8 - Tira de Papel

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O almirante concentrou-se na lista:

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O almirante concentrou-se na lista:

— Item 5: "De quem é o cantil com as iniciais CEA". Essa é fácil.

Inês estava admirada:

— Sério?

O almirante sentiu-se autoconfiante:

CEA significa "Carlos Eduardo Aranha". Estou certo, Basílio?

— Nessa vou confiar em ti. Eles se apresentaram a nós, ontem, em Punta Arenas, mas eu estava tão amedrontado com o porte do Hércules, que nem me lembro o que disseram... Como vê, nem sempre sou tão atento assim.

O almirante deu uma gargalhada:

— Tu é tri legal, se fazendo passar por bobo, mas duvido que não ouviu o nome dele. Enfim, eu tinha uma ficha, comigo. Fixei bem os nomes. Carlos Eduardo Aranha e Ema Arantes. Na hora que a capitã trouxe o cantil, eu estava com sono, nem reparei no que tu disse sobre as iniciais.

Confirmei a ideia, lembrando-me de um fato:

— É dele mesmo! Eu o vi com esse cantil na mão, quando entrou no piano-bar com Ema, lá no Magallanes. Ele tomou um gole. O senhor não viu, porque chegou depois.

— Ah! — exclamou O almirante. — E não é atento? Imagina se fosse.

Voltei-me para Inês:

— Inês, acho que você pode responder à questão de número 4.

— Posso? Como?

Passei a ela um par de luvas cirúrgicas:

— Coloque as luvas... É bom tomar cuidado, nossa investigação é oficiosa. É prudente não destruir provas. Abra a agenda do Carlos no dia 10 de janeiro. Leia em voz alta.

Inês fez o que solicitei e falou, gravemente:

"Verificar P, R: 306.320, 308.810, 306.820, 306.309. EI-AC-1-1-10de". Hum... Já sei! São os números das medidas de sextante do Peary, anotadas numa tira de papel, quando atingiu o "topo do mundo". The Peary's chronometers, analisadas por Rawlins e tomadas a 180 km do polo geográfico verdadeiro.

O almirante admirou-se:

— Robert Peary?

Inês foi enfática:

— Isso! Ontem mesmo eu lhes mostrei a foto desse papel no meu livro. Vamos confirmar? O livro ainda está aqui, na minha bolsa.

Abriu-a e, com destreza, rapidamente encontrou a página que queríamos ver. A foto da tira indicava os mesmos números anotados por Carlos. Comentei:

— Posso deduzir, então, que "Verificar P, R" quer dizer "Verificar Peary, Robert"? A julgar pelos números na sequência, que conferem com o que está no livro, nenhuma dúvida, certo?

Aquiesceram positivamente. Indaguei:

— E o que significa "EI-AC-1-1-10de"?

Inês e o almirante me encararam, curiosos, aguardando alguma teoria a respeito. Respondi:

— Essa, eu passo. Ainda não faço ideia! Porém, existe um valor, em dólares, na linha abaixo, cinquenta mil. Será que tem relação? Inês?

Ela pensou um pouco:

— Não consigo atinar...

Ajudei-a:

— Estive pensando sobre o que você disse ontem à tarde, na sala de estar... Que a tira foi furtada de um museu dos Estados Unidos...

Ela teve um lampejo:

— Ah! Sim! Roubada do Arquivo Nacional dos EUA... Está supondo que esse é o valor da encomenda? Pela tira? Carlos iria receber $50.000 para entregar a tira ao tal colecionador chileno?

O almirante desdenhou, em bom gauchês:

Bah! Besteira. Tudo balela!

— O quê, é balela? A história do roubo ou a história do colecionador? — indaguei.

— Tudo! Até pode ter havido um roubo, sei lá, mas a mando de um colecionador? Para o Carlos Eduardo pegar aqui? Bem capaz! E quem iria se interessar por isso?

Inês fez um aparte, como sempre enriquecedor:

— Os psicanalistas dizem que o colecionismo pode ser uma patologia. Claro que estão se referindo aos acumuladores, aquelas pessoas que juntam até lixo, dentro de casa, não exatamente a quem tenha uma coleção de revistas ou, no caso, suvenires históricos. De qualquer forma...

Ficava intrigado com os apartes tão aprofundados de Inês. Era muito culta. Eu, por minha vez, fiz uma inserção mais objetiva:

— De qualquer forma, por que alguém furtaria tais coisas, se não fosse para vender a um colecionador?

Olhei novamente as anotações:

— Pergunto-me novamente, por que Carlos fez essas anotações e por que coincidem justamente com o dia de sua viagem para cá? O que Carlos tem a ver com tudo isso? Ou ainda, o que Robert Peary e suas medidas de sextante têm a ver com a morte dele?

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Eu bem que sabia, não falei? Que essa "tira de Peary" ainda ia entrar na história, numa conexão inusitada entre o polo sul e o polo norte. Inusitada, porém, não menos gelada. Já sabíamos que Carlos havia pego a tira, isso só é novidade para nossos personagens. Mas agora, eu, Dárcio, quero saber: quem encomendou isso ao Carlos?

*Peço  o registro de seu voto e comentário. Grato.

Assassinato no Continente GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora