15 - Ernani

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Enquanto aguardava o Ernani, com Inêsconcentrada em suas anotações, folheei o "Manual dos Visitantes ao Continente", distribuído pela Marinha doBrasil, que estava sobre a mesa

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Enquanto aguardava o Ernani, com Inêsconcentrada em suas anotações, folheei o "Manual dos Visitantes ao Continente", distribuído pela Marinha doBrasil, que estava sobre a mesa. Abri na página referente às regras deprocedimento a serem cumpridas:

Não caminhar sobre a vegetação;
Não perturbar os animais naturais da região;
Não afugentar, nem fustigar as aves nos ninhos;
Não caminhar dentro das colônias de aves;
Não usar armas de qualquer natureza;
Não introduzir plantas ou animais na Antártica;
Não entrar nas áreas especialmente protegidas;
Não pintar ou escrever nas rochas;
Não coletar ovos, fósseis, liquens, animais, etc.;
Não deixar ao relento ou espalhado, qualquer tipo de lixo.

Enquanto via Ernani adentrando a sala, pensei que mais um item seria acrescentado no futuro: "Não cometer assassinatos"!

Ernani estava trêmulo. Será que havia algo de que ele não tivesse medo?

— Ernani, acalme-se. Vou apenas lhe fazer duas ou três perguntas.

— Tudo bem.

— Antes de qualquer coisa, conte-nos como foi aquele passeio no qual você acompanhou Ema e Carlos.

O relato de Ernani bateu em tudo com o de Ema.

— Quando Ema pegou o osso de baleia e brincou, ameaçando o marido, ela usava luvas?

— Como lhe disse antes, não usava. Ela esqueceu as luvas aqui dentro.

— Naquela noite, quando viu o corpo de Carlos deitado no chão, você disse algo como: "O que ele faz com o paletó do almirante".

— Não, eu não disse com essas palavras. Eu falei: "Quem é ele? E o que faz com a jaqueta do almirante"?

— E como sabia que era o jaquetão do almirante?

Ernani ficou lívido:

— Foi pura força de expressão. Vi que era o jaquetão de um almirante, digo, de um contra-almirante, pelas divisas, nos punhos. Mas não quis dizer que era "do almirante" e sim "de um almirante".

"E usei "almirante" e não "contra-almirante", por uma questão da linguagem verbal, que permite usar apenas "almirante", para os oficiais da Armada.

O almirante dirigiu-me uma expressão facial de concordância, como a dizer: "Está correto". Continuei:

— Conhece tão bem assim as insígnias das patentes militares, para reconhecê-las num relance de vista?

— Da Marinha sim, pois servi na Marinha por mais de um ano, após a época do alistamento militar obrigatório.

Peguei um livro na estante que folheara noutra hora. Abri em uma página com divisas da Marinha:

— Saberia me dizer qual é esta?

— Capitão-de-fragata!

— E esta?

— Capitão-de-corveta!

— E essa última, aqui?

— Delegado, é uma pegadinha? Essa é fácil: contra-almirante!

— Ótimo. Não tenho mais perguntas. Escreva, neste papel, todos os seus dados pessoais.

Entreguei-lhe papel e lápis. Em menos de um minuto, Ernani estava dispensado.

O almirante estava surpreso:

— Tu é cheio de artimanhas! Boa ideia a de pedir para ele identificar as patentes... Mas, por que o interrogaste tão rápido? Para Ema, tu fez várias perguntas. Para ele, praticamente só pediu para anotar os dados num papel...

Tive que revelar um artifício:

— Almirante, no caso dela, eu precisava saber se ela responderia com firmeza, sobre si mesma, entende?

— Não.

— Passou-me pela cabeça, embora não tenha externado, que ela pudesse ser uma impostora. Apresentou-se como Ema Arantes, mas, na orelha do livro, uma foto, embora de quinze anos atrás, diz ser ela Patrícia Rocha. Muito mais provável que Patrícia seja seu verdadeiro nome, pois está num livro publicado há muito tempo. Mas, podia ser um pseudônimo ou heterônimo. Foi um palpite. Aí, quis ver como ela se saía, se iria titubear, ao falar sobre sua vida pessoal. Ela, porém, foi muito firme, principalmente ao responder que Patrícia é sua irmã gêmea.

— E por que razão ela não seria Ema Arantes? — indagou H. Nunes.

— Ora, há tantas coisas estranhas acontecendo, uma a mais, não me surpreenderia... Encomendas polares, colecionadores chilenos, baguais alpinistas, vultos misteriosos, cantis jogados ao relento, fujões que não deixam pegadas na neve... Tem outra: todo policial é desconfiado por natureza.

H. Nunes riu:

— Bagual alpinista. Essa foi muito boa, Basílio.

— E não é? Até arrumou uma corda.

Inês propôs uma saída, para dirimir a dúvida sobre Patrícia e Ema:

— Basílio, não seria o caso de pedir a ela um documento com foto?

— Pensei em fazer isso, durante o depoimento, mas, a despeito do fato de que ela pode ter trazido um documento falsificado, eu não poderia presumir sua culpa. Estaria ferindo a lei e a ética. Não posso duvidar de sua idoneidade, durante um simples depoimento. Isso só seria permitido numa fase de "declaração judicial". Entretanto, se ela forneceu informações falsas, mais cedo ou mais tarde vamos ficar sabendo. É questão de tempo.

O almirante teceu-me um elogio:

— Apesar de matreiro, tu é muito correto! Meus cumprimentos! Mas, uma impostora? Já não será um exagero?

— Tudo é possível.

Bateram na porta duas vezes e adentrou um sargento:

— Com sua permissão, almirante.

— Sim?

— Encontramos o Humberto num dos refúgios, aquele mais próximo daqui.

— Ora, exatamente como suspeitou a Azevedo. Tragam-no.

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Enfim, Humberto foi encontrado e conduzido aos nossos investigadores. Finalmente, dará as explicações que almejamos há tempos saber. Mas, para conhecer seu relato, só indo em frente. Que tal?

*Registe seu voto e comentário. Grato.

Assassinato no Continente GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora