21 - Scott

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Finalmente, consegui falar com o almirante, informando-o das fortes evidências apresentadas por Inês, corroborada por minhas próprias investigações, em relação à possível — e quase certa, falsidade ideológica de Patrícia Rocha, fazendo-se passar p...

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Finalmente, consegui falar com o almirante, informando-o das fortes evidências apresentadas por Inês, corroborada por minhas próprias investigações, em relação à possível — e quase certa, falsidade ideológica de Patrícia Rocha, fazendo-se passar por Ema Arantes. O almirante solicitou, então, que ela fosse trazida até a biblioteca, onde a aguardávamos, eu, ele e Inês. Contei a ela sobre as declarações de Inês e arrematei, já me dirigindo a ela pelo que julgava ser o seu verdadeiro nome:

Patrícia Rocha, o melhor que você faz, em minha opinião, é confessar tudo. Falo baseado em minha experiência: diante da verdade, até a incredulidade se curva. Quando sabemos a verdade, em especial partindo dos próprios culpados, tendemos a ser mais complacentes com eles. Vá por mim.

Patrícia parecia cansada:

— E isso significa exatamente o quê, delegado? Em termos práticos...

— Redução de pena!

Diante do quadro que se apresentava, ela rendeu-se às evidências e confessou seu crime de falsidade ideológica, no qual Carlos era cúmplice. Mas contou coisas que nos surpreenderam, acerca da ação criminosa dos dois, em Punta Arenas, que sequer podíamos imaginar, embora suspeitássemos que algo grave poderia ter acontecido à verdadeira Ema Arantes.

Observando Patrícia, eu imaginava que sua jornada criminosa, até ali, não fora nada fácil. Decisões difíceis, perigosas e arriscadas, em nome de uma obsessão chamada Carlos Eduardo, para depois ver todo aquele esforço desaguar numa tentativa, da parte dele, de um ato sexual não consensual, em outras palavras, uma tentativa de estupro.

Lembrei-me do inglês Robert Falcon Scott e de sua obsessão pela conquista do polo sul, bem como de tudo o que passara para chegar até lá, para ser, no fim, superado pelo rival norueguês, Roald Amundsen. Recordei-me de suas tristes palavras: "Ó Deus, que lugar horrível. É muito desalentador ter sofrido tanto para chegar e não ser recompensado pela glória da prioridade".

Mas, também, que culpa tinha o norueguês se Scott fizera as escolhas erradas e ele, as escolhas certas? Igualmente arriscadas, mas, sem dúvida, baseadas em um planejamento mais elaborado e com um trabalho de equipe bem melhor.

O que me irritava, porém, fora a desfaçatez de Amundsen, ao tripudiar sobre o rival Scott, pedindo, através daquele sarcástico bilhete, que informasse ao rei da Noruega de sua conquista, caso ele próprio, Amundsen, não conseguisse retornar vivo à Europa. Agira como um canalha, em minha opinião.

O almirante, assistindo a um de meus momentos de reflexão contemplativa, em que eu cofiava meu bigode demoradamente, dois puxões para o lado e um movimento em que o polegar e o indicador posicionavam-se no meio do bigode e, sincronizados, deslizavam em sentidos opostos, irritou-se e perguntou a Patrícia, despertando-me do meu transe:

— E sobre a morte de Carlos, o que tem a dizer?

Em sua resposta, ela pareceu-me muito firme:

— Eu não o matei! Eu o amava. Ele foi uma obsessão, uma ideia fixa, que me fez perder a cabeça e que me conduziu a essa situação. Foi tudo para dar um álibi a ele, quem sabe, nos casarmos... E ele rico, herdando uma grana preta da Ema.

"Hoje, porém, eu tenho certeza, ele violentou a esposa, assim como tentou me violentar. Desistiu, no meu caso, na hora "h", mas seria uma questão de tempo, fazer o mesmo comigo. Aí, acabou pra mim. Acabou o tesão, a paixão, o amor, a vontade de ficar com ele... Pensei, sim, em dar um fim nele, no momento da raiva. Pensei até em ir falar com o senhor, delegado. Mas sou uma pessoa muito racional. Respirei fundo e desisti da ideia de matá-lo, pois eu seria muito idiota, sujar minhas mãos de sangue e ir presa, por causa de um estuprador. Não, isso não!

— Não o matou, portanto? — insistiu o almirante.

— Não! E não tenho mais porque mentir!

Inês olhou-me e, segundo percebi, ela também parecia entender que Patrícia falava a verdade. O almirante, porém, não estava ainda convencido disso.

Da minha parte, embora a experiência solicitasse o benefício da dúvida, havia percebido sinceridade nela. Parecia que Patrícia havia descido as armas e estava realmente entregue.

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Será que Patrícia já pode relaxar, com toda a verdade conhecida? Ou será que seu calvário está apenas começando, afinal, o almirante não está disposto a ser tão complacente quanto o delegado. O que espera nossa protagonista?

*Por gentileza, registe seu voto e comentário. Grato.

Assassinato no Continente GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora