Por Ema Arantes.
O comandante encontrou-me observando o mar, logo pela manhã. Eram sete horas. Ainda estávamos no estreito de Drake.
— Bom dia, comandante.
— Bom dia. Dormiu bem?
— Até onde foi possível, sim.
— Mas não havia com o que se preocupar. O Besnard é insubmergível. São os compartimentos estanques, sabe, que garantem isso.
Sorri:
— O Titanic também era insubmergível! E segundo consta, o capitão deles era tão confiante quanto o senhor.
Ribeiro retribuiu o sorriso:
— É, mas aqui temos botes suficientes para todos, isso eu garanto.
Sempre que podia, o comandante voltava ao assunto da reforma do navio, como uma criança empolgada com seu brinquedo novo:
— Diferentemente do Titanic, jamais estaremos sozinhos. Temos o que há de mais moderno por aqui. Podemos fazer e receber chamadas telefônicas, enviar e receber e-mails e muito mais. Além disso, o sistema de comunicação foi substituído e o casco reformado. Fizemos a substituição das placas de madeira apodrecidas por placas de metal. O sistema hidráulico e de guinchos também foi trocado.
Fingindo interesse, cruzei os braços, apertando-os contra o corpo. Um leve vento fez-me arrepiar, apesar de bem protegida. A temperatura era positiva, mas muito baixa. Um bando de aves antárticas voando em círculos a estibordo do navio chamou-me a atenção. As famosas andorinhas-das-tormentas, mais conhecidas por alma-de-mestre, assim denominadas pelos longos e sentidíssimos pios, os quais se dizia serem das almas dos capitães de navios que se perderam nos naufrágios. Observei-as com meu binóculo:
— Petréis-das-tormentas. São aves procellariiformes. Pertencem à família Hydrobatidae. É a mais delicada de todas as aves antárticas. Do mesmo tamanho dos canários, mas pretas, com uma mancha branca sobre o dorso. São lindas.
— As almas dos grandes mestres — disse solenemente o capitão, em forma sentida.
Voltando-me para bombordo, admirei-me com o mar, muito diferente do dia anterior, parecia a superfície de um espelho. O velho Drake estava calmo. O sol refletia sobre a superfície marítima, causando um brilho ofuscante.
— Quando esse navio foi construído? — perguntei, para puxar assunto.
O comandante colocou o braço sobre os olhos, para se proteger de um reflexo:
— Em 1967, na Noruega. O nome, Wladimir Besnard, como bem sabe, é uma homenagem ao cientista russo, fundador do Instituto Oceanográfico da USP.
— É, eu sei. Trabalho lá, esqueceu? Mas por falar em trabalho... Com o mar calmo, já podemos colher informações com o ecointegrador e saber se existem cardumes e outros animais marinhos nas proximidades.
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Assassinato no Continente Gelado
Mystery / Thriller🏆1º Lugar no Concurso Caneta de Ouro (Melhor Cenário) 🏆2º Lugar no Concurso Jane Austen 2022 (Romance) 🏆3º lugar no Prêmio UBE/Scortecci, 2005 (Romance). Estação Antártica Comandante Ferraz: uma nevasca e um crime! Dezoito pessoas incomunicá...