Capa de revista

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-"espaço" ela responde com a voz calma.

Levo alguns segundos para assimilar nossa proximidade com suas palavras.

-"isso quer dizer que não mudou de ideia" digo, afirmando. 

Ainda estamos conectados; suas mãos nos meus braços, minhas mãos em seu corpo. E não estou certo de que posso aguentar a distância.

-"O que eu preciso fazer? Só me diga o que fazer" peço.

-"não é você, Christian. Sou eu. Eu não me permito mais ser um tapete para seu temperamento" 

Ela leva a mão até meus lábios e desliza os dedos por eles, como uma despedida silenciosa.

-"não reduz a nossa história ao meu erro" sussurro. Não seria justo resumir tudo que tivemos à um maldito momento.

-"eu jamais faria isso. Mas veja tudo que me aconteceu desde que nos casamos. Jack, Elena, Charlotte…" Ana faz uma pausa para, talvez, digerir as lembranças.

-"essas pessoas não vão atingir você… não mais" garanto.

Eu prometi que isso não voltaria a acontecer. Fiz o possível e o inacreditável para que ela ficasse segura; o que falta para ela acreditar em mim?

-"Já atingiram, Christian. Bradley não fez o que fez por outro motivo se não a mando de alguém maior. A questão é que eu não aguento mais ser bombardeada pelos seus inimigos" 

Suas mãos se afastam lentamente de mim, dando essa conversa por encerrada. Ela permanece perto, mas não me toca, e eu não tento lhe aproximar.

Isso foi um basta.

-"E quanto ao que queríamos ser?" Faço uma última tentativa. Nossos olhos são chamas que queimam juntas, nunca se afastam.

-"o que queríamos ou o que você queria?" Ela rebate.

-"Ana, por favor"

-"eu queria ser uma família, Christian. Desde pequena, sempre quis uma família grande. Você nunca cogitou a hipótese de me possibilitar isso e agora...agora fala sobre o que queríamos?" Por mais que seu tom esteja baixo, sei que ela tem emoções suficientes para gritar.

-"o que queria que eu fizesse, Anastasia? Eu não estava pronto para dizer sim. E se eu fosse um pai de merda, você iria me culpar depois? Então, me diga, o que você queria?" 

-"queria que tivesse tentado" 

A tentativa é minha melhor chance? Sério?

-"minha mãe tentou. Ela realmente tentou, mas isso não amenizou em nada os traumas que eu tenho hoje" afirmo.

Que espécie de monstro tem um filho sabendo da sua incapacidade? 

-"seria diferente. Você sabe que seria diferente" seus lábios tremem e os olhos vermelhos lacrimejam conforme ela diz. E neste momento eu sei que a decepcionei mais uma vez.

-"Por que, Ana?" Passo por ela e me sento na cadeira onde estava antes. De repente esta conversa parece pesada demais para sustentar de pé. Porra!

-"Por que queria um filho comigo? Você sempre soube o que eu era" continuo.

-"Eu sempre soube que você é mais do que uma vítima, Christian. Aquela criança assustada não existe mais, então, por favor, pare de trazer seu passado para o presente; ele não te define mais" 

-"parece fácil dizer? Porque faz mais de vinte anos que essa merda é difícil pra caralho na prática" 

-"Bem…" ela limpa as lágrimas nos olhos de maneira brusca, depois toma uma respiração dura.

50 Tons de PuniçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora