Novas amizades.

1.5K 113 8
                                    

Eu não havia pensado em combinações de roupas quando fiz minha mala. Certo que minha preocupação não era se Gucci e Prada combinam, mas agora percebo que escolhi tão aleatoriamente quanto poderia. Decidida a não fazer disso um problema, visto jeans escuro e camisa de malha. O clima ainda está frio, então opto por botas de cano longo. 

Meu cabelo está bonito, incrivelmente sedoso e brilhante, pelo menos não me fará perder tempo e paciência tentando arrumá-lo. 

Hoje o dia amanheceu como uma fênix, uma luz surgindo em meio às cinzas. A madrugada foi deprimente para mim, especialmente porque não consegui fechar os olhos antes das cinco. Acordei disposta a caminhar para espairecer e torcer para ter sono suficiente quando chegar. 

Pego meu casaco preto e saio do quarto. É estranho que precise de um casaco em Savannah, mas o dia está ruim demais para arriscar ficar com frio. Desço as escadas por volta de 07:30. Preciso sair e encontrar um motivo para não chorar. Não sei do que preciso, mas estou indo buscar. 

Não está chovendo, porém o chão está molhado com a garoa da madrugada e o céu cinza, espelhando meu humor. Aqui fora está bem mais frio do que eu pensei que estivesse. Isso é enervante. Saí de Seattle em busca de dias quentes e tardes de sol e tudo que encontro é uma frieza refletida no meu âmago. 

Caminho pela calçada por alguns metros. O bairro é pequeno e aconchegante, do tipo onde todos os vizinhos são amigos e fazem almoços beneficentes no domingo. Pelo que me lembro, nada mudou desde que morei aqui, ainda reconheço a casa de alguns vizinhos. 

Quando chego ao pequeno parque na beira do lago, me dou por convencida de que não irei encontrar um lugar melhor. Existem bancos espalhados aleatoriamente em alguns pontos do parque, árvores cobertas pelos chuviscos da madrugada, pessoas que, mesmo com o clima péssimo, estão sorrindo e brincando com seus filhos e animais.

Eu gostaria de ter trazido Christian aqui para mostrar um pouco de mim, do meu passado. Diria as brincadeiras que mais gostava, como era bom correr ao redor do lago, como o sol ilumina a água neste ponto. Seria uma boa lembrança para se ter. 

Sento-me em um banco distante de todas as atrações. Normalmente, as pessoas preferem sentar perto do lago, onde podem ver os cisnes nadando e jogar petiscos para os mesmos. Nenhum detalhe passa despercebido por mim, noto até os casais passeando de mãos dadas, alguns acompanhados por cães, outros não. 

Sinto as lágrimas não derramadas aquecerem meu rosto. Tudo me remete ao dia anterior, o último dia que o vi. Nós éramos um casal apaixonado, geralmente captando atenções também. Eu o amo mais do que à mim mesma, mais do que qualquer coisa no mundo, e nada do que ele faça ou com quem esteja irá mudar esse sentimento. 

-"oi" uma voz, talvez masculina, chama. Desvio os olhos do jovem casal e me viro para o indivíduo. O homem loiro está de pé à poucos centímetros de distância.

-"oi" respondo enquanto seco as lágrimas no meu rosto em uma tentativa desesperada de parecer normal.

-"oh, está tudo bem?" O desconhecido pergunta. Perspicaz, eu diria. 

-"Eu estava apenas pensando demais" forço um sorriso enfático. 

Ele é irrevogavelmente bonito. Olhos castanhos como folhas de outono, quase verdes, cabelo loiro puxado para o branco encaracolado, exatamente como definem os anjos. Seu cabelo é o que mais chama minha atenção, pois os fios são enrolado em cachos perfeitos. 

-"Eu sou David" ele se apresenta, logo em seguida faz menção para se sentar ao meu lado. Eu aceito com um aceno de cabeça. 

-"Eu sou Anastasia. Ana" encontro minha educação e digo. Todos aqui são geralmente tão próximos que David não se importa em conversar com uma estranha, ou compartilhar um banco na praça. 

50 Tons de PuniçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora