios:
"Ema Arantes, menos! Controle-se!"
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Uma nova paixão surgindo na vida da Dra. Ema? Convido-os a continuar. Por favor, vote e comente. Obrigado.
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Assassinato no Continente Gelado
Mystery / Thriller🏆1º Lugar no Concurso Caneta de Ouro (Melhor Cenário) 🏆2º Lugar no Concurso Jane Austen 2022 (Romance) 🏆3º lugar no Prêmio UBE/Scortecci, 2005 (Romance). Estação Antártica Comandante Ferraz: uma nevasca e um crime! Dezoito pessoas incomunicá...