Ema sentou-se à minha frente. Sentia-me mais uma vez no departamento de investigações, como nos bons tempos. Inês já estava a postos. O almirante, ansioso, sentou-se à ponta da mesa. Comecei:
— Qual seu nome, profissão e idade?
— Ema Arantes Salgado, bióloga, 40 anos.
— Residência?
— São Paulo, capital.
— Como veio para a Antártida?
— O senhor não se lembra?
— Pediria que se limitasse apenas a responder às perguntas, sem fazer juízo de valor. Por favor, responda.
— Vim para cá no avião da FAB, o Hércules, ontem de manhã. Partimos de Punta Arenas às oito e meia.
— Veio com seu marido?
— Claro! E com o senhor e seu assistente.
— Peço que respeite a autoridade presente.
Olhei para o almirante, que apenas se limitou a balançar a cabeça, com ar grave. Continuei:
— E não se exalte. Estamos apenas tomando seu depoimento.
— Tá certo! Pode continuar.
— Você chegou ontem, conosco, no avião da FAB, procedente de Punta Arenas. Gostaria que relatasse seus passos antes do embarque.
— Mas o que isso tem a ver com o crime?
— Crime? Alguém falou em crime, nesta sala?
— Ora, delegado...
— Por favor, responda à minha pergunta.
— Posso me recusar a responder, sabia?
Busquei o ensejo da colocação dela, para esclarecer algo aos presentes:
— Ema, estarei apenas tomando seu depoimento, pois você está diretamente envolvida na cena do crime, mas não se trata de um interrogatório. Você não é ré, vamos deixar claro. Não está sendo acusada de nada, pelo contrário, presume-se a sua inocência. Dentro de um inquérito policial, é tão somente uma fase de apuração preliminar. Mas, como haverá questionamentos delicados, você pode sim se recusar a responder, se quiser. Todavia, fique tranquila, caso opte por silenciar, não vou entender isso como "o direito a silêncio que é garantido a um investigado interrogado". Isso será devido apenas às circunstâncias peculiares deste caso.
Ela mostrou-se solícita, entendendo minha explicação e saindo da defensiva:
— Não, não! Eu faço questão de responder a tudo! Não devo nada. Não tenho nada a temer.
— Ok. Boa decisão. Retomando: quais foram os seus passos antes do embarque em Punta Arenas?
— Bem, eu embarquei no Professor Besnard, o navio da USP, há pouco mais de um mês. Foram duas semanas de viagem pelo mar entre o porto de Santos e o mar de Drake, com passagem pela Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. A viagem foi mais de testes, uma primeira etapa, por causa da reforma do navio e da instalação de novos equipamentos. Feito os testes, o Besnard aportou em Punta Arenas. Precisava repor os suprimentos e reabastecer o combustível.
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Assassinato no Continente Gelado
Mystery / Thriller🏆1º Lugar no Concurso Caneta de Ouro (Melhor Cenário) 🏆2º Lugar no Concurso Jane Austen 2022 (Romance) 🏆3º lugar no Prêmio UBE/Scortecci, 2005 (Romance). Estação Antártica Comandante Ferraz: uma nevasca e um crime! Dezoito pessoas incomunicá...