4 - Jaquetão Azul

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EACF, 11 de janeiro de 2011, 2h30

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EACF, 11 de janeiro de 2011, 2h30...

... Olhei o relógio e vi que já eram quase duas e meia, alta madrugada. Comentei com o almirante que precisava dormir. Ele também confessou sua exaustão. Sentados no refeitório, tomando um café, ele comentou:

— Tu realizou sua perícia e o Cardoso já examinou o corpo. O presunto já está na geladeira...

O almirante, às vezes, esquecia sua condição de líder e desandava a falar em gírias. Por vezes, perdia a linha. Perguntei:

— E as diligências no lado externo da estação?

— Atrasaram um pouco. Mas já devem ter terminado. Bem, todas as providências já foram tomadas. Dormimos até umas dez, onze horas e continuamos depois do almoço?

— Pra mim, está ótimo. Mas vamos mesmo prosseguir? Com o inquérito, digo.

— E por que não? Estamos isolados, sem rádio e sem transporte. Ao menos, passamos o tempo. Confesso que está sendo um prazer acompanhar a tua atuação. Algo que jamais imaginei, participar de uma investigação de morte.

Falando em rádio, o equipamento pifara pouco antes da hora do crime, não tendo sido possível avisar a ninguém dos acontecimentos. Para consertar, era necessário trocar uma placa que somente em Presidente Frei conseguiríamos obter. Sobre essa placa, algo estranho: havia a informação de haver uma peça sobressalente no estoque, mas não a encontraram, o que foi motivo de mais um chilique da parte do almirante. Sem helicóptero e sem rádio, julgaram ser melhor não empreender uma viagem a pé, por 60 km e em meio a uma tempestade, sem que houvesse estrita necessidade. Por ora, tudo estava sob controle, mas, a verdade, é que estávamos isolados, sem poder contatar ninguém e com a neve já chegando ao pescoço.

Por sorte, eu conseguira enviar um recado a Regina, antes da tempestade efetivamente chegar, isso por volta de 12h20 do dia anterior, avisando que era provável termos de ficar mais tempo do que o previsto. Ainda bem que o almirante precisara se comunicar com Punta Arenas. Além de uma mensagem a uma "sobrinha", que o aguardava em sua residência, na cidade chilena (e suspeitei que talvez não fosse exatamente uma 'sobrinha'), havia questões relativas à base, como a substituição do chefe da estação, mas, principalmente, os medicamentos que estavam sendo enviados para a EACF. Ele solicitou a um cabo, da base militar, para ligar no hotel e avisar Regina. Preocupado com as despesas do hotel, o almirante acalmou-me:

— Fique tranquilo, Basílio. Tu já mandou um recado para sua esposa, ela sabe que você está em segurança. Outra coisa: não esquente a cabeça com despesas, faço questão de que toda a estadia subsequente, até que tu volte ao Chile, corra por minha conta, ok?

Opus, cavalheirescamente, certa resistência à ideia, mas logo aceitei, uma vez que minhas verbas já não estavam lá tão favoráveis assim.

Voltando à "mesa de bar", parafraseando o título do livro de um amigo, Caio Porfírio Carneiro, enquanto pensava sobre várias questões, Inês Silveira entrou no refeitório:

Assassinato no Continente GeladoOnde histórias criam vida. Descubra agora