Fúria
O ódio mortal que abraça os sentidos das pessoas e as faz agir por impulso. Bem, é assim que me sinto, exceto pelo autocontrole do qual não posso abrir mão. E, neste exato momento, estou em frente ao maior filho da puta dos últimos dias; Richard Clark.
Eu estava observando minha mulher colocar os sapatos em Maya, gesto desnecessário, reitero, quando recebi uma ligação do meu agente financeiro. O cara deveria estar em Nova Iorque, cuidado da parcela do meu dinheiro que lhe cabe. Mas, em vez disso, está diante de mim, tentando explicar uma queda súbita na bolsa de valores.
-“eu sei que é muito dinheiro, mas as ações estão caindo” ele diz, simplesmente, como se eu fosse leigo.
-“se as ações estivessem como você descreve, eu estaria falido” murmuro em tom baixo.
Clark se encolhe em sua cadeira, mas logo se recompõe. A verdade é que ele me roubou alguns milhares, tecnicamente indiferentes para minha conta bancária. Mas ele não contou com minhas observações sobre a porra do seu trabalho.
-“bem, eu lamento...”
-“não fode comigo, Clark.” O interrompo.
Me levanto de trás da mesa de mogno e circulo o espaço até ficar próximo dele. Me inclino sobre a madeira bruta e vejo a preocupação em seus olhos verdes sob o óculos arredondado. Parece apenas um idiota vestindo camisa xadrez, mas foi capaz de me roubar durante alguns meses.
-“eu não estou entendendo” ele parte para a defensiva.
-“você tem um mês para reaver tudo que está faltando nos meus cofres. E estou certo de que todo esse dinheiro está em sua conta” digo, de maneira calma e sutil.
Não estou preocupado com o dinheiro, em si, mas sim com a lealdade que perdi. Depois de tudo, confiar nas pessoas é um sacrifício. E para que minha filha possa crescer em um mundo com menos fodidos, preciso corrigir alguns erros que eles cometem. Ela estará no meu lugar em alguns anos, afinal.
-“não posso garantir que...”
-“um mês, Clark, e nada mais. Estou sendo muito generoso em não cogitar a ideia de destruir você”
-“me destruir?”
Richard parece precisar de um momento para assimilar o que lhe disse. Ignoro sua pergunta. Me aproximo mais dele, de maneira inquisitorial e ofensiva.
-“você está fora da porra da minha empresa, mas sua dívida continua viva. E pode apostar sua vida que ela será paga” garanto. Vejo ele engolir em seco, e sua única resposta é um aceno de cabeça.
É por isso que trabalho com tantas pessoas, em tantos lugares. Preciso ter certeza de que não serei surpreendido por ratos como Clark.
Me alinho novamente e afasto-me. Posso ver o homem arrumando sua bolsa e guardando os papéis que trouxe consigo. Papéis esses que ele me empurrou, jurando que encobririam seus roubos.
Neste momento, duas batidas seguidas na porta me alertam. Taylor está dentro do escritório, no canto costumeiro, mas Ryan está do lado de fora. Eu não seria incomodado por nada no mundo, não em uma conversa tão importante. A não ser, claro, por minha exuberante esposa.
E, como previsto, é ela quem entra na sala. Seu perfume invade o ambiente, mas é sua beleza jovial que cativa. Ela não precisa se esforçar para ser linda, e prova isso ao se abster de maquiagem e continuar bonita. Seu olhar me encontra primeiro, e ela sorri, depois olha para o homem se levantando e vejo a timidez cruzar seu rosto.
-“não sabia que ainda não havia terminado” Ana se desculpa.
Depois de todo esse tempo, ainda sinto meu coração bater forte toda vez que lhe vejo. Ela é como uma miragem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
50 Tons de Punição
ФанфикUma história não precisa de fatos, precisa de alguém que a conte. Nesta história, Christian e Anastasia Grey vivem suas vidas, enfrentando dificuldades de um casamento e interferências de velhos inimigos. Quem vos conta a história sou eu, com mudanç...