19 - Inferno Gelado

50 16 13
                                    


Eu devia estar morto! Sentia um frio terrível em minha face

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu devia estar morto! Sentia um frio terrível em minha face. Uma dor tremenda na cabeça. Água e poeira entravam em minha boca. O que estaria acontecendo, meu Deus? Onde eu estava? Prostrado naquela situação, sem poder me mexer, nem enxergar, sem saber o que ocorria. Passada uma eternidade, pensei ter ouvido ruídos, estalar de madeiras e, em seguida, divisava movimento de pessoas e rostos ao longe. Ouvia vozes, mas não as compreendia. Senti-me sendo levantado e atirado em algo, em seguida, transportado... Transportado para onde? Um vento gelado batia no meu rosto, nesse caminho sem fim e sacolejante. Teria, enfim, acordado em meio à neve, que invadira o meu alojamento? Teria morrido?

— Basílio...

— Regina é você?

Eu ouvia uma voz feminina, que insistia:

— Basílio...

— Hã? O que foi? Estou morto? Que frio miserável é esse? O inferno então é frio, como disse a Inês? "Gelado e escuro"?

— Basílio, sou eu!

— Regina, é você?

— Foi tudo um pesadelo, mas já passou! Acalme-se!

— Um pesadelo? Onde estou? Em São Paulo? Na minha cama? No Ibirapuera? Tudo um sonho, um terrível sonho? Nossa! Sonhei que estava na Antártida... Graças a Deus, estou em casa!

Aos poucos, fui recobrando os sentidos e logo entendi a situação. Sentada à minha frente estava Inês, que disse:

— Não, Basílio. Você não está em São Paulo e nem morreu. Continua na EACF. Está na enfermaria.

Enfim, despertei por completo:

— O que aconteceu?

— Um pedaço do teto da estação inglesa desabou e caiu na sua cabeça. Você desmaiou. Corri até aqui, para chamar ajuda. Sinto ter te deixado lá por tanto tempo, mas não houve alternativa. Fomos o mais rápido possível e te trouxemos numa maca, aqui para a enfermaria...

— Puxa! Obrigado.

Tentei erguer o corpo, mas não consegui. Logo observei a presença de outra pessoa na sala. Era o médico da estação, o capitão Cardoso:

— Calma! Você teve uma concussão leve, mas é sempre preocupante. Felizmente, não parece ter sido grave. Vai precisar de uma tomografia, mas não temos esse recurso aqui. Agora, só em Punta Arenas.

Vi quando o almirante entrou na sala:

— Barbaridade, tchê! Acordaste? Que bom, meu amigo. Estive muito preocupado com tua saúde. Sente-se bem?

Passei a mão na cabeça e percebi um enorme galo, muito dolorido:

— Minha cabeça dói...

Ele brincou, como sempre:

— Ainda bem que tu é cabeça dura, hã?

Dei uma risada, mas bem fraquinha. O almirante ainda disse:

— Falando sério, tu é bastante guapo, mas agora precisa se cuidar.

Sentia-me com frio e, provavelmente, resfriado. Cardoso pediu-me que ficasse quieto e descansasse.

Փ

Adormeci, com a medicação. E passei a noite ali, na enfermaria. Bem desconfortável, mas nada mais revitalizador do que uma noite de sono. No dia seguinte, sentia-me bem melhor. O capitão Cardoso chegou às sete horas e deu-me boas notícias:

— Já está liberado o tráfego aéreo. Finalmente!

— Que ótimo!

— Consegue sentar-se?

Sem muito esforço, mas com a ajuda dele, sentei-me na maca. Ele perguntou:

— Está se sentindo bem? Alguma tontura?

— Um pouco de vertigem, mas bem pouco. Preciso tomar meu comprimido para pressão alta.

— Não se preocupe, verificamos que sua pressão sanguínea estava um pouco elevada e já o medicamos. Consegue ficar em pé?

Verifiquei que sim. Sentia-me bem. Cardoso pediu a um sargento para me acompanhar ao toalete, em seguida, ao quarto. Tomei o restante de meus medicamentos para o coração, fiz as abluções matinais e troquei-me. Em seguida, dirigi-me ao refeitório, para o café. Fiquei surpreso com os aplausos e felicitações que recebi. Inês puxou uma cadeira para mim:

— Delegado Basílio, mil perdões por ter te levado naquela estação. Bem que o senhor disse que era perigoso.

Pisquei-lhe o olho direito, como a agradecer,mas também a dizer que não diria nada ainda sobre a nossa conversa, a respeito dos apontamentos de Peary. Mas, sobre Patrícia Rocha, precisava falar com o almirante, com urgência e buscar tentar desmascará-la de vez.

---------
Parece que finalmente a casa de Patrícia caiu. Mas, talvez, venha a ser sua libertação, quem sabe? Vamos conferir?

*Peço seu voto e comentário. Grato.

Assassinato no Continente GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora