São Paulo, 12 de dezembro de 2010, 13h30 (29 dias e 9 horas antes)...
... Carlos Eduardo havia-se sentado desajeitadamente, chegando esbaforido da rua. Patrícia já o esperava, ajeitando seus cabelos encaracolados, madeixas negras que deixavam o biólogo maluco. Prendia-os acima da nuca, deixando à mostra o pescoço moreno.
O que ele mais gostava nela eram aqueles fios de cabelo, presos numa ponta à nuca e na outra, ao rabo de cavalo, esticando-se num perigoso e sedutor caminho. Gostava de beijar seu pescoço, seguindo pela espinha dorsal, até chegar àqueles fiozinhos, os quais cheirava profundamente, sentindo o aroma do delicioso sabonete com o qual ela se banhava todas as manhãs. Tudo nela era maravilhoso, mas não havia nada igual àquela região de seu corpo. Normalmente ela se arrepiava e levantava ligeiramente os ombros, afastando-os para trás. Isso a deixava excitada, mas o ponto fraco dela eram os seios. Quem os acariciasse teria rapidamente uma serva fiel, prostrada e entregue. Por isso ela os protegia bem, evitando perder a razão em momentos inoportunos.
Patrícia era prática e como toda mulher que gostasse de ver os homens a seus pés, fazia-se forte, aparentemente insensível a qualquer toque em suas zonas erógenas, salvo naquele específico. Continha-se, para não demonstrar nada além de arrepios, pois estes eram impossíveis de evitar, e assim procedendo, punha Carlos Eduardo de quatro. Era um verdadeiro cachorrinho, a quem ela chamava e ordenava o que quisesse, desde que ele não tocasse seus mamilos. Carlos não era um sujeito muito inteligente, nem sempre acompanhava o raciocínio dela. Na cama, todavia, era difícil acompanhá-lo.
Patrícia o abordou, com seriedade:
— Precisamos conversar sobre o futuro... Carlos, por favor! Pare de enfiar o pé no meio das minhas pernas. Calce esse bendito sapato de volta, pelo amor de Deus. Você parece um tarado.
— Tarado por você. É que não resisto. O restaurante está vazio. Ninguém está vendo.
— Isso é o que você pensa. Você anda meio cego, não enxerga nada à sua volta.
— Cego de paixão!
— Deixa a paixão de lado. Teremos muito tempo para fazer o que você quer, mas depois. Somente depois.
— O que eu quero? Ora, você também não quer?
— Claro que quero! Mas depois, está bem?
Ele bufou:
— Tá bom!
Ficou um tempo em silêncio. Depois falou:
— Sabe, Patrícia, estive pensando... Você é uma boa escritora, mas seus livros precisam de mais sexo... Nada desse negócio de policial e investigação. Isso não vende!
— Meus livros não possuem sexo? Bem se vê que você não leu nada do que já escrevi. E ainda mais: desconhece por completo o que seja o estilo noir... Mas minhas histórias não estão em questão agora, pois você sabe muito bem o motivo desse nosso encontro.
— É, eu sei. Mas o que você quer está fora de cogitação.
Patrícia foi enfática:
— Fora de cogitação? Tudo bem, se você não quer se separar da sua mulher, tudo bem. Não está mais aqui quem falou. A conversa termina aqui.
Ela se levantou, mas Carlos segurou seu braço:
— Ei, espere aí! Não vá embora não. Precisamos conversar.
— Não temos mais o que conversar. Não sou mulher de dividir homem com ninguém. Não quero ser a outra, vivendo das migalhas que caem da mesa da Dra. Ema Arantes...
Ele puxou o braço dela mais um pouco:
— Quanto drama! Nem parece a Patrícia que conheço. Sente-se, vai! Não vá embora. Fique mais um pouco. Eu te amo!
— Ama? Ama coisa nenhuma.
— Tá, mas sente aí, por favor.
Ela cedeu e sentou-se, sem, porém, dar esperanças a Carlos:
— Eu fico mais um pouco, mas não tenho mais o que conversar. Já lhe informei minha condição.
— Pô, você sabe que é difícil pra mim.
— Ah, eu sei, claro que sei. A Ema tem dinheiro, não é? E eu vivo na pindura. Você tem vida de rei, pra não dizer outra coisa — uma palavrinha que começa com "gi" e termina com "lô". Sei bem o quanto é difícil largar tudo isso.
Ela voltou o rosto para a rua, pensativa, depois voltou à carga:
— Muito cômodo pra você, não acha? Ficar com a Ema e com o dinheiro dela e nas horas vagas transar comigo. Satisfaz às suas necessidades de garanhão? Mas mulher nenhuma gosta disso. Pelo menos, não mulheres como eu.
— Achei que você gostasse desse jogo.
— No início, sim, mas cansei.
Carlos bufou:
— Vejo que não há como contornar a situação.
— Do jeito que você quer, não mesmo! Você quer ficar com as duas. Isso, não dá!
— Preciso de um tempo. Ela já anda desconfiada, estamos brigando o tempo todo. Eu já não estou mesmo me entendendo muito bem com Ema. É uma questão de tempo. Vou me separar e ficamos juntos.
Patrícia sorriu, um lindo sorriso:
— Todo homem fala a mesma coisa, mas já diz a Filosofia: "Todos os homens são iguais". Pra quê, um tempo? Ora, se é pra se separar, se separe logo.
— Não quero magoar a Ema.
— Ah, Carlos. Poupe-me!
Mais uma vez Patrícia desviou o olhar para a rua e, sem fitar o rosto de Carlos Eduardo, arrematou:
— Bem, chega dessa conversa.
Ela ameaçou levantar-se novamente. Carlos, numa atitude extrema, estendeu a mão em direção à sua blusa, procurando alcançar os seios médios e pontiagudos, que a fina seda e a ausência do sutiã deixavam evidenciados. Eram irresistíveis! Ela recuou, ligeira, segurando em seguida o braço do amante:
— Nem se atreva, viu, espertinho. Golpe baixo, não!
— Se todo crime tem sua falha, toda mulher tem um ponto fraco.
— E todo homem também. Deixa eu contar para os seus amigos onde é o teu!
— Pelo amor de Deus, Patrícia. Isso não! Isso é um segredo de Estado.
— Então se comporte e pense no que vai fazer. Só uma pergunta: quando você viaja para Punta Arenas?
— Daqui a quinze dias. Ema já foi, faz seis dias.
— Hum... Você terá bastante tempo para pensar.
Carlos arregalou os olhos:
— Como assim, pensar? São duas semanas... Vai ser ótimo, não? Que tal pensar juntos?
— Juntos? Juntos uma ova! Você não vai ver a minha cara tão cedo, meu lindo.
Patrícia levantou-se e rapidamente seguiu na direção da porta, porém, antes de sair, voltou-se e despediu-se com um sensual mover dos lábios:
— Beijinho beijinho, tchau tchau!
— Mas...
De forma altiva, Patrícia foi embora. Tal qual o personagem bíblico Ló, sem olhar para trás. Deixou Carlos ali feito estátua, com sede e sem poder beber na fonte.
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Apresentado nosso casal de protagonistas, Carlos Eduardo e Patrícia, o que será que esses dois irão aprontar?
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Assassinato no Continente Gelado
Mystery / Thriller🏆1º Lugar no Concurso Caneta de Ouro (Melhor Cenário) 🏆2º Lugar no Concurso Jane Austen 2022 (Romance) 🏆3º lugar no Prêmio UBE/Scortecci, 2005 (Romance). Estação Antártica Comandante Ferraz: uma nevasca e um crime! Dezoito pessoas incomunicá...