50 Tons de Punição

Eu preciso de mais

Fecho os olhos e respiro fundo tentando não enlouquecer com os pensamentos que me rondam. Não, Christian não me trairia, ele não faria isso comigo. Repito um mantra na minha cabeça, torcendo para que isso seja apenas uma armação que ele pode facilmente explicar.

Ouço o 'ding' do elevador e espero muito, muito que seja Charlotte indo embora. Não aguentaria abrir os olhos e ver que ela está aqui com seu olhar de preocupação evidente. Tendo pena de mim!

Volto a abrir os olhos antes que as lágrimas acumuladas caiam e façam meu ridículo papel parecer mais humilhante. Charlotte e Taylor não estão na sala, apenas eu, Christian e minha dignidade quebrada.

Ele mantém os olhos na caixa que eu ainda seguro. Mas, ao contrário do que eu espero, ele não diz sua explicação. Ele nem tenta se defender!

-"Ana" ele, pela milésima vez, chama. Então percebo que Christian não tem o que me dizer. Por isso Charlotte sempre estava no nosso apartamento, entrando e saindo como se esta fosse sua casa. Por isso Christian me taxou como ciumenta quando perguntei sobre ela. Ele estava me colocando como estúpida nessa merda de história!

-"Eu não faria isso com você" ele encontra sua voz. 

Ainda preciso de um segundo para processar tudo que li, ouvi e vi. Não é apenas o fato dela estar sempre aqui, é a sensação de ser traída que não posso suportar. Os segundos entre minha saída do elevador e o momento que ela me entregou essa maldita caixa permeiam minha mente. Como pude descer tão rápido em queda livre?

E então meu corpo finalmente encontra uma reação para tudo que vem suportando de maneira firme. Minhas pernas fraquejam e me traem. Caio de joelhos no chão como desejei ter feito quando Charlotte disse que estava transando com meu marido.

Minha garganta fecha, sufocando o ar dentro de mim. Tudo que faço conscientemente é deixar as gotículas salgadas rolar pelo meu rosto como cascatas de água.

-"Baby, não. Por favor" não sei calcular o tempo quando minha órbita parece estar parada, mas Christian é rápido ao se lançar de joelhos no chão à minha frente. Ele não me toca, sabe que não aceitaria suas mãos em mim agora. Minha cabeça está explodindo, latejando, e mesmo um suspiro poderia me fazer gritar de dor.

-"Acredite em mim. Eu…" ele começa, porém eu o interrompo no meio da sua frase. Chega de toda essa merda! Quantas vezes ele escondeu mentiras dizendo que queria me proteger? Quantas vezes eu acreditei no que me dizia para estarmos bem um com o outro?

-"Apenas diga-me como eu poderia, Christian? Não minta para mim, seja honesto e diga, apenas diga que você me traiu!" Grito já levantando-me. Não sei se seria menos difícil se ele dissesse que fodeu aquela mulher ou se iria destruir o resto de mim que ainda não morreu.

Ele imita meu movimento e se levanta. Tudo que um dia foi minha alma está no chão; sua aliança como nosso casamento, o cetim vermelho como todas as descobertas que o quarto de jogos significava para nós, sua boxer como o sexo baunilha que eu jurei ser suficiente, as flores como o marco da minha profissão e principalmente minhas esperanças de que a vida perfeita com Christian Grey poderia, de fato, ser perfeita.

-"Você está ouvindo exatamente o que quer, a verdade! Eu te amo, Ana. Eu não trocaria você por nenhuma qualidade de sexo com ela!" Sua voz é firme, mas quebra no final como se não pudesse fazer mais do que jogar meia dúzia de palavras nessa discussão.

E é sempre o que acontece. Christian está sempre dizendo coisas que quero ouvir, me fazendo acreditar que suas palavras são verdadeiras. E agora, como em todas as outras vezes, eu quero acreditar nele, principalmente quando estende a mão e seca minha bochecha com as costas dos dedos. A conexão que nós temos é sempre presente quando nos tocamos.