No começo da tarde fomos ao centro da cidade e almoçamos filé de frango à milanesa e carne assada, com purê de batatas e arroz, tudo a título de economia. Aproveitei que Regina e Clara tinham ido ao toalete e sorvi, rapidamente, um copo de cerveja chilena que Jairo pedira. Não deixei que ela visse, senão, qual seria o acordo agora, conhecer o polo sul geográfico? Naquela região, porém, com o que não se podia economizar era com os protetores solares, cremes, chapéus e óculos escuros, tudo devido aos raios ultravioleta, altamente nocivos em qualquer parte do mundo, mas ali intensificados pelo buraco na camada de ozônio, uma arma praticamente sobre nossas cabeças.
A preocupação das mulheres, no entanto, era ir logo visitar a Zona Franca, que ficava a cinco quilômetros do centro da cidade, e que, segundo diziam, oferecia produtos a preços razoáveis. O câmbio era livre.
— Belo lugar, não é mesmo Basílio?
— Sem dúvida, Jairo. Apesar do frio.
— E olhe que só estamos no verão.
— Não quero nem pensar no inverno. Sabe, detesto lugares frios, mas o que não se faz para conseguir as coisas. Tudo por causa de um sítio no interior de São Paulo.
— Como assim?
— É uma longa história... Vou lhe contar. Você se lembra do conhaque?
Փ
Mais tarde, após adentrarmos o hotel Magallanes e pegarmos as chaves na recepção, Regina mostrou-se muito cansada e não aceitou meu convite para outro café no piano-bar. Liberou-me, não sem antes me fazer uma recomendação, fácil de imaginar:
— Não vá beber, hem? Lembre-se do teu coração!
— Querida, vai ser só um café!
— Sei! Como os dois conhaques de hoje cedo. E já teve a cerveja, na hora do almoço. Pensa que não vi? Basílio, você é muito inocente. Nem parece um delegado de polícia tão famoso.
— Fique tranquila!
— Hum... Quem não te conhece, que te compre.
— São férias, meu bem.
— Ok, libero duas taças de vinho.
Sorri. Dei-lhe um beijo, despedi-me do casal de amigos e segui sozinho para o aconchegante piano-bar. Havia uma pianista tocando "Insensatez", de Tom Jobim, com execução e interpretação primorosas.
Enquanto saboreava o café, ao som da excelente música, observei a chegada de uma bela mulher, loira, acompanhada de um rapaz mais jovem, abrançando-a e beijando-a, o que me fez sentir uma ponta de inveja. Sentaram-se próximos a mim.
E eis que a borboleta bateu suas asas. O ponto de inflexão, onde meu destino desviou-se na direção do continente gelado, surgiu, um segundo depois, bem na minha frente, tampando-me inclusive a visão da bela mulher. Tratava-se de um oficial da Marinha do Brasil, um contra-almirante. Postando-se em pé, entre mim e a beldade feminina, cumprimentou-me:
— Boa noite, senhor.
Já o tinha visto antes, a observar-me enquanto eu pegava as chaves no balcão da recepção. Estranhei o cumprimento, mas retribuí. Ele prosseguiu:
— Ouvi tua esposa dizer... Era tua esposa, não?
— Sim, era. Regina, minha mulher.
— A ouvi chamá-lo de "delegado Basílio", estou certo?
— Sim, está!
O sotaque gaúcho do almirante revelava sua origem:
— Bah! Tu é o famoso delegado Basílio de Almeida?
— Sou, mas o famoso pode ficar na tua conta, ok?
— Claro! Mas permita que eu me apresente. Sou o contra-almirante Henrique Nunes, ao teu dispor. É um prazer.
Estendi-lhe a mão, olhando sua farda, onde estava bordado: H. Nunes. Ele indagou:
— Mas que ventos o trazem tão longe de casa?
Expliquei-lhe. Iniciamos, então, uma descontraída conversa, falando sobre vários assuntos.
Vez ou outra eu observava a mulher loira e o rapaz, próximos a nós. Bebericavam alguma coisa, buscando aproveitar o calor da lareira, muito embora, quem poderia sentir frio, com aqueles calorosos beijos que estavam trocando?
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Opa! Olha aí, a tal da borboleta de novo! Ela aparece muito pouco, quase nada, mas quando aparece, muda toda a trajetória da história. Ou será o destino? Vamos continuar e saber para onde, o nosso pequeno inseto enviará agora o nosso delegado?
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Assassinato no Continente Gelado
Mystery / Thriller🏆1º Lugar no Concurso Caneta de Ouro (Melhor Cenário) 🏆2º Lugar no Concurso Jane Austen 2022 (Romance) 🏆3º lugar no Prêmio UBE/Scortecci, 2005 (Romance). Estação Antártica Comandante Ferraz: uma nevasca e um crime! Dezoito pessoas incomunicá...