2 - Cavalo Selvagem

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— Almirante, pode liberar os quartos dessa área, a turma precisa dormir, mas preserve o local do crime

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— Almirante, pode liberar os quartos dessa área, a turma precisa dormir, mas preserve o local do crime. Mantenha a porta trancada e aloje Ema em outro dormitório, por favor.

Nisto, o almirante bateu a mão na testa, como a lembrar de algo:

Bah, tchê! Esquecemos do Humberto.

— Humberto?

— Aquele bagual que arrumou confusão na reunião do auditório, ontem de manhã. O que mandei confinar no alojamento.

O almirante definiu-o com uma palavra para mim, até então, desconhecida. Devolvi:

— Bagual?

Cavalo selvagem...

O cabo Gerson, que fora encarregado de vigiar Humberto e dar-lhe apoio no confinamento — levar-lhe comida, escoltá-lo até o banheiro, etc., foi convocado. Cardoso, que havia voltado com o material solicitado para a minha perícia, mostrando-se tão eficiente quanto o Madeira, nos velhos e bons tempos de departamento, a pedido do almirante, deu meia volta e foi chamar o cabo. Ao chegar, Gerson fez o sinal de continência, que foi retribuído pelo almirante. Segundo informou, tinha vistoriado o quarto às 22h00, quando levara um lanche para o confinado. Acompanhou-o ao banheiro e depois que Humberto voltou ao quarto, trancou-o novamente. Estava prevista nova ronda apenas às sete da manhã. O silêncio de Humberto preocupou-me:

— Com toda essa confusão, ele não falou um "a"?

O almirante ordenou:

— Gerson, abra a porta, imediatamente.

— Sim, senhor.

O dormitório dele posicionava-se diametralmente oposto ao meu, com a porta do outro lado do corredor. Quando o abrimos, logo entendemos o motivo do silêncio: o quarto estava vazio! O almirante ficou bravo:

— Cabo Gerson, como tu explica isso?

O cabo estava totalmente desconcertado:

— Não sei, senhor.

— Como, não sabe? Onde está o Humberto?

— Não sei, senhor. Estive aqui às vinte e duas horas. Ele estava aqui e o dormitório trancado. A chave está comigo, não tinha como ele ter saído. Não consigo entender.

O almirante estava possesso:

— Mas então alguém veio aqui e o soltou!

Gerson ponderou:

— Creio que não, senhor. Só existe essa chave.

Mostrou-lhe a chave, erguendo a mão. Tendo examinado o quarto rapidamente com o olhar, logo vislumbrei a solução do mistério. Apontei para o alto, no meio do dormitório:

— Foi por ali que ele saiu.

Havia um alçapão no teto, dimensões de 80 x 80 centímetros. Gerson nos explicou que alguns locais possuíam aquelas saídas de emergência superior. O almirante estava admirado:

— Mas como? Por acaso é o Homem-Aranha?

Gerson pensou numa piada, mas que não cabia externar sob pena de detenção, tendo em vista o mau humor do almirante: "Nunca vi o Homem-Aranha e o Humberto juntos, é bem possível".

O almirante pediu a Gerson que buscasse uma escada portátil. Assim que realizada a ordem, solicitou que Gerson posicionasse a escada sob o alçapão e o inspecionasse. Ele informou:

— Está destrancado.

Cofiei o bigode:

— O quarto trancado por fora. Ele não tinha uma escada. O único móvel que ele poderia ter subido, para alcançar o alçapão, é a mesa, mas ela está encostada na parede, longe da saída.

"Será que ele não fugiu pelo alçapão? Será que alguém abriu a porta para ele? Quem? E para onde ele foi? Acho que temos outro novelo a desenrolar aqui.

O almirante estava angustiado:

— Mais um!

E nisso, ordenou:

— Chamem a capitã Azevedo.

Azevedo apareceu algum tempo depois. O almirante bufou e suspirou, girando a cabeça sobre o pescoço em várias direções, com o intuito de dirimir a tensão:

— Capitã, há como ir atrás do Humberto?

— Agora não, senhor! Mas ele não irá longe!

— E por quê?

— Se o cabo o viu às vinte e duas horas, faz pouco tempo que saiu. Com essa tempestade, não poderá ir longe.

— E onde se abrigará? — indaguei.

A capitã esclareceu:

— Existem alguns refúgios espalhados pela ilha, para abrigar pesquisadores, quando ficam longe da estação. Tem um não muito longe daqui. Humberto conhece o lugar. Nos refúgios, existem agasalhos e mantas. Com essa tempestade, só pode estar nesse refúgio. Porém, não há como verificar isso agora. Quero dizer, até poderíamos ir atrás dele, mas seria um risco desnecessário, enfrentar a tempestade. Não nos preocupemos. Ele estará tão confinado lá, quanto nós aqui.

Alisei meu bigode:

— Cabo Gerson, depois das 22h00, alguém mais esteve no alojamento?

— Não, senhor! Estou com a chave da porta e, até prova em contrário, só existe essa chave que está em meu poder. Posso lhe garantir que ninguém mais teve acesso à chave, além de mim.

Percebi que o cabo parecia postar-se na defensiva. Tranquilizei-o:

— Confio em você, mas vamos dar uma olhada nos armários...

Verificando os armários, percebemos que os pertences e roupas de Humberto continuavam no lugar. Se havia levado algo, teria sido pouca coisa, talvez apenas a roupa do corpo, o que, no entanto, já seria um grande peso. Notei, também, que tudo, no dormitório, encontrava-se limpo e organizado, principalmente o chão, sem sinais de água ou terra.

Voltei minha atenção para a capitã Azevedo — que era uma mulher de belos traços, olhos cor de avelã, a quem o uniforme e o corte de cabelo baixo, davam um ar de aparente masculinidade. Os óculos de grau escondiam um belo olhar. Perguntei:

— Alguma novidade, sobre as diligências externas?

— Ainda não, delegado.

— Obrigado. Bem... Está na hora de eu dar uma de investigador forense. Vamos à perícia. Com licença... Lady... Gentlemen...

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Onde estará o doidivanas do Humberto? E como se sairá o delegado, nessa perícia técnica? Vamos prosseguir e conferir?

*Registe seu voto e comentário. Grato.

Assassinato no Continente GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora